ARTIGOS

Cansei de mim

24 de março de 2022, 10:14

Foto: Reprodução

Cansei-me da elite brasileira! E eu sou parte dela. Cansei de mim.

Branco, com acesso aos Poderes, formado pela UnB e com mais condições de vida do que a absoluta maioria da população. Mas, que coisa nós viramos! Um Brasil triste, capenga e ridículo. Termos ainda 30 % dos brasileiros apoiando o crápula do Presidente diz muito sobre quem nós somos: um país que nega a existência do navio negreiro, que teima em dizer que não há racismo e que convive com a violência e a misoginia. Uma aristocracia que ganha dinheiro com a miséria. Nós somos uma sociedade que aceita sentar-se com o Bolsonaro defensor de torturadores, que cospe nas mulheres, que cultua a morte e exalta a tortura.

A pior representação do que poderíamos imaginar. Vamos esquecer daquela ideia do brasileiro cordial. Vamos fixar no brasileiro sacana, covarde e indiferente com a pobreza, com a fome e com o desemprego. Naquele para o qual pouca importa se nosso sofrido povo está em estado de abandono – com 14 milhões de famélicos e 20 milhões de desempregados. Essa é a nossa elite.

Às vezes, como elite que sou, fico andando pela Europa, ainda que a trabalho, e devo dizer que não vejo aqui o ambiente tóxico que temos no dia a dia da imprensa brasileira. É difícil ter, como temos, alguns jornalistas viúvos do ex-juiz Sérgio Moro e que se apresentam como ícones. Parece não existir fundo nesse buraco. Nós somos o fim do tal poço.  

Mas, ainda assim, é preciso resistir às tragédias diárias. Não é possível viver somente entre uma guerra sanguinária de uma ocupação covarde e bandida e um Brasil se desmilinguindo como povo e como nação. Hoje, somos uma imagem pálida do que éramos na era do Lula. O bando chefiado pelo Moro, que foi o principal eleitor do bolsonarismo, a serviço de grupos que precisam ser desmascarados, roubou o que tínhamos de mais nosso: uma identidade orgulhosa de um país.

Sendo lulistas ou não, temos apenas uma chance de voltar a ter o Brasil de volta: derrotar esse projeto obscurantista. Vamos vencer o fascismo, confrontar os representantes da barbárie e fazer um Brasil feliz de novo!

Na verdade, não estamos a pedir muito. É um pouco de respeito, uma pitada de amor, um carinho pelas pessoas que estão absolutamente desprotegidas e um afago, no limite. Até, quem sabe, um abraço amigo. Ou seria pedir demais um contato assim, quase amoroso, com quem esses bárbaros cuidam de afastar das nossas vidas? E vamos enfrentá-los em todas as áreas.

Ainda agora, o Superior Tribunal de Justiça condenou um dos membros daquele bando.  O tal Deltan foi condenado a pagar ao Lula, pela leviandade do uso do power point, um valor a título de danos morais. Um gesto mínimo de respeito por parte do Judiciário. Um reconhecimento de que a breguice, o uso político e a ausência de técnica jurídica do Ministério Público não podem prevalecer. Deltan não é só corrupto e incompetente; ele é coitado, brega e vulgar.  E a sua reação contra o Tribunal foi de um destempero de quem se julga acima das instituições.

É o começo do fim do grupo que Moro comandava. Vamos garantir a eles os direitos que eles desprezaram. Todos, inclusive o da prisão somente após o trânsito em julgado. Sem vingança, apenas com respeito à Constituição.

Remeto-me ao grande Castro Alves, em O Navio Negreiro:

“Quem são estes desgraçados,

Que não encontram em vós,

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são?”

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

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O brasileiro é, antes de tudo, um forte

17 de março de 2022, 08:32

Foto: Reprodução

*Por Gervásio Lima – Um novo normal se apresenta como a banalização de tudo que se foi construído em torno da essência do apaziguamento, das relações interpessoais e do que realmente é o respeito à vida. O egoísmo e as vicissitudes preponderam, enquanto o bom senso se confunde com o irreal.

O saber viver nunca foi tão necessário, principalmente no momento em que o comportamento passou a ser um termo que generaliza as escolhas em todos os sentidos. O novo não significa necessariamente boas mudanças, ao contrário, em muitos casos ele tem sido nocivo, perigoso.

