ARTIGOS

O hipócrita é um ‘cringe’ em potencial

14 de julho de 2021, 18:37

*Por Gervásio Lima

Hipocrisia significa fingimento, falsidade; fingir sentimentos, crenças, virtudes, que na realidade não possui. Hipocrisia deriva do latim e do grego e significava a representação, no teatro, dos atores que usavam máscaras, de acordo com o papel que representavam em uma peça. Ou seja, o hipócrita é alguém que oculta a realidade através de uma máscara de aparência. Ele exige que os outros se comportem com certos parâmetros de conduta moral que ele próprio extrapola ou deixa de adotar.

No momento em que os comportamentos humanos e sociais estão entre os assuntos mais discutidos e questionados, é possível observar que o poder de percepção dos indivíduos está mais aflorado, sendo mais fácil, assim, identificar o mau-caratismo presente nos que até pouco tempo se escondiam atrás de uma fantasia que não lhes pertencia.

Existem os que tentam ser o que não são e os que são e não se sentem desconfortáveis em assumir o que realmente são. Tal redundância proposital, que não chega a ser uma prolixidade, é uma forma de enunciar características distintas de determinados sujeitos que se apresentam de acordo com suas conveniências.

Cringe, a palavra da moda, utilizada principalmente pelos nascidos no início do século XXI, remete à vergonha alheia. O termo de origem inglesa é uma gíria para se referir também a algo “vergonhoso”, constrangedor, a situações embaraçosas, aos “micos”, aos momentos em que alguém faz algo descontextualizado.

Portanto é possível afirmar que muitos brasileiros são cringes pelo comportamento adotado diante das inúmeras situações vexatórias e constrangedoras no que se referem à conduta, atitude, modos, atuação, desempenho e costume. O país vive uma hipocrisia generalizada, virou uma arte discursar aquilo que não se pratica, mesmo o ‘orador’ sabendo que está sendo envenenado pelo próprio veneno. Verdadeiros farsantes e incoerentes em suas palavras e ações.

A hipocrisia tem sido o grande mal da nossa sociedade, devendo ser evitada e combatida. A mentira não é doença, é mau-caratismo.

*Jornalista e historiador

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Um erro não justifica o outro

08 de julho de 2021, 16:16

*Por Gervásio Lima

‘Justificar um erro é errar duas vezes’. Uma verdade sincera e sábia absolvida apenas por quem prega a humildade e possui a capacidade de reconhecer suas falhas, fazendo uma autocrítica ao analisar os seus próprios erros sem apontar outras alternativas de culpa, como encontrar um bode expiatório.

Uma das atitudes mais medíocres e covardes é tentar apontar o erro de alguém como se isso fosse capaz de diminuir ou justificar o próprio erro. ‘Mas fulano também fez e sicrano fez pior…’ Um erro não justifica o outro, fato.

O que mais se ouve ultimamente são discursos fraudulentos, tendo como pano de fundo a imagem da família e da religião, usando levianamente o nome de Deus na tentativa de valorizar os mais bizarros comportamentos. Nunca se viu tantos falsos profetas e paladinos da moralidade pregando uma coisa na teoria e pecando nas atitudes, na prática. Muitas são as falas ‘de boca para fora’.

Mas como diz o ditado popular, ‘quem fala demais dá bom dia a cavalo’, muitos têm aberto a boca quando deveriam ficar calados. A verdade está em extinção e, o pior, os que mais diziam defendê-la agora viajam literalmente numa espécie de nave carregada de mentiras e enganações delirantes, com destino incerto.

Comportamentos toscos, misturados com barbáries,  revelam à sociedade sujeitos que em um certo momento foram considerados pessoas normais, empáticas, solidárias e de paz, mas que hoje, incentivados e espelhados por seus verdadeiros semelhantes, espalham o ódio e o medo aos que ousam discordar daquilo que defendem. As relações humanas não são mais as mesmas, e isso tem assustado os indivíduos do bem.

Quem conhece ou presenciou a história brasileira a partir de meados da década de 1960 até meados da década de 1980 estão vivendo um verdadeiro ‘Déjà Vu’.

*Jornalista e historiador

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É preciso saber viver

16 de junho de 2021, 17:41

*Por Gervásio Lima

É vida que segue. Talvez esta seja a frase mais coloquial para se referir à necessidade de superação, atenuar sofrimentos e servir como alento para as mais diversas atrocidades oferecidas de formas instintivas por alguns elementos que permeiam a vida. Mesmo não sendo por vontade própria, acontecimentos negativos surgem como o vento, sem avisarem que vão chegar.

