CULTURA
Artista restaura cor de brasileiros fotografados às vésperas da abolição
23 de setembro de 2019, 10:27
Foto: Marina Amaral
O retrato à direita foi restaurado e colorido pela artista brasileira Marina Amaral e é uma das 22 fotografias que a artista está recuperando para sua série “Escravidão no Brasil”.
“Quando a gente olha para os números e para a escala enorme do que foi a escravidão, fica tudo meio abstrato. Mas quando consegue olhar para as pessoas… Ver cada rosto deixa tudo menos abstrato, cria uma conexão”, disse à BBC News Brasil.
A mineira de 25 anos é artista digital especializada em colorir fotos antigas em preto e branco – ficou conhecida mundialmente por dar cor a fotos das vítimas dos campos de concentração de Auschwitz. Ela diz que sempre teve vontade de criar um projeto sobre história do Brasil, mas tinha dificuldade de encontrar um arquivo que tivesse fotos em alta resolução.
“Até descobrir esses 22 retratos através de uma biblioteca de Berlim”, diz ela à BBC News Brasil. Encontrar fotografias de escravos do século 19 é algo raro. Nas poucas vezes em que eram retratatos, era como parte da propriedade de algum grande senhor de escravos.
Pelas roupas e adereços desta moça retratada, e possível que ela fosse livre
Mesmo sobre o ensaio de Alberto Henschel não há muitas informações. “O que se sabe é que elas chamaram muita atenção na época porque ele tentou retratá-los com um certo nível de dignidade que não era comum”, diz Marina.
Henschel era um fotógrafo profissional alemão que se tornou um dos pioneiros da fotografia no Brasil no século 19 e chegou a retratar a a monarquia brasileira, incluindo o imperador Dom Pedro 2º e sua família. Seus primeiros estúdios foram em Recife e em Salvador. A partir de 1870, ele passou a atuar também no Rio de Janeiro e em São Paulo.
É possível que entre os negros retratados por Henschel também houvesse homens e mulheres livres — sua luta por liberdade era constante e muitos conseguiram conquistar sua própria liberdade antes das leis que foram progressivamente abolindo a escravidão, até o seu fim definitivo com a Lei Aurea, em 1888.
O processo de colorir
Para Marina, colorir as fotos ajuda a trazer o observador para mais perto das pessoas retratadas.
“Aplicar cores a esses fotos permite que as pessoas criem uma empatia maior, humaniza as vítimas. Fotos monocromáticas parecem uma coisa quase irreal, parece que aconteceu há tanto tempo, que não foi de verdade”, afirma.
Este retrato foi o primeiro colorido por Marina Amaral para sua série sobre escravidão no Brasil
“Mas, com cor, ainda mais em um mundo tão cheio de estímulos, é mais fácil de entender, aproxima. Eles passam a ser pessoas como a gente, e não só personagens de livros.”
Marina passa cerca de três a cinco horas colorindo cada foto – caso os originais estejam em bom estado. As que estão mais danificadas e precisam de restauração antes demoram muito mais.
“A segunda foto da série (veja abaixo) demorou entre 10 e 12 horas, porque tive que limpar as partes danificadas.”
Marina explica que o processo de descobrir as cores em fotos antigas é uma mistura de pesquisa histórica com escolhas artísticas.
Para retratar o tom de pele de cada um, ela faz uma interpretação a partir da escala de cinza das fotos originais.
Esta é a segunda foto da série e foi tirada em Recife
“Como não temos muitas informações sobre as pessoas, é uma interpretação mais artística”, diz ela.
“No caso da roupa dos escravos, sei que eles jamais poderiam usar tons muito chamativos. Usavam muito branco e creme. Uso como referência pinturas históricas e desenhos que foram feitos na época”, explica.
“Olhando para as fotos também é possível saber onde as roupas estavam mais desgastadas e sujas.”
Ampliação
“Foi a primeira que eu fiz algo relacionado à história do Brasil que gerou um impacto tão grande”, diz Marina, sobre a reação positiva que os dois primeiros trabalhos da série tiveram nas redes sociais.
