ARTIGOS
É ou não é, ou, ou ou…
27 de maio de 2021, 15:34
*Por Gervásio Lima –
A mobilização para a chegada de benefícios se dá através da discussão política, mas para que isso aconteça, os políticos, sejam eles do Legislativo – que fiscalizam, propõem e indicam ações – ou do Executivo, que executam as sugestões, precisam ser provocados.
É fato que a política é parte importante para o rumo que a população almeja, mas o comportamento de determinados representantes assusta pela falta de experiência em gestão pública e relacionamento humano. Neste ano de 2021 iniciaram-se os mandatos de quatro anos de prefeitos e vereadores em todos os municípios brasileiros. Já se passaram praticamente cinco meses das novas gestões, período considerado muito curto para grandes realizações concretas, mas tempo suficiente para apresentações de propostas reais na garantia dois direitos e anseios dos municípes.
Quando se foge da verdade política, omitindo as fraquezas e até mesmo os crimes cometidos pelos que foram eleitos para representar a sociedade, comete-se um grande e às vezes irreparável erro. É preciso apresentar, portanto, de qualquer forma, as falhas daqueles que representam a população na esfera municipal, estadual e federal
O filósofo italiano Nicolau Maquiavel, reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, em razão de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser, sempre ressaltou que todo poder vem do povo. Em sua concepção, ‘para se manter no poder o soberano tem que acima de tudo estar em consonância com os anseios populares, porque o poder existe se os subordinados assim desejarem’. E assim aconteceu com inúmeros candidatos que concorreram à reeleição nas últimas eleições municipais. Quem não trabalhOU, enganOU e não agradOU, o povo retirOU. O que subestimou a importância das urnas, a força do voto e principalmente a importância do eleitor, literalmente se ferrOU.
A partir do momento em que se conhece o comportamento de determinados políticos, o senso seletivo do eleitor se emancipa e as escolhas na hora do voto podem acontecer com mais coerência e qualidade.
Para os novos administradores que acreditam que o poder é para sempre, vale lembrar que os mandatos têm prazo de validade e que muitas vezes acontece a atencipação deste prazo.
Aos que ainda não conseguiram acertar, continuem tentando, pois dias melhores ainda estão por vir.
*Jornalista e historiador
171 é o artigo da vez
06 de maio de 2021, 21:18
Foto: Reprodução
*Por Gervásio Lima –
Na gíria, uma “pessoa 171” é vista como alguém aproveitador, capaz de trair e enganar apenas para alcançar seus objetivos, sem se importar com as outras pessoas. No Código Penal, o Artigo 171 define como crime “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.
No dia a dia, em qualquer situação, seja no ambiente de trabalho, nas relações comerciais e principalmente na área política, é comum conhecer pessoas que buscam enganar alguém para tirar vantagens, principalmente no que se refere a dinheiro ou a posição social. Uma disputa de poder desenfreada, sem nenhum pudor ideológico, moral, familiar ou até mesmo religioso; neste último caso com o agravante de colocar Deus, o ente infinito e mais respeitado por cristãos e até mesmo por descrentes, como pano de fundo para justificar ou acobertar seus crimes.
A ganância é uma das principais características do estelionatário, um sentimento humano que difere de ambição. Segundo a literatura, o “homem ganancioso é um sujeito movido pelo poder e pela insanidade do ter tudo por vias que extrapola e ofusca o brilho da razão. Seu pensar canaliza todas as energias focando a qualquer preço ter a multiplicação de seus quase inexistentes bens, em patrimônios bilionários, através do sacrifício da sociedade”. Já o ambicioso é aquele que tem vontade e busca a todo custo alcançar certo objetivo, o indivíduo que demonstra cobiça. Ou seja, se trocar um pelo outro é, como diz o ditado, ‘trocar seis por meia dúzia’.
Nos momentos mais difíceis e carentes, quando a fragilidade emocional está mais aparente do que qualquer força espiritual, os denominados ‘santos das causas impossíveis’ aparecem, oferecendo uma gama de sugestões resolutivas e muitas vezes vantajosas com o objetivo de ludibriar suas vítimas e deixar um rastro de prejuízo financeiro e psicológico. Na verdade não passam de “lobos em pele de cordeiros”. Escondem as suas verdadeiras índoles maldosas, se passando por educadas, empáticas e até amigas. Fingem ajudar as pessoas ao seu redor,mas na realidade são más, perversas, egoístas e desonestas.