A vida não é o oposto da morte, é o mais importante significado da existência, a principal dádiva do ser humano. Os que acreditam que nada é perfeito possuem ‘desvio de existência’, na verdade não sabem viver, já que não valorizam a singularidade de estar entre os bilhões de viventes que habitam o planeta. Fazer o mal ou fazer o bem é uma opção, ao contrário de conviver com o desagrado por não ter o comando de determinadas situações.

Saber viver é estar bem consigo mesmo, respeitando as diferenças e os espaços dos seus semelhantes. Saber viver é desejar ao próximo aquilo que gostaríamos que ele nos desejasse, é ter paz interior e sentimentos que não sejam de culpa, é fazer o bem sem olhar a quem, de forma intensiva e espontânea, cotidianamente. O mal é ruim para a vida, é danoso, estraga relações, afasta tudo que poderia ser bom e, muitas vezes,  concretiza prematuramente a única certeza que temos – a da morte.

O anseio pela perfeição e a busca da felicidade plena podem desencadear um egoísmo perigoso e reverso. Antes de ser adepto ao “salve-se quem puder” é essencial que se procure exemplos que desconstruam a narrativa do “quem tem a unha maior sobe na parede”. Nada melhor que refletir, mas caso a mágoa, o rancor ou outros sentimentos ruins insistam em querer denominar a situação, busque força para vencer, pois é necessário ter sabedoria constante para a travessia da existência.

Quem espera que a vida

Seja feita de ilusão

Pode até ficar maluco

Ou morrer na solidão

É preciso ter cuidado

Pra mais tarde não sofrer

É preciso saber viver – É preciso saber viver (Roberto Carlos)

*Jornalista e historiador

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Administração pública é pública

09 de junho de 2021, 19:12

*Por Gervásio Lima

Não adianta o discurso de cuidado com o erário se não preservar a transparência em outras áreas da administração. A hipocrisia é parente próxima da corrupção, um elemento acusador, geralmente um aviso de que algo não está bem. A insistência em permanecer em um erro por acreditar que o certo é o que defende faz parte de um dos cúmulos da ignorância, ação tola que inevitavelmente terá  consequências negativas respingadas em quem não tem nada a ver com a situação.

Uma piada mal contada agrada apenas o amigo elegante por conveniência. Para quem ainda não sabe, ou faz de conta que não sabe, se tratando de gestão pública, seja ela municipal, estadual ou federal, o papel dos detentores de cargos eletivos é o de buscar políticas para a melhoria de vida da população, proporcionando o bem-estar e garantindo condições para que serviços essenciais sejam oferecidos sem qualquer distinção – inclusive partidária – pois o povo é hegemônico.

Conforme a Constituição, a administração pública é o conjunto de órgãos, serviços e agentes do Estado que procuram satisfazer as necessidades da sociedade, como educação, saúde, infraestrutura, segurança, cultura e outros. Neste caso, tudo que for de encontro aos princípios estabelecidos não se caracteriza como público, e os agentes públicos responsáveis por fazerem cumprir estas determinações estão sujeitos a punições, mesmo que nem sempre sejam severas.

Prefeitos, governadores e presidente da República que acreditam ser ‘empresários’, administrando seus municípios, estados e o país como se fosse uma empresa privada, tratando servidores como seus funcionários particulares e o dinheiro público como se fosse fruto do lucro da venda de uma determinada mercadoria, estão fadados ao fracasso e bem próximos do xilindró, caso venham ser julgados e condenados por quem de direito.

Defender o errado em causa própria ou por simples birra não significa que o brio esteja protegido. Ao contrário, é um claro exemplo de egoísmo do corruptor. Ninguém que rouba faz algo de bom, pois tira a dignidade e compromete inclusive a vida dos que pregam o bem, as vítimas de um sistema cíclico e vicioso.

Aquele que tem a prerrogativa de comandar a partir de uma confiança depositada através de uma escolha coletiva, precisa, antes de qualquer atitude ilícita, respeitar as leis e não agir confiando na ingenuidade dos que lhe proporcionaram tal oportunidade.

É preciso desconstruir a ideia de que apenas as coleiras dos cachorros são diferentes.

Forte é o povo!

*Jornalista e historiador

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É ou não é, ou, ou ou…

27 de maio de 2021, 15:34

*Por Gervásio Lima

A mobilização para a chegada de benefícios se dá através da discussão política, mas para que isso aconteça, os políticos, sejam eles do Legislativo – que fiscalizam, propõem e indicam ações – ou do Executivo, que executam as sugestões, precisam ser provocados.