Inicialmente, ela ia apenas postar as fotos em sua rede, mas quando viu a reação decidiu fazer algo maior. “Resolvi convidar alguns professores e autores brasileiros parar dar um contexto para as fotos. A idéia principal é apresentar a história do Brasil para os meus seguidores de fora, já que a maior parte do meu público é da Europa e dos Estados Unidos”, diz ela. As legendas são publicadas em inglês e português.
“E também que falem dos impactos desse período nos dias de hoje, porque vivemos as consequências da escravidão todos os dias.”
Em entrevista polêmica, Milton Nascimento declara que “música brasileira está uma merda”
23 de setembro de 2019, 03:22
Foto: Nathalia Pacheco / Divulgação
Após repercussão, conta oficial do cantor no Instagram amenizou declaração e citou jovens talentos.
O cantor e compositor Milton Nascimento, 76 anos, fez algumas declarações fortes em entrevista publicada neste domingo (22) no jornal Folha de São Paulo pela colunista Monica Bergamo. Suas críticas foram à qualidade da música atual produzida no país.
— A música brasileira tá uma merda. As letras, então. Meu Deus do céu. Uma porcaria – opinou Milton. Emendando: — Não sei se o pessoal ficou mais burro, se não tem vontade (de cantar) sobre amizade ou algo que seja. Só sabem falar de bebida e a namorada que traiu. Ou do namorado que traiu. Sempre traição.
Milton, todavia, cita à colunista os nomes de Maria Gadu, Tiago Iorc e Criolo como músicos de que gosta na atual geração. A entrevista repercutiu neste domingo em redes sociais, mas sem contestações veementes. Milton Nascimento era o 19º assunto mais debatido no Twitter no Brasil no final de tarde de domingo (22).
Cinco horas depois de publicar uma foto da entrevista em seu perfil oficial no Instagram (@miltonbitucanascimento), a conta do músico fez uma segunda postagem amenizando o título da entrevista e citando outros nomes admiráveis, porém, na sua visão, fora do “mainstream do mercado nacional”. Por isso não foram citados. Diz o texto:
“Fora do contexto, o título de uma reportagem pode levar o leitor a conclusões equivocadas. A frase escolhida para a manchete da entrevista que Milton Nascimento deu à jornalista Monica Bergamo se refere exclusivamente à música feita no mainstream do mercado nacional, consumida pela massa. E só a ela. Justamente por isso, os únicos citados por ele como contra-exemplo foram Maria Gadú e Tiago Iorc, dois dos raros artistas talentosos que transitam nesse universo industrial. Bituca jamais se referiu à nova geração brasileira que, à parte do mainstream musical, tem construído a melhor música desse novo tempo.”
Confira o post do músico, em que marca diversos artistas e manda “um salve” a eles:
https://www.instagram.com/p/B2uSBSXBZPA/?utm_source=ig_embed&ig_mid=XMDbQgABAAH7g3a7eU4ZcXUWEnuv
Prestes a receber um prêmio da União Brasileira dos Compositores, Milton comenta ainda que não anda “com muita vontade de compor” por estar “meio triste com a vida”:
— Não com a minha vida, mas com o geral. Quero acreditar, mas não acredito muito no mundo. Principalmente na burrice, na política. Para compor não tenho tido inspiração, não — disse Milton à colunista.
O músico conta ainda que foi incentivado a não deixar de cantar pelo ex-presidente uruguaio, José Mujica.
— Uma hora ele perguntou para mim: ‘Como está a política no Brasil?’ Eu falei: ‘Tá uma merda. Dá vontade até de parar de tocar’. Ele respondeu: ‘Não. Nunca pare de cantar. Porque a música é a coisa que pode salvar o mundo’ — contou.
Agenda Cultural
19 de setembro de 2019, 10:36
O Sarau do Galpão homenageia duas mulheres especiais neste mês setembro, a escritora, romancista, poetisa e ensaísta Conceição Evaristo, e Elisa Lucinda, poetisa, jornalista, cantora e atriz. Na noite desta sexta-feira (20), acontecerá o lançamento do livro Poesia e Texto Livre do escritor pernambucano Leo, na Livraria e Café Sertão e apresentação do Projeto Desleitura sem série!