No Novo Testamento, uma parábola atribuída a Jesus Cristo, alerta: “Cuidado com os falsos profetas. Eles chegam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os conhecerão pelos que eles fazem. Os espinheiros não dão uvas, e os pés de urtiga não dão figos”. (Mateus 7:15-16). Nesta parábola, Jesus chama a atenção dos fiéis para uma das piores condições do ser humano: a falsidade.
Qualquer semelhança é pura coincidência.
*Jornalista e historiador
Vivência não é experiência
29 de abril de 2021, 19:29
Foto: Reprodução
*Por Gervásio Lima –
A frase atribuída ao jornalista Joelmir Betting e citada pelo ex-senador Lauro Campos no início da década de 1990, “Os problemas de hoje são as soluções de ontem, que não foram executadas”, é mais um exemplo de enunciado cuja interpretação demonstra justamente o que está vivendo a população brasileira.
Na verdade, o que o jornalista, corroborado pelo ex-senador, quis dizer é que toda a experiência pela qual passa uma sociedade é marcada de tal forma que no presente ou em algum momento pode contribuir ou prejudicar, a depender de determinados fatores, principalmente da atitude.
As consequências dos problemas não (ou mal) resolvidos, independente de sua época, podem causar prejuízos inimagináveis, principalmente contra a vida. Em qualquer tipo de trabalho, o profissional que não realiza as tarefas pertinentes a sua função ou o faz de maneira desleixada proporcionará danos que podem ser irreparáveis.
Como em uma empresa, quando os incentivos são relegados no momento que os resultados não são bons, diversos problemas podem ocorrer. Daí a importância da vivência e da convivência. Os que participam do processo saberão lidar com situações adversas, sempre buscando alternativas para conseguir melhores cenários futuros.
Defender o indefensável e, ainda pior, de maneira hostil, faltando com respeito ao direito do outro, principalmente o de se manifestar ou declarar uma posição ou lado político, tem sido uma prática comum, nos mais diversos ambientes, até mesmo nas próprias residências. Tais atitudes transcendem a racionalidade, numa clara demonstração de ‘subjugação consentida’ àquele ou aquilo que age como hipócrita.
Comportamentos truculentos, arrogantes e desrespeitosos têm desmascarado muitos que pregam moralidade, mas que na verdade não passam de falsos moralistas ou de falsos profetas.
Defender a morte ou desdenhar da tragédia alheia, negando a realidade, é um comportamento político monstruoso, típico da insensatez e da irracionalidade de um rebanho que não sabe nem que dia é hoje.
“…O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela…” – Admirável Gado Novo – Zé Ramalho
*Jornalista e historiador
A sina dos ‘emes’
14 de abril de 2021, 19:28
*Por Gervásio Lima –
A sina dos ‘emes’ nunca esteve tão presente como neste triste e preocupante momento de pandemia. A Maldade, a Mentira, a Miséria e a Morte, infelizmente, imperam e literalmente ‘dão as cartas’, tendo como principal incentivador um nefasto discurso fascista de parte da população, que prefere permanecer no erro a reconhecer a bobagem que cometeu.
Com o comportamento típico dos insanos e insensatos, os que insistem na defesa do mal, com o objetivo tosco de esconder a vergonha por uma má escolha, precisam de uma atenção redobrada, pois geralmente usam da truculência e da humilhação para justificarem suas posições radicais. Sem argumentos, buscam a violência física e às vezes armada para persuadir suas vítimas.
Reconhecer o erro, definitivamente não é para os fracos. Ao contrário, é para os fortes de espírito e para os que pregam e seguem os ensinamentos de Cristo, mesmo sem terem uma religião definida. É a tese de ‘fazer o bem sem olhar a quem’.
Usar da desgraça alheia para esconder o mau-caratismo é repugnante e desumano, uma falsidade e deslealdade sem limites para com o próximo. Tal desvio de personalidade influencia não somente na defesa do inescrupuloso como também nos rumos de uma sociedade. Uma tormenta se torna bem mais tranquila quando o comandante e a tripulação se entendem.
A essência da reciprocidade remete ao bem comum, à empatia e ao respeito às diferenças. O mau só é combatido com o bem, portanto pregar ou praticar a maldade em detrimento do bem é uma ação incorreta e inaceitável.
A resiliência precisa ser o principal objetivo de todos que acreditam que existe um mundo melhor à espera dos que atualmente sofrem por conta da ignorância e do negacionismo daqueles que na verdade não sabem nem que dia é hoje.
É preciso acreditar e colaborar para que o amanhã seja diferente, com o abraço simbolizando a saúde, a paz e verdadeiro amor.