É fato que a política é parte importante para o rumo que a população almeja, mas o comportamento de determinados representantes assusta pela falta de experiência em gestão pública e relacionamento humano. Neste ano de 2021 iniciaram-se os mandatos de quatro anos de prefeitos e vereadores em todos os municípios brasileiros. Já se passaram praticamente cinco meses das novas gestões, período considerado muito curto para grandes realizações concretas, mas tempo suficiente para apresentações de propostas reais na garantia dois direitos e anseios dos municípes.

Quando se foge da verdade política, omitindo as fraquezas e até mesmo os crimes cometidos pelos que foram eleitos para representar a sociedade, comete-se um grande e às vezes irreparável erro. É preciso apresentar, portanto, de qualquer forma, as falhas daqueles que representam a população na esfera municipal, estadual e federal

O filósofo italiano Nicolau Maquiavel, reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, em razão de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser, sempre ressaltou que todo poder vem do povo. Em sua concepção, ‘para se manter no poder o soberano tem que acima de tudo estar em consonância com os anseios populares, porque o poder existe se os subordinados assim desejarem’. E assim aconteceu com inúmeros candidatos que concorreram à reeleição nas últimas eleições municipais. Quem não trabalhOU, enganOU e não agradOU, o povo retirOU. O que subestimou a importância das urnas, a força do voto e principalmente a importância do eleitor, literalmente se ferrOU.

A partir do momento em que se conhece o comportamento de determinados políticos, o senso seletivo do eleitor se emancipa e as escolhas na hora do voto podem acontecer com mais coerência e qualidade.

Para os novos administradores que acreditam que o poder é para sempre, vale lembrar que os mandatos têm prazo de validade e que muitas vezes acontece a atencipação deste prazo.

Aos que ainda não conseguiram acertar, continuem tentando, pois dias melhores ainda estão por vir.

*Jornalista e historiador

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171 é o artigo da vez

06 de maio de 2021, 21:18

Foto: Reprodução

*Por Gervásio Lima

Na gíria, uma “pessoa 171” é vista como alguém aproveitador, capaz de trair e enganar apenas para alcançar seus objetivos, sem se importar com as outras pessoas. No Código Penal, o Artigo 171 define como crime “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.

No dia a dia, em qualquer situação, seja no ambiente de trabalho, nas relações comerciais e principalmente na área política, é comum conhecer pessoas que buscam enganar alguém para tirar vantagens, principalmente no que se refere a dinheiro ou a posição social. Uma disputa de poder desenfreada, sem nenhum pudor ideológico, moral, familiar ou até mesmo religioso; neste último caso com o agravante de colocar Deus, o ente infinito e mais respeitado por cristãos e até mesmo por descrentes, como pano de fundo para justificar ou acobertar seus crimes.

A ganância é uma das principais características do estelionatário, um sentimento humano que difere de ambição. Segundo a literatura, o “homem ganancioso é um sujeito movido pelo poder e pela insanidade do ter tudo por vias que extrapola e ofusca o brilho da razão. Seu pensar canaliza todas as energias focando a qualquer preço ter a multiplicação de seus quase inexistentes bens, em patrimônios bilionários, através do sacrifício da sociedade”. Já o ambicioso é aquele que tem vontade e busca a todo custo alcançar certo objetivo, o indivíduo que demonstra cobiça. Ou seja, se trocar um pelo outro é, como diz o ditado, ‘trocar seis por meia dúzia’.

Nos momentos mais difíceis e carentes, quando a fragilidade emocional está mais aparente do que qualquer força espiritual, os denominados ‘santos das causas impossíveis’ aparecem, oferecendo uma gama de sugestões resolutivas e muitas vezes vantajosas com o objetivo de ludibriar suas vítimas e deixar um rastro de prejuízo financeiro e psicológico. Na verdade não passam de “lobos em pele de cordeiros”. Escondem as suas verdadeiras índoles maldosas, se passando por educadas, empáticas e até amigas. Fingem ajudar as pessoas ao seu redor,mas na realidade são más, perversas, egoístas e desonestas.

No Novo Testamento, uma parábola atribuída a Jesus Cristo, alerta: “Cuidado com os falsos profetas. Eles chegam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os conhecerão pelos que eles fazem. Os espinheiros não dão uvas, e os pés de urtiga não dão figos”. (Mateus 7:15-16). Nesta parábola, Jesus chama a atenção dos fiéis para uma das piores condições do ser humano: a falsidade.