O Galpão Payayá fica localizado no início da rua Edgar Pereira, em Jacobina.
Morre o cantor português Roberto Leal aos 67 anos
15 de setembro de 2019, 13:30
Foto: Reprodução
O cantor português Roberto Leal morreu na madrugada deste domingo 15, em São Paulo, aos 67 anos. O Hospital Samaritano, onde o cantor estava internado, confirmou a morte nesta manhã. O artista ficou conhecido por sucessos como “Bate o Pé” e “Arrebita“.
Segundo a sua assessoria de imprensa, a causa do falecimento foi insuficiência hepática decorrente de um tratamento de câncer. Leal estava internado no hospital desde terça-feira 10, após ter uma reação alérgica a um medicamento que tomou. O cantor vinha há dois anos tratando da doença.
O velório do artista será aberto ao público e acontece na Casa de Portugal (av. da Liberdade, 602), região central de São Paulo, na segunda-feira (16), das 7h às 14h, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
Carreira
António Joaquim Fernandes nasceu em 1951 em Macedo de Cavalheiros, região Norte de Portugal. Cantor e compositor, mudou-se aos 11 anos de idade com a família para São Paulo onde, na década de 1970, adotaria o nome artístico de Roberto Leal.
Suas músicas românticas e fados portugueses encantaram as plateias brasileiras. Estourou com “Arrebita“, apresentado na Buzina do Chacrinha, em 1978, na TV Tupi (assista abaixo).
Outro sucesso do cantor foi a canção “Bate o Pé“:
Após estrondoso sucesso na década de 1970, Leal se apresentava como embaixador da cultura portuguesa no Brasil.
‘A gente que viveu na época da ditadura tem medo que isso volte’, diz Gal
14 de setembro de 2019, 19:52
Foto: Reprodução
A pele do futuro é o título do mais recente disco de Gal Costa, lançado no ano passado. Dá nome também a seu show e ao registro ao vivo dele, que chegou às plataformas digitais na sexta-feira, 13. No entanto, o espetáculo da cantora baiana, uma das grandes vozes da música brasileira, diz muito mais sobre seu presente e seu passado. O roteiro do show, idealizado e dirigido por Marcus Preto (leia entrevista aqui), cria conexões precisas e, muitas vezes, surpreendentes entre antigos clássicos da artista, canções do novo trabalho e músicas até então inéditas na sua interpretação. Após ser fisgado por esse repertório, o público se deixa levar por esse caminho em que o novo e o antigo se confundem.
Pensado em três blocos, o show é aberto com canções escritas no período da ditadura, de onde saem grandes momentos, como Vaca Profana (com citação de Rolling Stones), de Caetano, e London, London, composta por ele no exílio em Londres – e que Gal não cantava havia muito tempo. No bloco seguinte, o de amor e desamor, estão músicas que ela nunca tinha cantado, como Motor, de Teago Oliveira, vocalista do Maglore, e O Que É Que Há, de Fábio Jr. e Sérgio Sá, em viscerais interpretações. De caso pensado, a última parte do show é a dos temas dançantes, incluindo Sublime (Dani Black), uma das melhores faixas do novo disco, e um pot-pourri de frevos, como Balancê (João de Barro/ Alberto Ribeiro) e Massa Real (Caetano), que lava a alma das plateias. Gravado em março, em duas apresentações na Casa Natura Musical, em São Paulo, A Pele do Futuro ao Vivo registra todo esse clima do show de Gal na íntegra. O projeto também pode ser encontrado em edições luxuosas em DVD e CD duplo.
Qual o desafio da construção desse repertório, em que há um diálogo contínuo entre passado e presente?
Essas canções que eu canto há muito tempo, que gravei no passado, como London, London e outras que estão no repertório, na verdade, atualmente eu as canto de uma forma nova e os arranjos são diferentes da gravação original. Então, de certa maneira, tem um frescor nelas. É um reencontro com essas canções. No momento, acho que é um pouco isso: revelar para as pessoas que têm informação sobre meu trabalho, mas não viram de perto aquilo, ao vivo, que têm idade mais nova que a minha. Tem muita garotada que vai aos meus shows. É um pouco para falar da minha história, da história do tropicalismo, da MPB. E também me dá muito prazer em fazer. Me alimenta fazer música, cantar. É uma coisa que me faz muito bem, e acho que isso é importante, eu continuar fazendo. Viajar ainda é prazeroso.