As distorções propositais estão aliadas à falta da capacidade de interpretar determinadas mensagens. O querer apenas ouvir e falar o que considera como verdade absoluta é a ponta do iceberg, uma pequena parte de um problema que inevitavelmente pode gerar situações desagradáveis.

Como se estivessem em uma verdadeira guerra, onde o perigo é iminente, os indivíduos se comportam como se estivessem em um campo minado, colocando o fator sorte e sua crença religiosa como justificativa para o livramento.

A Angústia, o medo e até mesmo a vergonha por ter tomado determinada decisão ou ação têm transformado criaturas em seres introvertidos e rodeados de incertezas.

O novo normal não acontecerá quando tudo que se entende por ruim passar ou acabar; o novo normal nada mais é que a capacidade de aceitar as diferenças, respeitar o semelhante e não fazer juízo de valor através de conceitos antecipados.

Enquanto xenofóbicos, misóginos, homofóbicos, ’etaristas’ e outros tantos praticantes de discriminações e preconceitos não aprenderem que todos são iguais e dividem espaços no mesmo planeta, a normalidade não deixará de ser uma utopia.

Quem acredita que a prática do bem é um caminho ainda seguido pela maioria, não se deixa abater e nem dá lugar para o desanimo e o desespero. Parafraseando Euclides da Cunha, em seu clássico Os Sertões, ‘o brasileiro é, antes de tudo, um forte’.

As adversidades não são invencíveis e não podem ser usadas como subterfúgio. A partir das dificuldades é que se alimentam as forças para derrotar aquilo que aflige. O alento ao encarar uma ladeira é saber que ela não possui apenas subida, mas também descida.

Forte é o povo.

* Jornalista e historiador.

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A vida é assim

11 de fevereiro de 2022, 06:21

Foto: Gervásio Lima

*Por Gervásio Lima – É comum atribuir determinadas dificuldades, situações aflitivas e outros momentos turbulentos da vida a uma ‘provação’, uma prova à força moral, e mais comumente à fé religiosa. Algo muito particular, é entendido de diversas formas, tanto pelos que são acometidos por algum problema, e até mesmo pelos ‘conceiteiros de plantão’, aqueles que conceituam a vida alheia em detrimento da sua.

Atribuir a fatos externos para justificar o motivo  (ou até mesmo se autojulgar) dos desarranjos que venham ocorrer é uma forma de minimizar uma situação geralmente muito desagradável. A ‘lei do castigo’ assusta e prejudica o que se pode chamar simplesmente de ‘uma consequência’. Sem incluir aquilo que se considera inevitável, toda ação é suscetível a erros e consequentemente a resultados negativos.

Esperar o ruim acontecer para valorizar o bem é uma atitude egoísta. Não é preciso que aconteça o mal para demostrar complacência, nem ser autocomplacente para desculpar os próprios erros ou aceitar os defeitos.

Está bem consigo mesmo, enquanto o semelhante clama pela falta de emprego, pela ausência de comida, do difícil acesso a itens que deveriam ser básicos, como moradia, saúde e educação, é uma clara demonstração de egoísmo daqueles que priorizam os seus próprios interesses e não se importam com os dos outros.

Nem tudo que é desejado ou esperado se concretiza, e não é por isso que o fim está por perto.

A vida é feita de escolhas, de pensamentos, sentimentos e atitudes. Conforme a ‘lei do livre-arbítrio, todos têm o direito de escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante. Ou seja, o sujeito possui a capacidade de tomar decisões por conta própria, a capacidade de escolher como agir e como se comportar. O que vier a acontecer não terá responsabilizado e sim apenas um responsável.

De acordo a ‘lei do retorno’, cada ação que se faz gera uma reviravolta a quem fez. Em suma, acredita-se que existe um mecanismo compensatório para equilibrar as próprias ações em sociedade e no universo. Se for uma boa pessoa, terá coisas boas, mas se for o contrário sempre pagará com a mesma moeda.