*Jornalista e historiador
O pior cego é o que não quer ver
08 de abril de 2021, 09:09
*Por Gervásio Lima –
Os mais antigos ditados populares voltaram a ser lembrados e muito utilizados na atualidade. De forma simples e de fácil compreensão e interpretação, os provérbios, ou adágios populares, a partir de frases curtas, têm a função de aconselhar, advertir e principalmente transmitir ensinamentos. Eles fazem parte da cultura popular e do folclore brasileiro. Os autores dessas expressões geralmente são anônimos, mas são atribuídos quase sempre ‘aos avós’. Como dizia…
Esta forma de comunicação rápida e indireta tem sido uma das formas encontradas por aqueles que utilizam ‘atalhos linguísticos’ para passar uma determinada mensagem. No atual momento que vive o mundo, em especial o Brasil, com uma das maiores crises sanitárias da história, todo cuidado é pouco com o que se pretende expressar. O mal entendido tem criado desavenças, intrigas e até mesmo violência física. Por conta disto, sem querer querendo, é cada vez mais comum recorrer a metáforas e ditados.
Ao analisar e decodificar o que se lê ou o que escuta, conseguirá tirar as conclusões e se conectar com a realidade, uma forma subjetiva de entendimento sobre algo apresentado. É possível compreender algo sem interpretá-lo, porém não é possível interpretar sem compreender. Talvez seja essa a máxima do sucesso dos provérbios que estão sendo utilizados com tanta frequência.
É possível que uma frase dita em determinada localidade tenha significado diferente em uma outra região, mas – uma coisa é certa – o recado atinge os mesmos objetivos. Sem ir muito longe, resumiríamos o que acontece na política e no comportamento do Brasil e dos brasileiros com a política e com a prevenção da Covid-19, que vem matando uma média de 3 mil pessoas por dia:
As aparências enganam
Diz-me com quem andas e eu te direi quem és
Para bom entendedor, meia palavra basta
Tapar o sol com a peneira
Quem com ferro fere, com ferro será ferido
Quem se mistura com porcos, farelo come
Quem semeia vento, colhe tempestade
Um dia é da caça, outro do caçador
Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe
Quem fala o que quer ouve o que não quer
Quem ri por último ri melhor.
×Jornalista e historiador
O que aprendi em 43 anos aprendendo a ser jornalista, a profissão que não prescinde da verdade
07 de abril de 2021, 17:14
Por Giorlando Lima
Comecei nesse negócio de jornalismo no mês de setembro de 1978, três meses antes de completar 17 anos. No ano passado, eu pensava que poderia fazer uma comemoração quando eu completasse 40 anos(Ver NdoE) de atividade, mas não deu. Comecei do melhor jeito, o chamado “de baixo”. Entrei no mundo do jornalismo pela porta larga do jornal A Palavra, da minha cidade natal, Jacobina. O hebdomadário, como eu aprendi a chamar, circulava aos sábados e durante a semana era produzido numa rua que hoje se chama Travessa da Delegacia, onde duas salas serviam de redação e oficina.
Azeitona
Fiz a opção por trabalhar no jornal por vários motivos. Gostava de notícias, adorava ler jornais e revistas, consumia tudo o que aparecia na minha frente, desde gibis, como Reco-Reco, Bolão e Azeitona, que meu pai não queria que eu lesse – e eu não sei o porquê, até hoje -, a revistas semanais nacionais, fotonovelas, receitas, corte e costura, almanaques de farmácia…
Jacobina tinha apenas aquele jornal na época. E já era bem antigo. O dono do A Palavra era professor de português no Deocleciano Barbosa de Castro, o maior colégio da cidade, um centro educacional, como se chamava, porque atendia colegial e ginasial, ou primeiro grau e secundário. O professor Edmundo Isidoro também era pastor presbiteriano, orador excelente e redator ainda melhor. Eu queria aprender com ele. E, por fim, eu queria trabalhar, ter algum salário.
Não fui logo escrevendo. Tinha a função inicial de revisar pequenos textos que chegavam, a maioria escrita à mão, como avisos funerários, aniversários, anúncios de venda ou aluguel de imóveis. No sábado, ia entregar o jornal aos assinantes. Eram muitos. Eu andava mais que carteiro, porque ia de uma parte a outra da cidade fazendo a distribuição. Quem conhece Jacobina sabe que não é fácil ir a pé do centro até a rua do Leader, voltar fazendo a região da Igreja Matriz, seguir até o Texaco, de lá para a Estação e Rua dos Índios. Ainda bem que ninguém na Caeira ou na Catuaba gostava de ler jornal.