E como você e Marcus Preto chegaram a essa seleção?
A ideia é trazer o meu passado, que é rico, é muito emblemático para os jovens justamente – embora eles conheçam tudo, é impressionante. É uma garotada diferente da época em que cantei, que era tudo hippie. Hoje em dia a plateia tem cara de careta, mas são garotos legais.
Das surpresas do repertório do show, vale destacar ‘Motor’ e ‘O Que É Que Há’, sucesso de Fábio Jr.
Eu nunca tinha gravado Fábio Jr. Gosto do Fábio como ator, como compositor, mas eu nunca tinha me ligado nas coisas que ele fazia muito, e Marcus me mostrou essa música. Até achei estranho, mas comecei a cantar e vi que ia bater bem. Cantei para experimentar e ela veio de uma maneira fácil.
É interessante você gostar do Fábio Jr. como compositor, mas nunca ter pensado em gravar, cantar música dele. Isso foi por causa do estilo de música dele?
Talvez o estilo. Não sei, mas nunca tinha pensado em gravar.
Você falou no show, antes de cantar a música, que tinha namorado com o Fábio. Isso foi anos 1970, não é?
Foi em 79, 80, não sei bem a época. Nem é bom dizer, porque Fábio é muito galinha, vai que ele estava casado (risos). Foi um namorico, eu fiquei com ele, como diz hoje em dia a garotada. Ele era galanzão e mulherengo à beça. Não sei se ainda é (risos).
Gal, depois de anos, volta a cantar ‘London, London’ e ‘Chuva de Prata’ Foto: Nilton Fukuda/ Estadão
Das canções clássicas na sua voz, algumas delas você não cantava fazia tempo em seus shows?
London, London, por exemplo, eu não cantava havia um tempão. O blues Lágrimas Negras, eu não cantava fazia muitos anos. Chuva de Prata também.
‘Chuva de Prata’ tocou muito. Então, foi proposital deixá-la um tempo quieta?
Na época em que elas se tornaram grandes sucessos, eu cantei muito, e depois que o tempo foi passando, comecei a deixá-las um pouco de lado. Por exemplo, Chuva de Prata é uma música… Engraçado que, quando minha mãe ouviu essa canção, me falou: Gracinha, essa música é muito diferente de tudo o que você canta. Porque é uma música mais popular, é melosa, então, ela destoa um pouco das coisas que eu gravei naquela época. Mas é uma música popular, como Um Dia de Domingo, fui muito criticada na época em que a gravei. As pessoas tinham birra com Sullivan e Massadas. Gravei aquela música, porque chamei o Tim Maia para gravar comigo. Eu tinha acabado de conhecer o Tim pessoalmente, sempre o admirei como cantor. Na verdade, eu estava trazendo para o meu repertório toda uma atmosfera e um mundo que eram do Tim Maia, e as pessoas não entenderam isso. Então, fui muito criticada nessa época. Aí, eu fazia outros trabalhos, e a imprensa dizia assim: ‘Ah, mas ela um dia gravou Um Dia de Domingo’, como se fosse uma mácula, uma coisa maléfica (risos). É uma bobagem, isso foi desmistificado por Caetano. Ele próprio sugeriu para eu cantar Um Dia de Domingo imitando Tim Maia.
O show termina com um pot-pourri de frevos. Antes mesmo de Daniela Mercury e Ivete Sangalo, você já era a rainha do carnaval. Por que fechar o repertório com esses frevos?
Tem um pouco a ver com dance music. Tem toda uma atmosfera musical que tem uma conexão ali. Mas falando de frevo, quando eu era muito jovem, por exemplo, Massa Real, que é uma música do Caetano, gravei para o carnaval. Eu gravava os compactos duplos com músicas especialmente para o carnaval da Bahia. Eu gravava e a gente tocava lá. Então, essa música Massa Real foi feita para isso. Depois, ela entrou no disco (Fantasia), que fez muito sucesso. Quatro músicas entraram em parada.