Viver é sinônimo de respeito a si e aos que estão em volta. Viver é saber diferenciar o chute da topada e a vitória da derrota. Viver é assim, assado…

*Jornalista e historiador

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A Bahia é porreta

20 de janeiro de 2022, 17:47

Foto: Gervásio Lima

*Por Gervásio Lima

A fama de ‘descansado e sossegado’ do baiano já caiu por terra. A coragem e a luta da população baiana são fatos marcantes e fazem parte do dia a dia daqueles que trabalham arduamente pela sobrevivência. Faça chuva ou faça sol, estão sempre presentes na labuta.

Agora uma coisa não se pode negar, o povo baiano é de nascença muito festeiro. O gingado, o requebrado e a alegria contagiantes estão intrinsecamente ligados à vida e à alma baiana. Com o mesmo vigor do trabalho e da correria cotidiana, sempre que possível o corpo e a mente se entregam e se esbaldam no canto e na dança.

Baianamente falando, o povo baiano além de feliz é retado.

Talvez de todos os brasileiros, os baianos são os que mais têm sofrido com as limitações impostas pela pandemia da Covid. O não poder abraçar, beijar e carinhar como gostariam, angustia, mas não tanto quanto ser tolhido do que mais gostam: dividir e espalhar felicidade do seu jeito único e frenético de ser.

Baiano é uma figura porreta. Amigo, companheiro, parceiro… boa gente. A Bahia vai além do seu sotaque, é um lugar apaixonante, de pessoas acolhedoras e solícitas, sempre à disposição para ajudar. A Bahia é o norte, sul, leste e oeste; é o mar, é o rio, é a mata, a caatinga e o cerrado. A Bahia é o ontem, o hoje e a saudade amanhã.

A baianidade é sinônimo de diversidade, de querer bem e de gostar sem olhar a quem; é viver com intensidade e ter a certeza que poderá realizar o que foi sonhado. Baianidade é alegria, é trabalho, é fé.

Não basta viver na Bahia, é preciso ‘viver a Bahia’, apreciar sem moderação seus atrativos naturais e históricos; conhecer e se deliciar com sua culinária, saboreando do acarajé ao bode assado; da galinha caipira à feijoada, à maniçoba e ao vatapá.

Quero meu umbu, meu caju, minha goiaba e meu araçá, enquanto não chega a laranja, a jaca, o abacaxi, a manga, a uva, o morango e a cajá. Não esquecendo do tamarindo, jenipapo, seriguela, pitanga, acerola, abacate, mamão e o maracujá.

Viva o Senhor do Bonfim, Viva Iemanjá e Oxalá!

*Jornalista e historiador

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O futuro a Deus pertence

16 de dezembro de 2021, 08:48

*Por Gervásio Lima –

Quem nunca teve vontade de voltar no tempo, ou de ter o poder de bisbilhotar o futuro? Visitar o passado é uma verdadeira utopia dos que vivem em uma espécie de nostalgia plena, com a saudade fazendo parte do cotidiano de suas vidas. Saber o que o espera ou o que irá acontecer lá na frente é talvez uma das maiores curiosidades do ser humano, que chega a recorrer a métodos quase bizarros na tentativa de decifrar o quase sempre indecifrável.

Passear um pouco no que foi vivido, do ponto de vista da lembrança, é absolutamente possível, principalmente quando o que já passou marcou e inevitavelmente ficou guardado na memória. Como diz a música, ‘o que passou, passou’. O que aconteceu de bom serve como exemplo para se viver o presente e para tornar o que ainda está por vir um pouco mais previsível.

Tudo pode acontecer, inclusive nada, mas dependendo do planejamento, o que envolve principalmente o comportamento, é possível sim prevê o amanhã, mesmo que não seja em sua totalidade. Viver o agora é uma espécie de premiação para quem chegou até aqui. Enquanto o mais adiante não chega é necessário e saudável contemplar o dia de hoje como se fosse o último.

Todo mundo tem um vidente em si, mas o resultado do ‘eu sabia’ só acontece depois, como uma possibilidade considerada. As previsões não passam de hipóteses. Como já relatado anteriormente, o futuro é o resultado de uma soma de fatores que podem ou não interferir no que irá acontecer.