Havia uma pequena máquina de escrever, Facit, se não me engano, de cor rosa, onde o pastor Edmundo redigia o texto principal do jornal, que ia na capa, como manchete. Ele também escrevia textos menores, mas, no geral, era um só. Usei a máquina algumas vezes, mas resolvi tentar escrever direto no componedor. Nem sei direito como explicar o que era um componedor, espero que a foto seja suficiente. (Achei uma definição no glossário do site português tipógrafos.net*). Mas, saibam que era muito complicado, com risco permanente de tudo desmontar e se misturar, tanto na fase da composição como na fôrma, quando o texto composto já estava amarrado, pronto para ir para a prancha e servir à impressão.
Pois bem – adiantarei, porque não quero fazer um livro -, o pastor Edmundo foi meu primeiro professor de jornalismo. Fui logo aprendendo que, para informar, o jornalista precisa pesquisar, ir o mais fundo possível e trazer à tona os fatos reais, narrando-o com todos os lados possíveis, para o texto não ficar pobre da verdade, não cometer injustiça. Na mesma lição: apuração e ética, a necessidade de ser correto ao dar uma notícia, narrar um fato, “sem atingir a honra e a moral de ninguém”.
Mais tarde, conheci o jornalista Wilson Barbosa, editor de Municípios de A Tarde. Cheguei a ele em 1982 por recomendação de Sylvio Simões, também jornalista e um dos donos do jornal, que eu conhecera em Feira de Santana no lançamento de um livro de poesias escrito por ele. Eu fiz matéria sobre o evento para o jornal Feira Hoje, onde trabalhava. Simões me disse que eu poderia trabalhar no jornal da família dele, me autorizando a procurá-lo depois. Na micareta de 1982, houve uma greve no FH. O sindicato (Raimundo Lima, Zé Carlos Teixeira) negociou com a empresa a volta dos jornalistas ao trabalho, com o menor número de demissões possível. O menor número possível era eu, o foca. Eu e um fotógrafo cujo nome não lembro. Tive que voltar a Jacobina e lembrei de procurar Sylvio Simões e ele me mandou falar com Wilson Barbosa, que poderia me aproveitar no interior.
Consegui ser encaixado na editoria, mas, de graça, sem ganhar um centavo, bastando, como remuneração, ter a palavra “correspondente” antes das matérias escritas por mim e aproveitadas pelo jornal. Jacobina – Do Correspondente. Mas, não é disso que quero falar neste texto (deixo para outra crônica) e sim das lições que tomei com Barbosa e sua subeditora, Sandra Régis. O velho jornalista, responsável pela editoria que talvez fosse o pintinho feio da redação, porque o patinho era a seção de obituário, me disse: “Giorlando, para ser repórter tem que escrever reportagem, tem que saber redigir matéria, não é a mesma coisa de fazer poesia, de escrever bonito, é contar o fato e fato é o que acontece e não o que se cria”. Aí ele me mandava pentear telex. Eu já fazia isso no Feira Hoje. No diário feirense chegaram até a me mandar traduzir press release em espanhol e por um tempo fiz o horóscopo. Mas, isso também não é história para agora.
Naquele tempo, ser correspondente de jornal no interior era ser pauteiro e repórter ao mesmo tempo. Como pauteiro, eu tinha que ter a capacidade de identificar qual assunto era importante para a cidade, mas, acima disso, o que seria interesse do leitor do jornal em qualquer lugar, afinal A Tarde circulava em quase toda a Bahia. Como pauteiro e repórter em uma cidade de 40 mil habitantes, tinha que saber sobre o que e como falar. Era um caminho para conseguir respeito e reconhecimento e isso exigia respeitar as fontes, a sociedade, o lugar, sem abrir mão de ser instigante, questionador. Essa vigilância sobre meu próprio trabalho forjou um profissional cuidadoso com a informação e, sempre, com a fontes e os leitores.
No meu trabalho de repórter, no início, eu anotava as informações que colhia em folhas de papel soltas, depois organizava tudo em um caderno brochura, datilografava numa Olympia que o velho e saudoso Rigoberto Lopes me emprestou por um longo tempo, enviava – de carona em um malote de órgão público (não lembro qual – e esperava o jornal chegar, no dia seguinte, para comparar o texto editado e publicado com o que estava escrito no meu caderno. Para ver o que tinha sido cortado, o que tinha sido reprovado. Eram aulas, que duraram quatro belos anos. Começaram em Jacobina, continuaram em Salvador, Jequié, Itabuna/Ilhéus, até chegar a Vitória da Conquista, e me servem até hoje, numa jornada que inclui temporadas em São Luís e Imperatriz (MA) e Belém (PA), entre outros lugares onde pratiquei o que aprendi.