Você participou de um disco dedicado à Mãe Carmen (filha de Mãe Menininha), com participação também de Gil, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, entre outros. É um disco contra a intolerância?
Foi um disco feito no Rio, em Salvador, e a minha parte eu gravei em São Paulo, com Gil, uma música chamada Carmen, que não é cantada em iorubá, é cantada em português, é bem bonito o disco. Você conecta (o disco) à intolerância, por causa da perseguição que vem se fazendo ao canfomblé. É uma maneira de defender a cultura negra, a religião negra, da qual eu faço parte. Sou do candomblé de dona Menininha do Gantois, grande mulher, linda, negra, sábia, para quem Caymmi dedicou uma música (Oração de Mãe Menininha), que eu gravei convidada por Bethânia no disco dela e que se tornou grande sucesso no Brasil. Então, é uma maneira de defender isso, sim, de assinar embaixo.
No final de semana passado, a imagem do beijo entre dois homens numa HQ causou polêmica na Bienal do Livro no Rio. O episódio foi apontado como censura. Qual sua sensação em relação a isso tudo?
Quando eu assisti pela televisão que o (prefeito Marcelo) Crivella tinha censurado o beijo de dois homens (no livro) na Bienal do Rio, que eu vi as pessoas falando que ele tinha permitido vender os livros num invólucro preto, me lembrei do (disco) Índia, porque com o Índia, que saiu nos anos 1970, foi assim. Meu disco tinha de ser vendido num invólucro preto, não tinha nada de mais. Tomei um susto, porque me veio essa lembrança, e aí achei uma coisa horrorosa, porque, com o governo federal que a gente tem hoje, a gente fica assustada com as declarações, com a maneira como as coisas são tratadas. A gente que viveu na época da ditadura tem medo que isso volte, está aí na atmosfera. Mas o povo brasileiro hoje está mais atento, tem mídias digitais, a gente sabe tudo o que está acontecendo na hora, e portanto a gente sabe que as pessoas se mobilizam em outros Estados. As instituições democráticas são mais consolidadas, fortes, a ditadura não vai se implantar. A gente tem que ficar atento, não pode deixar isso acontecer, e o papel dos artistas neste momento é fundamental. O Brasil, a duras custas, conseguiu implantar uma democracia, que é a maneira mais correta de se viver, é onde há o respeito pelo outro, o respeito às diferenças. Você tem que respeitar o outro do jeito que ele é, então o mundo tem que ser assim, a vida tem que ser assim. Você não tem que ser igual ao outro, o outro não é igual a você. Você tem que saber conviver com isso. Se você não se identifica, é uma coisa, mas respeitar é outra. Defendo os direitos humanos, acho que o governo tem que cuidar das pessoas pobres, tanta gente miserável neste país. Acho que é complicado o Brasil, mas a gente vai chegar lá um dia.
Celso de Mello define censura na Bienal do Livro do Rio como ‘fato grave’
08 de setembro de 2019, 09:59
Foto: Sérgio Lima
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, chamou a apreensão de livros da Bienal do Rio de “fato grave”. O comentário foi feito por meio de nota enviada à jornalista Mônica Bergamo, do jornal da Folha de S.Paulo, na noite de sábado (7.set.2019).
Segundo o decano do Supremo, “sob o signo do retrocesso – cuja inspiração resulta das trevas que dominam o poder do estado–, um novo e sombrio tempo se anuncia: o tempo da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias e do repúdio ao princípio democrático”.
Acrescentou: “Mentes retrógradas e cultoras do obscurantismo e apologistas de uma sociedade distópica erigem-se, por ilegítima autoproclamação, à inaceitável condição de sumos sacerdotes da ética e dos padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da república”.
ENTENDA O CASO
A polêmica acerca do assunto iniciou na 5ª feira (5.set.2019), quando Crivela pediu a retirada do livro de todos os estandes da Bienal do Livro do Rio. Segundo o prefeito, o objetivo do pedido era cumprir o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que define que as obras voltadas ao público infanto-juvenil devem estar lacradas e identificadas quanto ao conteúdo.