É importante entender o passado para se compreender o presente e tentar projetar o futuro, pois o passado e o presente podem nos dar respostas do que devemos fazer para alcançarmos o futuro desejado. Mas não adianta fazer planos contando com algo que está para chegar, pois como já diz o ditado: “O futuro a Deus pertence”

“Não sei porque você se foi

Quantas saudades eu senti

E de tristezas vou viver

E aquele adeus, não pude dar

Você marcou em minha vida

Viveu, morreu na minha história

Chego a ter medo do futuro

E da solidão, que em minha porta bate”  –   Gostava Tanto de Você – Édson Trindade (cantada por Tim Maia).

*Jornalista e historiador

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Pobre, rico, país chamado Brasil

02 de dezembro de 2021, 15:47

‘Um índice pode ser um indicador, um sinal ou um fator de referência. Serve, também, como um comparador para explicar determinadas situações ou condições’. Palavra simples e de fácil pronúncia, tem poder de provocar tanto sentimentos positivos quanto negativos, dependendo da situação e do enunciado.

Pavoroso para uns, simpático para outros, tem sido mais utilizado ultimamente como estatística de informações desagradáveis. A todo momento é apresentado algo desolador, em todas as áreas. Na televisão, no rádio, na internet ou em publicações impressas, a situação do Brasil é revelada como preocupante em todos os aspectos. Os índices/indicadores são alarmantes, principalmente quando se trata de fome, segurança, saúde, educação e economia. O país tem registrado números negativos, que preocupam não só a sua população, mas também o mundo, sobretudo no que se refere ao meio ambiente, à economia, à saúde pública e segurança. A imprensa independente e até mesmo as consideradas conservadoras já não escondem o que a maioria gostaria que fosse uma fake news, uma notícia falsa.

O medo é uma reação natural e normal do ser humano quando vislumbra algum perigo, mas, por outro lado, a coragem é a capacidade de reagir, apesar do medo e da intimidação. Com disposição, força e vigor, supera-se o medo e enfrentam-se os problemas e as situações complicadas. Melhor ainda, os corajosos são conscientes das suas próprias possibilidades e estão sempre dispostos a seguir suas ideias quando sabem que estão corretos.

O medo é talvez o sentimento que impera nesses momentos incertos e tortuosos, mas o alento é saber que existe a coragem.

Este não é o Brasil que o brasileiro quer:

‘Imagem do Brasil derrete no exterior’ (El País), ‘O mundo avança e o Brasil fica fora’ (IstoÉ), ‘Fome volta a crescer no Brasil e atinge 10,3 milhões’ (Poder 360),’ Mercado financeiro volta a elevar estimativas de inflação para 2021 e 2022’ (G1), ‘Gasolina volta a subir no Brasil e chega a R$ 8,00 por litro’ (Pragmatismo político), ‘Por dia cinco mulheres foram vítimas de feminicídio em 2020, aponta estudo’ (CNN), ‘Corte de verbas para educação preocupa pesquisadores e universidades’ (Diário do Pernambuco), ‘Brasil lidera lista de países que mais desmataram florestas’ (UOL), ‘Brasil duplica armas registradas em um ano, e mortes violentas crescem na pandemia’ (BBC), ‘Brasil registra mais de 12 mil crimes de ódio pelo segundo ano consecutivo e o número de denúncias quase dobra’ (wordshealtheworld), ‘Brasil está entre os três países com as piores inflações no mundo’ (Yahoo) …

Por Gervásio Lima

Jornalista e historiador

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A beleza de ser um eterno aprendiz

17 de novembro de 2021, 19:07

*Por Gervásio Lima –

O aprendizado é uma busca constante dos que procuram estar atualizados e abertos ao novo. Conhecimento nunca é demais. Aprender instiga a curiosidade e ajuda a mudar a forma como enxergar o mundo, contribuindo com o crescimento intelectual e humano. A vida por si só é um aprendizado em potencial, portanto “pensar na morte da bezerra” enquanto o mundo gira é uma característica dos fracos.

Perder a vontade de conhecer e descobrir o ainda desconhecido, por acreditar que assim como um produto perecível possui data de validade, é valorizar a inércia em detrimento do entusiasmo e uma falta de compromisso consigo mesmo.