Na verdade, sigo aprendendo, como pessoa, e para ser o jornalista que sonho em ser desde menino.
A FONTE
A lição mais preciosa que tanto tempo no jornalismo me ensinou foi a dizer de onde veio o dado que embasa as minhas afirmações em um artigo ou comentário ou a informação que passo em uma matéria. Do que eu falo? Quem me disse, onde li, qual a publicação que avaliza… Porque mesmo que seja um artigo de opinião, um comentário dentro de um programa, o narrador, sendo jornalista, tem a obrigação de dizer de onde veio a informação que ele divulga, a história que ele conta.
Quase tudo tem mais de um lado. Mais do que dois ou três, até. Podemos concordar ou discordar, mas não podemos excluir o fato, os lados, as versões, se há alguém os sustentando. Se duas pessoas são apanhadas em flagrante em uma mesma situação não é correto apresentar só uma. Assim, se duas pessoas agem de forma positiva, têm mérito em relação a um fato ou resultado, não se pode destacar apenas uma. E, principalmente, se dois têm versões, visões e argumentos diferentes, opostos sobre o fato abordado pelo jornalista em sua reportagem/matéria, há que se permitir ao leitor/ouvinte/telespectador conhecer a verdade de cada um para fazer sua avaliação, seu juízo. Eu sei como isso é difícil, principalmente se as pessoas não podem ser encontradas ou ouvidas na mesma hora, no tempo em que a matéria, artigo ou comentário está sendo produzido. Há, inclusive, quem se nega a falar, a dar sua versão e isso isenta o jornalista.
Nos meus quase 40 anos escrevendo para jornais, revistas, TV, sites, produzindo ou apresentando no rádio, sempre levei em conta o tal do outro lado. Incontáveis vezes publiquei sem a segunda versão, porque nem sempre ela foi dada. Mas, sempre evitei dar a primeira versão como definitiva. Mesmo hoje, diante da exigência da velocidade ou do fato notório, reconhecido e comprovado, sempre guardo o espaço do reparo, da crítica, da opinião contrariada. Claro que também são incontáveis as vezes em que errei ao avaliar uma “verdade” ou ao rejeitar uma “mentira”. Mas, quem quer fosse o personagem, objeto, ator, envolvido, jamais seria alvo. Nem idolatrado. Elogios ou críticas, nunca perseguição ou veneração.
Nestas quatro décadas de atuação no campo quase sempre excitante e apaixonante, mas muitas vezes árido e degradante, do jornalismo, aprendi muito. E errei muito. Mas, por ter referências de educação doméstica e boa formação escolar e de trajeto, aprendi a rejeitar a mentira. E se não gosto da mentira, odeio a mentira no jornalismo. Em 40 anos na estrada, tendo sido chefe em veículos de comunicação, assessorias, secretarias e editor de jornais ou revistas dos quais fui sócio ou eu mesmo criei e mantive por algum tempo, pude interagir com muita gente. Alguns que chegavam sabendo um pouco menos que eu, começando ali, arriscando seus primeiros textos ou buscando evoluir como repórteres e jornalistas que sonhavam ser. Muitos daqueles dizem que aprenderam comigo. E talvez eu lhes tenha mesmo ensinado e se o fiz, tentei fazer do jeito certo, orientando-os a fazer do jeito certo.
FAKE NEWS
Não tenho a pretensão de ser professor de ninguém. Mesmo os meus filhos já sabem muito mais do que eu poderia aprender se vivesse o dobro do que já vivi. Mas, apesar de ter ficado mais paciente, ter aderido à diplomacia, na medida que a minha personalidade permite, eu fico muito triste – e tantas vezes aborrecido – quando vejo que há muitos profissionais tratando o jornalismo como mero instrumento de tendências políticas (ou corporativas), a serviço da construção de “verdades”, da defesa de interesses de terceiros, confundidos como se fossem pessoais, sem nem mesmo o serem.
Nessa missão, usam dados, números, informações, boatos, versões, para cimentar os interesses de um lado. É o tempo da tal pós-verdade, a quadra das fake news, a era do “o ruim que eu defendo é melhor do que o ruim defendido por você”.
Há algum tempo, me queixei a um colega, um amigo jornalista (amigos também erram), de que ele tinha reproduzido uma informação deturpada com o propósito de ressaltar um determinado político pespegando defeitos em outro. Era uma coisa que pode ter sido gerada por uma confusão, um equívoco, mas estava sendo divulgada com o interesse de atingir a figura pública, por parte de uma pessoa que sabia que aquilo não era verdade. O meu amigo disse que não se importava, o que importava é que era contra a pessoa a quem ele combatia, e que mesmo distorcida a notícia servia ao propósito.
