Jacobina: Um clube de e para ‘artistas’

17 de outubro de 2019, 09:55

O octogenário e histórico Clube dos Artistas, local onde no passado se realizavam reuniões de caráter recreativo, cultural, artístico, político e social, passa a abrigar atualmente a sede de uma associação de lojistas (Foto: Notícia Limpa)

*Por Gervásio Lima –

Fundado em 1933, por um grupo de ‘artistas’, como eram chamados os profissionais liberais como os alfaiates, sapateiros, pedreiros, carpinteiros e outros, a agremiação Sociedade União dos Artistas Jacobinenses, tinha como objetivo não somente servir como um local para a realização de festas e bailes de micareta, mas de ser um local de inclusão para os associados e suas famílias. Em seu primeiro estatuto e, acredita-se, que tenha sido o único, entre outras atribuições, funcionaria integralmente no local uma escola de ensino primário e uma biblioteca com acesso para toda a comunidade.

Os considerados ‘excluídos’ da época não podiam frequentar os dois clubes existentes naquele momento na cidade que eram o Clube 2 de Janeiro, fundado em 1878 e a Sociedade Filarmônica Aurora Jacobinense, fundada em 1879. Apenas os integrantes das famílias mais abastadas e as elites econômicas tinham acesso a esses espaços. Daí se deu a necessidade de se fundar um clube organizado por trabalhadores, uma espécie de ‘sociedade popular recreativa dançante’.

Estatuto – O artigo 1º do Estatuto da União dos Artistas Jacobinenses, aprovado em 1933, diz: “Sob a denominação de Sociedade União dos Artistas Jacobinenses, com sede nesta cidade de Jacobina do Estado da Bahia, fica constituída pelos presentes estatutos, por tempo indeterminado, uma Sociedade Operária, cuja finalidade é socorrer aos seus associados que por moléstia ou outras circunstâncias, se acharem impossibilitados de promover os meios de melhorar a sua situação”.

Após passar um período inativo, o octogenário e histórico Clube dos Artistas, local onde no passado se realizavam reuniões de caráter recreativo, cultural, artístico, político e social, passa a abrigar atualmente a sede de uma associação de lojistas.

Semelhança histórica – Em um dos trechos do livro “A invenção do cotidiano na metrópole”, a professora doutora em História da Unicamp/SP, Luzia Margareth Rago, fala da vida social e do lazer na cidade de São Paulo entre os anos de 1900 e 1950: “A vida boêmia passava a exercer enorme fascínio como lugar da evasão, do diletantismo, dos prazeres, da possibilidade de escapar à normatividade da vida cotidiana que progressivamente se instaurava. Vida boêmia, espaço da imaginação e da criatividade, pensavam os intelectuais; espaço da promiscuidade e do desregramento, denunciavam os médicos”.

Não muito diferente, conforme diversos depoimentos de remanescentes, a visão que a sociedade jacobinense tinha sobre os ‘clubes’ da cidade, seu papel social e seus frequentadores era praticamente a mesma. A vida boêmia era bastante concorrida. Jacobina naquele momento era um dos principais municípios da Bahia, com uma economia pujante. Além da agropecuária e garimpagem, era um grande entreposto de diversos produtos fornecidos para inúmeras cidades através da rede ferroviária. Na própria estação do trem, desativada em 1976, havia um bar, o Bar da Leste, que funcionava anexo ao prédio, onde regularmente acontecia música ao vivo. Quem partia ou quem chegava de viagem era recepcionado com ‘festa’.

Saudade – Um dos frequentadores ‘Dos Artistas’, como o clube era chamado, Cosme Pereira Nascimento, o ‘Cosminho da Dires’, relembra das inesquecíveis micaretas e dos bate-papos nos inícios das noites entre amigos. “Peço que não deixem este clube morrer, mudar de nome. Esta história de 1933 não pode se acabar, ninguém é dono desse salão, ele pertence a todos os cidadãos jacobinense”, apela Cosminho.

O Clube dos Artistas fica localizado entre as ruas da Conceição e São Salvador, ao lado da Igreja da Conceição.

*Jornalista e historiador

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