O estagnado, assim como o entrevado, jogam no mesmo time, em competições onde os demais participantes são da turma da ‘dona preguiça’ e do ‘seu acomodado’. A vida é dinâmica, por isso é preciso estar em movimento constante e em sintonia com um conjunto de situações e hábitos.

Enquanto se tiver o privilégio de fazer parte do grupo dos viventes é preciso se comportar como o tempo, não parar. Ao enfrentar, lutar, acreditar e nunca desanimar já se estará contribuindo para o autodesenvolvimento físico, metal e até mesmo espiritual.

O lamento parte geralmente do fraco e existe em decorrência da falta de energia social, do querer ser e fazer. A falta de atitude é uma espécie de covardia, quiçá de egoísmo.

As consequências para os que acreditam que já sabem o suficiente são catastróficas e, como um vírus, contaminantes. Os que sentem o desejo de aprender geralmente exortam o sentimento do aprendizado, contribuindo desta forma com a formação de uma sociedade mais saudável intelectualmente, portanto mais justa e igualitária.

Assim como a própria palavra, a misantropia não deve ser algo fácil de se encontrar e tomara que um dia não exista nem mesmo nos dicionários.

“Viver e não ter a vergonha

De ser feliz

Cantar, e cantar, e cantar

A beleza de ser um eterno aprendiz…” –  O que É, O que É – Gonzaguinha

*Jornalista e historiador

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Quem sabe faz bem feito

10 de novembro de 2021, 09:24

Por Por Gervásio Lima –

Insistir em fazer o que ainda não aprendeu é como ‘se meter onde não foi chamado’, ou como diz o bom baiano: ‘querer entrar no jogo sem ficha’. O desejo não se completa quando o sentimento é aventureiro. Aquilo que se pensou e achou que sabia, envolvido apenas na necessidade de realizar egoistamente um intento pessoal, inevitavelmente será frustrante para o ’sonhador’, com resultado desastroso.

Um bom sonho pode virar realidade, desde que se busque uma realização de forma a não prejudicar os que sonham diferente. É bom saber que vontades e objetivos caminham juntos até que uma tal de vaidade aparecer para bagunçar o coreto.

Planejamentos e atitudes fazem parte da vida. Enquanto um tem o papel de formalizar o outro cuida da parte da decisão, uma espécie de teoria e prática essenciais na formação não só profissionais como de conceitos sociais. Uma atitude mal planejada tem a probabilidade de quase cem por cento de que o resultado fatalmente será negativo. Não existirá eficiência naquilo feito por quem não possui experiência. Quem sabe faz bem feito e quem não sabe ‘armenga’, isto é fato.

Tentar fazer algo difícil para chamar atenção de determinado público é como se virar nos trinta, quando o tempo é o principal desafio dos que tentam cumprir alguma tarefa. A protelação é um hábito que pode e deve ser modificado, mas não como regra, vez e quando faz bem deixar para amanhã o que gostaria de fazer ontem. Vários aspectos justificam tal narrativa, sendo uma das principais o fato de se ganhar tempo, ou até mesmo treinar, para evitar que decisões venham a ser tomadas erradas ou de formas precipitadas.

O que não pode e não deve, de jeito maneira, é deixar de fazer o que considera essencial e correto para ‘depois de amanhã’, aí já fica muito tarde e daí, adeus saudade.

Quando se trata de gestão pública, o mínimo conhecimento em planejamento e relações humanas são essencialmente obrigatórios. Não se deve levar na brincadeira aquilo que envolve o coletivo. O comportamento pessoal reflete diretamente na gerência administrativa. O compromisso confiado por uma população não pode destoar com atos que ponham em xeque o sentido real da função. Quando não possui, a principal fantasia a ser usada é a da transparência, integridade e empoderamento, durante o tempo que tiver como timoneiro. Já a humildade e a honestidade, além de qualidades, são preceitos inevitáveis do cidadão, em qualquer posição que esteja.

*Jornalista e historiador

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Devanear é preciso

29 de outubro de 2021, 06:33

*Por Gervásio Lima

Segundo o filósofo Gilles Deleuze a prática é inspiradora da teoria, ‘uma criadora em relação a uma forma futura’. Para um simples vivente, que nunca ouviu falar em filosofia, muito menos ‘quem bexiga’ era Deleuze, a diferença entre a teoria e a prática é didaticamente explicada como o que se ‘aprende vendo e o que se vive vivendo’. Ou seja, o comportamento de um aprendiz desassocia do aprendizado.