As redes sociais trouxeram essas coisas à normalidade. Servem, inclusive, para criar ou consolidar mitos, personagens desprovidos de estofo, mas que, objetos de veneração e do mau uso da mídia, transformam-se em heróis ou celebridades, ainda que incapazes de responder positivamente a uma varredura em sua história de vida ou na mínima avaliação de sua capacidade – técnica, profissional, gerencial, administrativa. E acabam por se confirmar péssimos no desempenho da missão conquistada à base da falácia e da enganação.
Na internet se diz o que se quer dizer e basta que isso atinja o inimigo de alguém para que esse alguém espalhe, dissemine como verdade nos zap zap que “informam” e orientam uma massa gigantesca no Brasil. O contrário também acontece. Se uma pessoa tem como inimigo determinado político, artista ou mesmo um cidadão comum, não hesitará em contestar fatos, desfazer história e informações positivas, com argumentos mentirosos, acusações, ataques à honra, espalhando para ingênuos, maldosos, seguidores, partidários, em um efeito dominó, que quando cessar, se cessar, já terá feito estrago irreparável na pessoa alvo dos ataques que, incontáveis vezes, é inocente.
Quando o tema é política – e este tem sido o principal assunto do Brasil há um bom tempo – todo mundo e ninguém parece ter razão. Estabeleceu-se, definitivamente, o lado bom e o ruim (ou dos bons e dos ruins), o bem e mal. A consolidação do pernicioso maniqueísmo. E isso é mais confuso – e perigoso – quando se trata de imprensa, jornalismo. Meias verdades e mentiras completas, ditas como se verdade fossem, se disseminam tanto por um lado quanto por outro. É frequente que programas de rádio e blogs, para enaltecer o dirigente atual, ataquem o gestor anterior e vice-versa. Às vezes, mais versa do que vice. É quando a imprensa se torna o lugar da raiva, da pirraça e do mero interesse político-partidário, visando a manutenção do poder ou a ansiedade para retomá-lo.
Porém, também se pode dizer que na maior parte do tempo tudo é feito como se espera e se admite, pois crítica e elogio têm seu lugares e a sua frequência depende das ações dos avaliados e, também, dos sentimentos do profissional que comenta. Quem deseja que jornalistas, radialistas e blogueiros sejam imparciais o tempo todo deve ser quem descarta a condição humana, social e, portanto, política desses profissionais. Mas, esperar isenção é esperar a atitude certa. E falar a verdade é obrigação. Não é possível? Eu acredito, piamente, que é. Acho que pode ser possível ter opinião, ser contra um lado do fato ou a favor do outro, mas não inventar, não mentir, não colocar defeitos que não existem e nem forçar virtudes que não se acham.
O desvirtuamento praticado frequentemente pela mídia contra os fatos, a história, a informação, em favor de interesses partidários, lobistas e/ou pecuniários, é prejudicial ao cidadão, prejudica a formação dos nossos jovens, marca o meio, marca a vida da cidade, degrada o ambiente político, enfeia o currículo de quem o pratica. Fere a ética. Não a ética burocrática de uma categoria, mas a ética do respeito primário e fundamental à verdade, início e fim de tudo, sustentação da liberdade, o bem maior da humanidade.
Mas, tem gente que não liga para isso.
Por fim, como sempre, aviso que este artigo é uma expressão de um sentimento pessoal, sujeito, claro, a contestações. Respeitosas, espero. Está assegurado o lugar para o contraditório, para a outra versão, se houver. Afinal, é disso que trato desde a primeira linha.
* COMPONEDOR: [Tip hist] (Winkelhacken, alemão). Instrumento imprescindível na composição manual com tipos móveis. Utensílio de que o compositor se serve para reunir os caracteres (letras) que retira da caixa, formando palavras e linhas de texto dentro de uma medida previamente determinada.
Consiste de uma lâmina de metal com dois rebordos em esquadria, e uma peça móvel — a que se dá o nome de justificador — para fixar a abertura da boca do componedor. Esta invenção de Gutenberg serve para formar linhas de texto, recebendo os tipos metálicos que o compositor vai retirando dos caixotins.
Texto escrito em janeiro de 2019
Futebol e política podem e devem marcar gol de placa
02 de abril de 2021, 09:18
*Por Josias Gomes –
Até quando vai perdurar a omissão do futebol brasileiro?