Qualquer semelhança é pura coincidência.

*Jornalista e historiador

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Vivência não é experiência

29 de abril de 2021, 19:29

Foto: Reprodução

*Por Gervásio Lima

A frase atribuída ao jornalista Joelmir Betting e citada pelo ex-senador Lauro Campos no início da década de 1990, “Os problemas de hoje são as soluções de ontem, que não foram executadas”, é mais um exemplo de enunciado cuja interpretação demonstra justamente o que está vivendo a população brasileira.

Na verdade, o que o jornalista, corroborado pelo ex-senador, quis dizer é que toda a experiência pela qual passa uma sociedade é marcada de tal forma que no presente ou em algum momento pode contribuir ou prejudicar, a depender de determinados fatores, principalmente da atitude.

As consequências dos problemas não (ou mal) resolvidos, independente de sua época, podem causar prejuízos inimagináveis, principalmente contra a vida. Em qualquer tipo de trabalho, o profissional que não realiza as tarefas pertinentes a sua função ou o faz de maneira desleixada proporcionará danos que podem ser irreparáveis.

Como em uma empresa, quando os incentivos são relegados no momento que os resultados não são bons, diversos problemas podem ocorrer. Daí a importância da vivência e da convivência. Os que participam do processo saberão lidar com situações adversas, sempre buscando alternativas para conseguir melhores cenários futuros.

Defender o indefensável e, ainda pior, de maneira hostil, faltando com respeito ao direito do outro, principalmente o de se manifestar ou declarar uma posição ou lado político, tem sido uma prática comum, nos mais diversos ambientes, até mesmo nas próprias residências. Tais atitudes transcendem a racionalidade, numa clara demonstração de ‘subjugação consentida’ àquele ou aquilo que age como hipócrita.

Comportamentos truculentos, arrogantes e desrespeitosos têm desmascarado muitos que pregam moralidade, mas que na verdade não passam de falsos moralistas ou de falsos profetas.

Defender a morte ou desdenhar da tragédia alheia, negando a realidade, é um comportamento político monstruoso, típico da insensatez e da irracionalidade de um rebanho que não sabe nem que dia é hoje.

“…O povo foge da ignorância

Apesar de viver tão perto dela

E sonham com melhores tempos idos

Contemplam essa vida numa cela…”  – Admirável Gado Novo – Zé Ramalho

*Jornalista e historiador

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A sina dos ‘emes’

14 de abril de 2021, 19:28

*Por Gervásio Lima – 

A sina dos ‘emes’ nunca esteve tão presente como neste triste e preocupante momento de pandemia. A Maldade, a Mentira, a Miséria e a Morte, infelizmente, imperam e literalmente ‘dão as cartas’, tendo como principal incentivador um nefasto discurso fascista de parte da população, que prefere permanecer no erro a reconhecer a bobagem que cometeu.

Com o comportamento típico dos insanos e insensatos, os que insistem na defesa do mal, com o objetivo tosco de esconder a vergonha por uma má escolha, precisam de uma atenção redobrada, pois geralmente usam da truculência e da humilhação para justificarem suas posições radicais. Sem argumentos, buscam a violência física e às vezes armada para persuadir suas vítimas.

Reconhecer o erro, definitivamente não é para os fracos. Ao contrário, é para os fortes de espírito e para os que pregam e seguem os ensinamentos de Cristo, mesmo sem terem uma religião definida. É a tese de ‘fazer o bem sem olhar a quem’.

Usar da desgraça alheia para esconder o mau-caratismo é repugnante e desumano, uma falsidade e deslealdade sem limites para com o próximo. Tal desvio de personalidade influencia não somente na defesa do inescrupuloso como também nos rumos de uma sociedade. Uma tormenta se torna bem mais tranquila quando o comandante e a tripulação se entendem.

A essência da reciprocidade remete ao bem comum, à empatia e ao respeito às diferenças. O mau só é combatido com o bem, portanto pregar ou praticar a maldade em detrimento do bem é uma ação incorreta e inaceitável.

A resiliência precisa ser o principal objetivo de todos que acreditam que existe um mundo melhor à espera dos que atualmente sofrem por conta da ignorância e do negacionismo daqueles que na verdade não sabem nem que dia é hoje.

É preciso acreditar e colaborar para que o amanhã seja diferente, com o abraço simbolizando a saúde, a paz e verdadeiro amor.