Na manhã de 6ª feira, porém, todos os exemplares do livro foram esgotados. No mesmo dia, à tarde, o desembargador Heleno Ribeiro Pereira Nunes, do TJ-RJ, decidiu que a Prefeitura não poderia “buscar e apreender” os exemplares, atendendo a pedido da Bienal do Livro.
Para o desembargador, a postura da Prefeitura “reflete ofensa à liberdade de expressão constitucionalmente assegurada”, não sendo então possível retirar os livros de circulação em “função do seu conteúdo, notadamente aquelas que tratam do homotransexualismo”.
Na tarde de sábado (7.set), o desembargador Claudio de Mello Tavares, presidente do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), despachou uma liminar que suspendeu a decisão anterior que impedia a Prefeitura da capital carioca de recolher livro com beijo gay.
A nova decisão, favorável ao prefeito Marcelo Crivella (PRB), autoriza a apreensão da obra da Marvel intitulada “Vingadores – A cruzada das crianças”, que mostra 1 beijo entre 2 personagens masculinos.
No texto da liminar, o desembargador alega que “o controle das publicações vocacionadas à circulação entre o público infanto-juvenil é elemento crucial dessa política pública exigida pelo constituinte” e que “o legislador não proíbe, de forma absoluta, a circulação de material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes, mas tão somente exige comprometimento com o dever de advertência, para além de dificultar acesso ao seu interior, por meio de lacre da embalagem”.
Por fim, o presidente do Tribunal conclui que a ação da Prefeitura visou “o interesse público, em especial a proteção da criança e do adolescente” e que “não houve impedimento ou embaraço à liberdade de expressão”.
Novo secretário de cultura é economista e nunca atuou no setor cultural
07 de setembro de 2019, 09:18
Foto: Reprodução
Formado em economia e com MBA em Finanças Corporativas, Ricardo Braga fez carreira no mercado financeiro, em bancos e corretoras.
O novo secretário especial da cultura do Ministério da Cidadania, Ricardo Braga, 50, é um economista paulistano que nunca atuou no setor cultural. Ele foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira (4).
Formado em economia e com MBA em Finanças Corporativas, Braga fez carreira no mercado financeiro, em bancos e corretoras. Foi superintendente de operações do Banco Votorantim e deixou o cargo de diretor de investimentos do Andbank Brasil, um banco de investimentos europeu que opera no país desde 2011, para assumir o posto na secretaria.Segundo interlocutores que acompanham o caso relataram à reportagem, Braga foi indicado diretamente por Bolsonaro, sem consulta ao ministério comandado por Osmar Terra. Sua nomeação foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União.
Em nota, na noite desta quinta-feira (5), Terra afirmou que a indicação de Braga “corresponde às necessidades da pasta em imprimir um maior dinamismo e eficiência” aos projetos da secretaria, “conforme também desejava o presidente da República, Jair Bolsonaro”.
Braga deve ter sua primeira reunião com o ministro nesta segunda-feira (9). Ele substituirá Henrique Pires, que deixou o cargo no final de agosto por não admitir que o governo imponha “filtros” na cultura (desde então, José Paulo Soares Martins estava no posto como interino).
A decisão de Pires de sair da secretaria ocorreu pouco depois da suspensão de um edital com projetos LGBT para TVs públicas.Na ocasião, ele disse à reportagem que aquele era apenas a “gota d’água” de uma série de tentativas do governo de impor censura a atividades culturais, e que há há oito meses vinha tentando contornar diversas tentativas de cerceamento à liberdade de expressão.
Segundo o agora ex-secretário, esses filtros estão se propagando pelo governo e as pessoas estão chamando censura “por outro nome”. “Ficou muito claro que eu estou desafinado com ele [Terra] e com o presidente sobre liberdade de expressão”, disse o então secretário. “Eu não admito que a cultura possa ter filtros, então, como estou desafinado, saio eu”, afirmou Pires, à época.