O mundo fantasiado pelo teórico é uma espécie de sonho, uma utopia, inevitavelmente traído pelo real. Diz-se que o inicio é tudo aquilo comparado ao ‘sem juízo’, enquanto o que vem depois é a mistura da mentira e a concretização de um mundo onde o saber é aquilo que se vive no presente.

Acreditar que se planeja, enquanto não se tem uma noção do que realmente está se planejando, é como querer ser professor sem ter freqüentado e nem conhecer o papel de uma sala de aula.

Ao contrário do que é sabido, educação não vem de berço. Aprender é uma arte individual, subordinada a interferências externas e construída de acordo com fatores que excedem a própria vontade. Pode-se, assim, não se obter o resultado pré-estabelecido.

O correto é, mesmo que seja ‘aos trancos e barrancos’, não se valorizar o ‘talvez’, o ‘acho’, o ‘será’, e os demais termos que complementam a família da insegurança e da dúvida. Seguir em frente e buscar acertar sempre, sem arrependimentos e encarando as decepções já demonstra que o tempo vivido valeu a pena em toda a sua extensão, com momentos bons e ruins se completando e formando conceitos que contribuem para a compreensão do que é a vida e de como se deve vivê-la.

Seguir regras é o caminho da convivência cidadã, não adianta inventar ou impor modos de existência em desacordo com o aceitável. Esta é a verdade. As relações são guiadas de acordo com o que se aprendeu, com o que se pratica. Uma teoria só é considerada como tal se for provada pela prática, e não existe teoria sem prática.

Voltando a Deleuze, ‘a vida é como uma obra de arte e como tal cria focos de enfrentamento e resistência aos efeitos do saber e do poder’.

*Jornalista e historiador

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A despedida é dolorida

19 de outubro de 2021, 13:53

As pessoas que tiveram a oportunidade de fazer parte de uma das mais importantes dádivas, quiçá a principal, a vida, estarão presentes eternamente no ‘mundo físico’, ao serem lembradas pelos seus feitos e suas contribuições enquanto viventes.

Viver não é apenas usufruir do que é oferecido ou daquilo que seja de fácil acesso; viver é compartilhar sabedorias, conhecimentos, é dividir com o próximo o muito ou o pouco; é criar condições para que o semelhante viva de forma igualitária, com os mesmos deveres, mas principalmente com os mesmos direitos. Viver é saber que de alguma forma se está contribuindo para que ‘as vidas’ tenham propósitos coletivos.

A prática do bem, da empatia, da sensatez, da sensibilidade e da humildade são algumas das qualidades que marcam os seres humanos que já partiram para uma outra dimensão. A dor da partida, qualquer que seja a despedida, corrói, machuca; dói muito… Talvez seja uma das mais desagradáveis e duradouras sensações que existem, algo que nem o tempo consegue apagar, mas essa dor é atenuada pelas boas lembranças e bons exemplos deixados como legados por aqueles que se foram.

O barco segue viagem, a saudade fica… A maré oscila e o mar continua o mesmo. O alento para a forte tempestade é ter a certeza de que ela é passageira e, a depender da forma como foi precavida, poderá até ser contemplada em vez de temida.

As escolhas nortearão rumos e definirão resultados. A regra é clara: toda boa ação é ou será reconhecida, enquanto que o comportamento egoísta e inóspito inevitavelmente conduzirá ao ostracismo. Para o pior não prevalecer é preciso buscar sempre o melhor; a boa convivência, a boa amizade, a imitação do legal e a prevalência do que é certo, que não dói.

Aos familiares do meu amigo Marivaldo Teixeira dos Santos deixo minhas condolências. Perdemos um grande exemplo de ser humano. Que seus ensinamentos sejam seguidos pelos que foram gratificados pela sua bela amizade. Eu próprio sou grato pelas oportunidades profissionais que me proporcionou e por fazer parte da minha família a partir do momento em que aceitou ser meu padrinho de casamento.

Tenha um bom descanso ‘Seu Marivaldo’.

Obrigado por tudo.

Gervásio Lima.

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