*Jornalista e historiador

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O pior cego é o que não quer ver

08 de abril de 2021, 09:09

*Por Gervásio Lima – 

Os mais antigos ditados populares voltaram a ser lembrados e muito utilizados na atualidade. De forma simples e de fácil compreensão e interpretação, os provérbios, ou adágios populares, a partir de frases curtas, têm a função de aconselhar, advertir e principalmente transmitir ensinamentos. Eles fazem parte da cultura popular e do folclore brasileiro. Os autores dessas expressões geralmente são anônimos, mas são atribuídos quase sempre ‘aos avós’. Como dizia…

Esta forma de comunicação rápida e indireta tem sido uma das formas encontradas por aqueles que utilizam ‘atalhos linguísticos’ para passar uma determinada mensagem. No atual momento que vive o mundo, em especial o Brasil, com uma das maiores crises sanitárias da história, todo cuidado é pouco com o que se pretende expressar. O mal entendido tem criado desavenças, intrigas e até mesmo violência física. Por conta disto, sem querer querendo, é cada vez mais comum recorrer a metáforas e ditados.

Ao analisar e decodificar o que se lê ou o que escuta, conseguirá tirar as conclusões e se conectar com a realidade, uma forma subjetiva de entendimento sobre algo apresentado. É possível compreender algo sem interpretá-lo, porém não é possível interpretar sem compreender. Talvez seja essa a máxima do sucesso dos provérbios que estão sendo utilizados com tanta frequência.

É possível que uma frase dita em determinada localidade tenha significado diferente em uma outra região, mas – uma coisa é certa – o recado atinge os mesmos objetivos. Sem ir muito longe, resumiríamos o que acontece na política e no comportamento do Brasil e dos brasileiros com a política e com a prevenção da Covid-19, que vem matando uma média de 3 mil pessoas por dia:

As aparências enganam

Diz-me com quem andas e eu te direi quem és

Para bom entendedor, meia palavra basta

Tapar o sol com a peneira

Quem com ferro fere, com ferro será ferido

Quem se mistura com porcos, farelo come

Quem semeia vento, colhe tempestade

Um dia é da caça, outro do caçador

Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe

Quem fala o que quer ouve o que não quer

Quem ri por último ri melhor.

×Jornalista e historiador

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O que aprendi em 43 anos aprendendo a ser jornalista, a profissão que não prescinde da verdade

07 de abril de 2021, 17:14

Por Giorlando Lima

Comecei nesse negócio de jornalismo no mês de setembro de 1978, três meses antes de completar 17 anos. No ano passado, eu pensava que poderia fazer uma comemoração quando eu completasse 40 anos(Ver NdoE) de atividade, mas não deu. Comecei do melhor jeito, o chamado “de baixo”. Entrei no mundo do jornalismo pela porta larga do jornal A Palavra, da minha cidade natal, Jacobina. O hebdomadário, como eu aprendi a chamar, circulava aos sábados e durante a semana era produzido numa rua que hoje se chama Travessa da Delegacia, onde duas salas serviam de redação e oficina.

Azeitona

Fiz a opção por trabalhar no jornal por vários motivos. Gostava de notícias, adorava ler jornais e revistas, consumia tudo o que aparecia na minha frente, desde gibis, como Reco-Reco, Bolão e Azeitona, que meu pai não queria que eu lesse – e eu não sei o porquê, até hoje -, a revistas semanais nacionais, fotonovelas, receitas, corte e costura, almanaques de farmácia…

Jacobina tinha apenas aquele jornal na época. E já era bem antigo. O dono do A Palavra era professor de português no Deocleciano Barbosa de Castro, o maior colégio da cidade, um centro educacional, como se chamava, porque atendia colegial e ginasial, ou primeiro grau e secundário. O professor Edmundo Isidoro também era pastor presbiteriano, orador excelente e redator ainda melhor. Eu queria aprender com ele. E, por fim, eu queria trabalhar, ter algum salário.

Não fui logo escrevendo. Tinha a função inicial de revisar pequenos textos que chegavam, a maioria escrita à mão, como avisos funerários, aniversários, anúncios de venda ou aluguel de imóveis. No sábado, ia entregar o jornal aos assinantes. Eram muitos. Eu andava mais que carteiro, porque ia de uma parte a outra da cidade fazendo a distribuição. Quem conhece Jacobina sabe que não é fácil ir a pé do centro até a rua do Leader, voltar fazendo a região da Igreja Matriz, seguir até o Texaco, de lá para a Estação e Rua dos Índios. Ainda bem que ninguém na Caeira ou na Catuaba gostava de ler jornal.