Mulheres negras realizam primeira oficina de Rotas de Quilombolas da Chapada Norte
06 de setembro de 2019, 10:19
Foto: Ascom/RQCN
Ao som de vozes que ecoavam antigas canções, do toque do berimbau, do atabaque, do pandeiro, da ginga da capoeira e da energia das crianças, aconteceu no último domingo (01), no Quilombo Barra II, no município de Morro do Chapéu, a primeira oficina do projeto Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte. O evento promoveu o intercâmbio de experiências, a troca de saberes e o resgate de tradições culturais.
Os participantes foram recebidos com a benção e o abraço caloroso de Dona Maria Souza, matriarca do quilombo, que deu as boas vindas servindo um café da manhã recheado de sabores da culinária local.
Depois da acolhida aconteceu a oficina formativa, iniciando com uma reflexão sobre identidade, auto-afirmação e resistência das mulheres negras, por meio de apresentações e dinâmicas, mediadas por Camila Oliveira e Valber da Gama.
Partindo de um olhar interior, questionadas sobre como se veem, se reconhecem, e suas próprias histórias, sonhos e objetivos, as mulheres ajudaram a traçar uma rota pela história da humanidade, na perspectiva de reconhecer a participação das mulheres negrase o legado dos povos afros, que a história eurocêntrica oficial não registrou e da qual muitas vezes se apropria culturalmente.
Foram contadas histórias de mulheres negras regionais, anônimas, e outras conhecidas, mas pouco lembradas, que se destacaram em diversas áreas (na música, na política e na literatura) no Brasil e no mundo, que contribuíram e continuam na luta por direitos e resistência negra, dentre elas Carolina Maria de Jesus, Chiquinha Gonzaga, Sueli Carneiro, entre outras.
“Aqui aprendemos outra parte da história do nosso povo, muita coisa não nos contaram. Por que os livros da escola não destacam sobre os heróis e heroínas negras e sua cultura? Muito de nossa história foi alterada e esquecida”, disse a jovem Manuela Silva, quilombola de Barra II.
O encontro contou ainda com apresentação do grupo de Capoeira Raízes Baianas de Morro do Chapéu, oficina prática de dança afro com a professora de axé Edna Moreira, samba de roda com Mestre Badu do Quilombo Erê e Milton do Pandeiro do Barra II, declamação de poesia e hip hop com as crianças, dentre outras.
Para Dona Maria Dalva, vice-presidente da RQCN, a oficina foi um momento de trocas de conhecimento, empoderamento das mulheres, celebração e retorno a ancestralidade, importante para o fortalecimento das comunidades. “Agradecemos a comunidade que nos recebeu tão bem, aos que estiveram presentes e também aos que acompanharam pelas redes sociais. Vamos continuar nessa união, nessa luta por reconhecimento de nossos direitos e nossa história e se preparem para a segunda oficina que acontecerá no próximo dia 15 de setembro, no Quilombo de Coqueiros em Mirangaba”, convidou.
O projeto
Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte é um projeto promovido pela Secretaria de Igualdade Racial (Sepromi), do Governo da Bahia parceria com a Rede Quilombola Chapada Norte (RQCN), e apoio das entidades parceiras e tem como objetivo promover o protagonismo político e socioeconômico de mulheres negras, fortalecendo a rede solidária entre as comunidades tradicionais dos territórios de identidade do Estado..
Com informações da Ascom/RQCN
Monalisa Perrone sai da Globo depois de 20 anos
03 de setembro de 2019, 12:34
Foto: Instagram/Reprodução
Ela deve ser titular de um jornal no horário nobre da CNN Brasil –
Monalisa Perrone, apresentadora do “Hora 1”, da Globo, pediu demissão na manhã desta terça-feira (3), de acordo com informações do “Notícias da TV”. Segundo o site, a jornalista recebeu uma proposta irrecusável para ficar à frente de um jornal no horário nobre da CNN Brasil, recém-chegada ao país.
O “Hora 1” vai ao ar das 4h às 6h diariamente, o que obriga a jornalista a chegar à TV Globo à 1h e dormir às 17h. Essa rotina também teria pesado na decisão de Monalisa em deixar o jornalismo da Globo, onde estava havia 20 anos.