O Deutsche Welle (DW), empresa pública de radiodifusão da Alemanha, traz matéria importantíssima a respeito da Copa do Catar ou a “Copa do dinheiro sujo e desumana”. E mostra como o futebol pode ser protagonista em causas políticas. Neste caso, os grandes atores dos protestos são os próprios jogadores das seleções europeias que iniciaram os jogos Eliminatórios da Copa de 2022.
Na foto temos a seleção alemã protestando contra os abusos financeiros e de direitos humanos cometidos pela monarquia absolutista que impera no Catar. Os jogadores escreveram Human Rights em suas camisas negras. Já os noruegueses escreveram em suas camisas: “Direitos humanos – dentro e fora de campo”.
Na matéria, o DW cita o jornal inglês The Guardian que apurou: “6,5 mil trabalhadores e trabalhadoras morreram por condições insalubres de trabalho durante a construção dos luxuosos estádios movidos a arcondicionado que servirão de palco para a Copa de 2022”. Veja mais: https://www.dw.com/pt-br/copa-do-catar-a-aberra%C3%A7%C3%A3o-movida-por-gan%C3%A2ncia-e-sofrimento/a-57048739 .
Trazendo pra realidade brasileira, vivemos um massacre com mais de 315 mil vidas perdidas na pandemia. Enquanto federações, clubes e jogadores de futebol se omitem diante da barbárie. Vivem em suas bolhas, em sua maioria, preocupados com as questões financeiras. Com raras exceções, atletas se manifestam em defesa do povo que morre de abandono, fome e vírus, vítimas de um desgoverno mais cruel do que a monarquia do Catar. Vale lembrar que tudo é política, inclusive a omissão daqueles que acreditam que um minuto de silêncio antes das partidas resolverá o maior atentado contra os Direitos Humanos no Brasil.
*Já passou da hora do esporte mais popular do Brasil se unir ao seu povo nas lutas de libertação. Chega de gol contra*. O 7×1 é agora neste minuto. É chegado o momento dos nossos ídolos retribuírem todo amor que recebem das massas. Sem elas, eles nada seriam.
*Deputado Federal do PT/Bahia licenciado e atualmente titular da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR).
Em tempo de Murici, cada um cuida de si
31 de março de 2021, 16:46
Foto: Enzo Lima
Por Gervásio Lima –
“Em tempos de Murici, cada um cuida de si”. Um dos provérbios mais egoístas e arrogantes que existe, é atribuído ao nordestino por conta de uma frase que seria dita pelo baiano de Inhambupe, o coronel do Exército Pedro Nunes Tamarindo, durante a terceira expedição militar no então arraial Belo Monte (Canudos), quando pela terceira vez a população local, comandada pelo líder religioso Antônio Conselheiro, derrotou as tropas federais.
Nunca se imaginava que uma celebração ao egoísmo fosse servir como um alerta à necessidade do isolamento e do distanciamento social, quando o indivíduo, ao cuidar de si, estará protegendo e salvando não apenas a sua, mas a vida dos que estão em sua volta e em seu convívio. Numa verdadeira inversão de valores para o bem, valorizar a autoproteção neste momento de pandemia é uma forma consciente e humana de valorizar a vida e proteger o próximo.
Salvem-se quem puder. Se cada cidadão cuidar da sua própria vida é quase certo que irá sobreviver e contribuirá com a sobrevivência dos outros.
O mundo vive uma crise sanitária inimaginável, um problema de proporções catastróficas, sem comparações de ocorridos há mais de um século, quando a medicina não tinha os avanços tecnológicos e farmacêuticos que existem na atualidade, e quando as informações não eram compartilhadas de forma instantânea como agora.
Se compararmos o comportamento da população mundial, conforme relatos históricos, diante do combate da Gripe Espanhola ocorrida há 100 anos, com a forma como a população encara a Covid-19 em pleno século XXI, pode se afirmar que agimos como se vivêssemos na ‘idade das trevas’, com a predominância da ignorância e do negacionismo, por mais insano que isso pareça.
A gripe espanhola, também conhecida como gripe de 1918, foi uma vasta e mortal pandemia do vírus influenza. De janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infectou em torno de 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial. A Covid-19, descoberta no final de 2019 na China, disseminou rapidamente para todo o planeta, e em pouco mais de um ano já contaminou cerca de 130 milhões e tirou a vida de mais três milhões de pessoas. Somente no Brasil, já foram infectadas 13 milhões, com 320 mil mortes até o momento, conforme dados apurados a partir dos números de pacientes que procuraram atendimentos médicos e que realizaram testes. De acordo com as autoridades de saúde, é possível que as ocorrências podem ser de quatro a cinco vezes maiores que os números oficiais divulgados.