Havia uma pequena máquina de escrever, Facit, se não me engano, de cor rosa, onde o pastor Edmundo redigia o texto principal do jornal, que ia na capa, como manchete. Ele também escrevia textos menores, mas, no geral, era um só. Usei a máquina algumas vezes, mas resolvi tentar escrever direto no componedor. Nem sei direito como explicar o que era um componedor, espero que a foto seja suficiente. (Achei uma definição no glossário do site português tipógrafos.net*). Mas, saibam que era muito complicado, com risco permanente de tudo desmontar e se misturar, tanto na fase da composição como na fôrma, quando o texto composto já estava amarrado, pronto para ir para a prancha e servir à impressão.

Pois bem – adiantarei, porque não quero fazer um livro -, o pastor Edmundo foi meu primeiro professor de jornalismo. Fui logo aprendendo que, para informar, o jornalista precisa pesquisar, ir o mais fundo possível e trazer à tona os fatos reais, narrando-o com todos os lados possíveis, para o texto não ficar pobre da verdade, não cometer injustiça. Na mesma lição: apuração e ética, a necessidade de ser correto ao dar uma notícia, narrar um fato, “sem atingir a honra e a moral de ninguém”.

Mais tarde, conheci o jornalista Wilson Barbosa, editor de Municípios de A Tarde. Cheguei a ele em 1982 por recomendação de Sylvio Simões, também jornalista e um dos donos do jornal, que eu conhecera em Feira de Santana no lançamento de um livro de poesias escrito por ele. Eu fiz matéria sobre o evento para o jornal Feira Hoje, onde trabalhava. Simões me disse que eu poderia trabalhar no jornal da família dele, me autorizando a procurá-lo depois. Na micareta de 1982, houve uma greve no FH. O sindicato (Raimundo Lima, Zé Carlos Teixeira) negociou com a empresa a volta dos jornalistas ao trabalho, com o menor número de demissões possível. O menor número possível era eu, o foca. Eu e um fotógrafo cujo nome não lembro. Tive que voltar a Jacobina e lembrei de procurar Sylvio Simões e ele me mandou falar com Wilson Barbosa, que poderia me aproveitar no interior.

Consegui ser encaixado na editoria, mas, de graça, sem ganhar um centavo, bastando, como remuneração, ter a palavra “correspondente” antes das matérias escritas por mim e aproveitadas pelo jornal. Jacobina – Do Correspondente. Mas, não é disso que quero falar neste texto (deixo para outra crônica) e sim das lições que tomei com Barbosa e sua subeditora, Sandra Régis. O velho jornalista, responsável pela editoria que talvez fosse o pintinho feio da redação, porque o patinho era a seção de obituário, me disse: “Giorlando, para ser repórter tem que escrever reportagem, tem que saber redigir matéria, não é a mesma coisa de fazer poesia, de escrever bonito, é contar o fato e fato é o que acontece e não o que se cria”. Aí ele me mandava pentear telex. Eu já fazia isso no Feira Hoje. No diário feirense chegaram até a me mandar traduzir press release em espanhol e por um tempo fiz o horóscopo. Mas, isso também não é história para agora.

Naquele tempo, ser correspondente de jornal no interior era ser pauteiro e repórter ao mesmo tempo. Como pauteiro, eu tinha que ter a capacidade de identificar qual assunto era importante para a cidade, mas, acima disso, o que seria interesse do leitor do jornal em qualquer lugar, afinal A Tarde circulava em quase toda a Bahia. Como pauteiro e repórter em uma cidade de 40 mil habitantes, tinha que saber sobre o que e como falar. Era um caminho para conseguir respeito e reconhecimento e isso exigia respeitar as fontes, a sociedade, o lugar, sem abrir mão de ser instigante, questionador. Essa vigilância sobre meu próprio trabalho forjou um profissional cuidadoso com a informação e, sempre, com a fontes e os leitores.

No meu trabalho de repórter, no início, eu anotava as informações que colhia em folhas de papel soltas, depois organizava tudo em um caderno brochura, datilografava numa Olympia que o velho e saudoso Rigoberto Lopes me emprestou por um longo tempo, enviava – de carona em um malote de órgão público (não lembro qual –  e esperava o jornal chegar, no dia seguinte, para comparar o texto editado e publicado com o que estava escrito no meu caderno. Para ver o que tinha sido cortado, o que tinha sido reprovado. Eram aulas, que duraram quatro belos anos. Começaram em Jacobina, continuaram em Salvador, Jequié, Itabuna/Ilhéus, até chegar a Vitória da Conquista, e me servem até hoje, numa jornada que inclui temporadas em São Luís e Imperatriz (MA) e Belém (PA), entre outros lugares onde pratiquei o que aprendi.