Quase quarentão, Barão Vermelho rompe o silêncio com disco inédito
23 de agosto de 2019, 08:53
Foto: Reprodução/Facebook
O lançamento do disco Viva é o primeiro registro da formação atual, que tem no vocal Rodrigo Suricato –
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O novo disco do Barão Vermelho, “VIVA”, parece usar as letras maiúsculas do nome para destacar um verdadeiro renascimento da banda. O último disco de inéditas do grupo saiu há 15 anos. “Foi quase como quebrar uma maldição”, diz o baterista Guto Goffi, um dos fundadores do quarteto, que daqui a dois anos fará 40 anos de estrada.
O lançamento também é o primeiro registro da formação atual, que tem outro fundador, o tecladista Maurício Barros. Completam a escalação o guitarrista Fernando Magalhães e, no vocal, Rodrigo Suricato. Este cumpre animado a missão de ocupar o lugar que foi de Cazuza, no início dos anos 1980, e de Frejat, até 2004.
Há dois anos, o quarteto roda a turnê “Barão pra Sempre”. Segundo eles, o momento é de “uma banda feliz no palco, com um repertório consagrado”.
Suricato parece duplamente feliz. Multi-instrumentista, ele está lançando seu terceiro álbum, “Na Mão as Flores”. Neste sábado (24), o Barão apresenta em São Paulo o novo repertório, na Casa Natura.
No dia 29, Suricato mostra seu show solo, no Theatro Net.Os dois discos contam só com composições recentes. “Letras e músicas resolvidas nessa panela, com os quatro integrantes”, diz Goffi. “Para deixar claro que não é uma volta oportunista. Queremos seguir.”
Na reorganização da banda, foi essencial o retorno integral de Maurício Barros. “Fundamos isso. Um é o pai do Barão. O outro é a mãe”, brinca Goffi. Foi Barros o responsável pelo convite ao novo vocalista. “Não conhecia pessoalmente o Suricato, mas o considerava a maior revelação do rock brasileiro dos últimos tempos. Ouvia e pensava: ‘Esse cara tem um borogodó a mais'”, conta Goffi.
O álbum “VIVA” tem o DNA inegável das raízes do grupo. “Tudo por Nós 2” é rock acelerado e empolgante, enquanto “Eu Nunca Estou Só” é verdadeiro blues estradeiro. Esses dois pilares que sustentam o som do Barão se cruzam em “A Solidão te Engole Vivo”, talvez a mais poderosa do repertório.
Em sua jornada dupla, Suricato levou ao pé da letra a proposta de carreira solo. No novo álbum, ele fez tudo: escreveu, tocou, cantou, produziu. Diz que não foi intencional. Pretendia gravar esse terceiro álbum ainda acompanhado de outros músicos, mas ficou tão mergulhado no estúdio que não conseguiu evitar. “Escrevi 30 músicas, dessas saíram as dez do álbum. Tinha inveja da maneira como eu tocava nos discos dos outros. Gravei com Fito Paz, Moska, Ana Carolina. Quis contratar esse Rodrigo instrumentista para trabalhar para mim”, brinca.
“Na Mão as Flores” tem rock, mas surge mais forte um lado folk, baladeiro, com letras celebrando coisas boas. “Acho que devo ser posto na prateleira das ‘good vibes’. Tenho um direcionamento positivo. O Barão tem uma potência sonora ligada ao rock, e a linguagem no meu trabalho me dá liberdade de ser mais pop. O Barão flerta com o pop. “Na turnê solo, Suricato entra sozinho no palco.
Ele se diz apaixonado pela estética dos músicos de rua – aqueles que tocam vários instrumentos ao mesmo tempo. “Violão nas mãos, gaita na boca, pedal de bumbo no pé, isso tem uma linguagem meio circense, né? “Nos últimos quatro anos, ele pesquisou para passar dessa estética rudimentar a uma performance apurada. “Subo no palco sozinho, toco quase tudo na hora, só me permito algumas programações digitais”, diz o artista “fominha”.