O problema é muito sério. Independentemente do lado político, religioso ou da condição social de cada indivíduo, o melhor é acreditar na verdade da ciência e absorver a mensagem do antigo provérbio em toda a sua plenitude. Fica a dica.
Jornalista e historiado
*Jornalista e historiador
O PÊNDULO: DE GALILEU A FOCAULT – A Função Preguiça na Matemática Baiana
21 de março de 2021, 09:10
Quando Galileu Galilei, aos 18 anos descobriu a Lei do Isocronismo Universal e fez a fórmula matemática que calcula o movimento pendular, jamais imaginou que Humberto Eco, escritor italiano, a descreveria com tanta beleza e arte em sua monumental obra O Pêndulo de Focault: “…em sua isócrina majestade…eu sabia – mas qualquer um teria podido concluir pela magia daquele plácido respirar – que o período era regulado pela correlação entre a raiz quadrada do comprimento do fio e a do número π, que, embora irracional para as mentes sublunares, relaciona, por alguma razão divina, a circunferência ao diâmetro de todos os círculos possíveis – de modo que o oscilar de uma esfera de um pólo a outro decorre de uma arcana conspiração entre a mais intemporal das medidas, a unidade do ponto de suspensão, a dualidade de uma dimensão abstrata, a natureza terciária do π, o tetrágono secreto da raiz e a perfeição do círculo.”
Eu, por minha vez, também tentei dá um destino melhor a equação de Einstein que relaciona friamente a energia à matéria, a famosa E=mc². Sendo a velocidade da luz uma constante universal, considerando a preguiça o inverso da energia pessoal, o quociente entre as velocidade do movimento corporal e a da luz, o tempo no espaço de uma vida torna-se o inverso desta mesma velocidade. Concluí que o preguiçoso vive mais do que aquele que vive correndo atrás das coisas do mundo, o famoso workaholic. Quando o ócio é criativo, este transforma o inferno do tédio cotidiano num paraíso doce e estimulante para se viver. Este lento meditar se intensifica quando catalisado por uma dolente rede cearense.
Despretenciosamente, neste eco de Eco, talvez minha fórmula manemolente não ecoe como as belas palavras do mestre italiano.
Por: Montiez Rodrigues
Amar como Jesus amou
18 de março de 2021, 08:28
*Por Gervásio Lima –
A capacidade de certos indivíduos em deturpar conceitos, valores, significados, sentimentos e princípios inerentes a determinadas coisas e até mesmo a seus semelhantes assusta e merece atenção e cuidado, diante do perigo que este tipo de comportamento pode oferecer. A depender do problema que venha a ser ocasionado são inevitáveis tomadas de decisões, inclusive com a utilização dos direitos estabelecidos por leis.
De proporções inimagináveis, o ódio e a descrença nunca estiveram tão presentes entre as sociedades. Tudo que se acreditava que aconteceria a partir da facilidade de acessar as informações, que aproximou o que há pouco tempo era considerado muito longe e até mesmo inacessível, não aconteceu. Hostilidade, desamor, desumanidade e insanidade são as características intrínsecas dos que mesmo com a possibilidade da emancipação social preferem viver e se comportar como seres primitivos, como um ogro.
Incrivelmente, os que pregam o quanto pior melhor defendem suas opções maldosas como princípios criados como uma espécie de ‘estatuto’ com o objetivo de punir os que se opõem às suas opiniões, sempre arraigadas de preconceitos de gênero, cor e condição social. Esses são os verdadeiros incongruentes, sujeitos contraditórios, desconexos, incoerentes, desproporcionais e incompatíveis, desprovidos de ‘senso de ridículo’.
Viver em sociedade, respeitando as diferenças, é talvez a principal base da boa relação entre os seres. A harmonia, como a própria palavra soa, remete ao bem comum, o bom convívio e à deferência. Mas, em pleno século XXI, a animosidade, a intriga, a desavença e o desrespeito, como uma erva daninha, invadem, sem pedir licença, e prejudicam as relações humanas, provocando efeitos devastadores. Uma verdadeira luta constante entre o bem e o mal, onde o mal travestido de bem confunde, e tira até mesmo a vida, principalmente dos incautos.
Em qualquer ocasião, amar é extremamente nobre. Amar sem olhar a quem, criar empatia e entender o outro com as necessidades físicas e afetivas se faz necessário, sendo a melhor demonstração de que nós humanos podemos voltar a ser racionais.
“Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu; sentir o que Jesus sentia; sorrir como Jesus sorria e ao chegar ao fim do dia, eu sei que eu dormiria muito mais feliz…” – Padre Zezinho
*Jornalista e historiador