Na verdade, sigo aprendendo, como pessoa, e para ser o jornalista que sonho em ser desde menino.

A FONTE

A lição mais preciosa que tanto tempo no jornalismo me ensinou foi a dizer de onde veio o dado que embasa as minhas afirmações em um artigo ou comentário ou a informação que passo em uma matéria. Do que eu falo? Quem me disse, onde li, qual a publicação que avaliza… Porque mesmo que seja um artigo de opinião, um comentário dentro de um programa, o narrador, sendo jornalista, tem a obrigação de dizer de onde veio a informação que ele divulga, a história que ele conta.

Quase tudo tem mais de um lado. Mais do que dois ou três, até. Podemos concordar ou discordar, mas não podemos excluir o fato, os lados, as versões, se há alguém os sustentando. Se duas pessoas são apanhadas em flagrante em uma mesma situação não é correto apresentar só uma. Assim, se duas pessoas agem de forma positiva, têm mérito em relação a um fato ou resultado, não se pode destacar apenas uma. E, principalmente, se dois têm versões, visões e argumentos diferentes, opostos sobre o fato abordado pelo jornalista em sua reportagem/matéria, há que se permitir ao leitor/ouvinte/telespectador conhecer a verdade de cada um para fazer sua avaliação, seu juízo. Eu sei como isso é difícil, principalmente se as pessoas não podem ser encontradas ou ouvidas na mesma hora, no tempo em que a matéria, artigo ou comentário está sendo produzido. Há, inclusive, quem se nega a falar, a dar sua versão e isso isenta o jornalista.

Nos meus quase 40 anos escrevendo para jornais, revistas, TV, sites, produzindo ou apresentando no rádio, sempre levei em conta o tal do outro lado. Incontáveis vezes publiquei sem a segunda versão, porque nem sempre ela foi dada. Mas, sempre evitei dar a primeira versão como definitiva. Mesmo hoje, diante da exigência da velocidade ou do fato notório, reconhecido e comprovado, sempre guardo o espaço do reparo, da crítica, da opinião contrariada. Claro que também são incontáveis as vezes em que errei ao avaliar uma “verdade” ou ao rejeitar uma “mentira”. Mas, quem quer fosse o personagem, objeto, ator, envolvido, jamais seria alvo. Nem idolatrado. Elogios ou críticas, nunca perseguição ou veneração.

Nestas quatro décadas de atuação no campo quase sempre excitante e apaixonante, mas muitas vezes árido e degradante, do jornalismo, aprendi muito. E errei muito. Mas, por ter referências de educação doméstica e boa formação escolar e de trajeto, aprendi a rejeitar a mentira. E se não gosto da mentira, odeio a mentira no jornalismo. Em 40 anos na estrada, tendo sido chefe em veículos de comunicação, assessorias, secretarias e editor de jornais ou revistas dos quais fui sócio ou eu mesmo criei e mantive por algum tempo, pude interagir com muita gente. Alguns que chegavam sabendo um pouco menos que eu, começando ali, arriscando seus primeiros textos ou buscando evoluir como repórteres e jornalistas que sonhavam ser. Muitos daqueles dizem que aprenderam comigo. E talvez eu lhes tenha mesmo ensinado e se o fiz, tentei fazer do jeito certo, orientando-os a fazer do jeito certo.

FAKE NEWS

Não tenho a pretensão de ser professor de ninguém. Mesmo os meus filhos já sabem muito mais do que eu poderia aprender se vivesse o dobro do que já vivi. Mas, apesar de ter ficado mais paciente, ter aderido à diplomacia, na medida que a minha personalidade permite, eu fico muito triste – e tantas vezes aborrecido – quando vejo que há muitos profissionais tratando o jornalismo como mero instrumento de tendências políticas (ou corporativas), a serviço da construção de “verdades”, da defesa de interesses de terceiros, confundidos como se fossem pessoais, sem nem mesmo o serem.

Nessa missão, usam dados, números, informações, boatos, versões, para cimentar os interesses de um lado. É o tempo da tal pós-verdade, a quadra das fake news, a era do “o ruim que eu defendo é melhor do que o ruim defendido por você”.

Há algum tempo, me queixei a um colega, um amigo jornalista (amigos também erram), de que ele tinha reproduzido uma informação deturpada com o propósito de ressaltar um determinado político pespegando defeitos em outro. Era uma coisa que pode ter sido gerada por uma confusão, um equívoco, mas estava sendo divulgada com o interesse de atingir a figura pública, por parte de uma pessoa que sabia que aquilo não era verdade. O meu amigo disse que não se importava, o que importava é que era contra a pessoa a quem ele combatia, e que mesmo distorcida a notícia servia ao propósito.

As redes sociais trouxeram essas coisas à normalidade. Servem, inclusive, para criar ou consolidar mitos, personagens desprovidos de estofo, mas que, objetos de veneração e do mau uso da mídia, transformam-se em heróis ou celebridades, ainda que incapazes de responder positivamente a uma varredura em sua história de vida ou na mínima avaliação de sua capacidade – técnica, profissional, gerencial, administrativa. E acabam por se confirmar péssimos no desempenho da missão conquistada à base da falácia e da enganação.

Na internet se diz o que se quer dizer e basta que isso atinja o inimigo de alguém para que esse alguém espalhe, dissemine como verdade nos zap zap que “informam” e orientam uma massa gigantesca no Brasil. O contrário também acontece. Se uma pessoa tem como inimigo determinado político, artista ou mesmo um cidadão comum, não hesitará em contestar fatos, desfazer história e informações positivas, com argumentos mentirosos, acusações, ataques à honra, espalhando para ingênuos, maldosos, seguidores, partidários, em um efeito dominó, que quando cessar, se cessar, já terá feito estrago irreparável na pessoa alvo dos ataques que, incontáveis vezes, é inocente.

Quando o tema é política – e este tem sido o principal assunto do Brasil há um bom tempo – todo mundo e ninguém parece ter razão. Estabeleceu-se, definitivamente, o lado bom e o ruim (ou dos bons e dos ruins), o bem e mal. A consolidação do pernicioso maniqueísmo. E isso é mais confuso – e perigoso – quando se trata de imprensa, jornalismo. Meias verdades e mentiras completas, ditas como se verdade fossem, se disseminam tanto por um lado quanto por outro. É frequente que programas de rádio e blogs, para enaltecer o dirigente atual, ataquem o gestor anterior e vice-versa. Às vezes, mais versa do que vice. É quando a imprensa se torna o lugar da raiva, da pirraça e do mero interesse político-partidário, visando a manutenção do poder ou a ansiedade para retomá-lo.

Porém, também se pode dizer que na maior parte do tempo tudo é feito como se espera e se admite, pois crítica e elogio têm seu lugares e a sua frequência depende das ações dos avaliados e, também, dos sentimentos do profissional que comenta. Quem deseja que jornalistas, radialistas e blogueiros sejam imparciais o tempo todo deve ser quem descarta a condição humana, social e, portanto, política desses profissionais. Mas, esperar isenção é esperar a atitude certa. E falar a verdade é obrigação. Não é possível? Eu acredito, piamente, que é. Acho que pode ser possível ter opinião, ser contra um lado do fato ou a favor do outro, mas não inventar, não mentir, não colocar defeitos que não existem e nem forçar virtudes que não se acham.

O desvirtuamento praticado frequentemente pela mídia contra os fatos, a história, a informação, em favor de interesses partidários, lobistas e/ou pecuniários, é prejudicial ao cidadão, prejudica a formação dos nossos jovens, marca o meio, marca a vida da cidade, degrada o ambiente político, enfeia o currículo de quem o pratica. Fere a ética. Não a ética burocrática de uma categoria, mas a ética do respeito primário e fundamental à verdade, início e fim de tudo, sustentação da liberdade, o bem maior da humanidade.

Mas, tem gente que não liga para isso.

Por fim, como sempre, aviso que este artigo é uma expressão de um sentimento pessoal, sujeito, claro, a contestações. Respeitosas, espero. Está assegurado o lugar para o contraditório, para a outra versão, se houver. Afinal, é disso que trato desde a primeira linha.

* COMPONEDOR: [Tip hist] (Winkelhacken, alemão). Instrumento imprescindível na composição manual com tipos móveis. Utensílio de que o compositor se serve para reunir os caracteres (letras) que retira da caixa, formando palavras e linhas de texto dentro de uma medida previamente determinada.

Consiste de uma lâmina de metal com dois rebordos em esquadria, e uma peça móvel — a que se dá o nome de justificador — para fixar a abertura da boca do componedor. Esta invenção de Gutenberg serve para formar linhas de texto, recebendo os tipos metálicos que o  compositor vai retirando dos caixotins.

Texto escrito em janeiro de 2019

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