O fato de o papa Francisco ser tanto argentino como jesuíta pode trazer simpatia à causa brasileira no Vaticano, mas dificilmente irá acelerar o processo de canonização. Sepé deve ser transformado em santo não por operar graças e milagres, mas por ser considerado um mártir. Para o padre Kloppenburg, Sepé morreu também por sua fé —ele compunha a terceira geração de guaranis missioneiros, ou seja, católico de nascimento, sem ter sido catequizado. Mas o conceito de mártir da Igreja Católica foi ampliado, explica o teólogo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), frei Luiz Carlos Susin, completa a Folha.
GOSPEL
Amazônia e indígenas chegam ao cerne da Igreja Católica
28 de outubro de 2019, 08:08
Foto: DW/N. Pontes
Igreja se consolida como aliada de populações indígenas da Região Amazônica. Documento final do Sínodo para a Amazônia defende demarcação de terras e se opõe a projetos extrativistas na área.
Antes de o líder da Igreja Católica dar sua mensagem na missa de encerramento do Sínodo para a Amazônia, neste domingo ((27/10), foi Patrícia Gualinga, indígena do Equador, que leu para a multidão reunida na Basílica de São Pedro.
Nos bancos da frente, bispos e representantes de diferentes etnias dos nove países amazônicos ouviam o texto na voz de Gualinga, que destacava os oprimidos, os humildes e a justiça.
Na sequência, a mensagem enviada pelo papa Francisco reforçou a leitura anterior. “Neste Sínodo, tivemos a graça de escutar a voz dos pobres e refletir sobre a precariedade de suas vidas, ameaçadas por modelos de progresso predatórios”, disse, referindo-se aos povos que habitam a Floresta Amazônica.
Segundo Francisco, cristãos na sociedade ainda oprimem, “levantam muros para aumentar as distâncias”, “ocupam territórios e usurpam” bens daqueles que julgam inferiores.
“Os erros do passado não foram suficientes para deixarmos de saquear os outros e causar ferimentos aos nossos irmãos e à nossa terra: é o que vemos no rosto cheio de cicatrizes na Amazônia”, disse.
Nas mãos do papa se encontra agora o destino do documento elaborado ao fim das três semanas do Sínodo para a Amazônia. Dividido em cinco capítulos, o texto propõe diretrizes para a Igreja Católica aumentar sua presença na região e reforçar a chamada conversão ecológica.
Votado por 181 bispos, o documento defende posicionamentos claros, como defesa da demarcação de terras indígenas, oposição a empreendimentos que trazem impactos negativos para os povos e uma maior participação nas discussões políticas.
“Nós sentimos que o papa é o nosso aliado. Ele ouviu o nosso chamado”, disse à DW Yésica Patiachi Tayori, professora indígena do Peru, durante a celebração.
© Getty Images/AFP/A. Solaro Papa celebra missa de encerramento de Sínodo para a Amazônia
Amazônia no coração do mundo
O documento deve ser revisado até o fim do ano e, depois de publicado pelo papa, deve começar a ser aplicado nas igrejas em todo o mundo.
Com bases científicas e informações colhidas diretamente nos territórios, o texto classifica a Amazônia como “coração biológico” ameaçado pela “corrida desenfreada para a morte”.
Entre as diretrizes recomendadas estão o respeito à cultura e espiritualidade indígenas, aos seus direitos, como também um posicionamento contrário a projetos que causam destruição socioambiental. “Pior ainda, muitos desses projetos são realizados em nome do progresso, e são apoiados – ou permitidos – por governos locais, nacionais e estrangeiros.”
“Temos que nos organizar para darmos uma resposta a isso”, comentou David Martínez de Aguirre Guinea, monsenhor de Porto Maldonado, Peru, sobre a crescente disputa no território. “Colocamos a Amazônia no coração da Igreja e queremos colocar no coração do mundo.”
Embora o termo “ecológico” esteja em moda atualmente, o mundo parece ainda não ter uma compressão do que isso significa, afirma Michael Czerny, secretário especial do Vaticano. “A crise ecológica é tão profunda e se não mudarmos não vamos conseguir.”
A resposta à crise, segundo o documento final do Sínodo, é defender os povos da Amazônia. “Na floresta, não só a vegetação se entrelaça apoiando uma espécie à outra, mas também os povos se interrelacionam numa rede de alianças que beneficiam a todos.”
Luz e sombra na Amazônia
Para aumentar a presença da Igreja Católica nas comunidades remotas, o Sínodo sugeriu relaxar regras e permitir maior participação de homens casados e mulheres.
Apesar das visitas esporádicas na atualidade, representantes da Igreja Católica tiveram papéis importantes em muitas comunidades na Amazônia brasileira.
Foi o que aconteceu na comunidade ribeirinha do Roque, no município de Carauari, Amazonas, onde, atualmente, o padre da cidade faz raras visitas. As outras três igrejas evangélicas têm cultos regulares e há pastores entre os moradores locais.
Mas veio de um padre, no fim da década de 1980, a proposta que libertou a comunidade do trabalho análogo ao escravo que muitos vivenciavam naquela época. Eles extraíam seringa, matéria-prima da borracha, na floresta onde alguns alegavam ter a propriedade e eram obrigados a fornecer a produção para esses “patrões” que, em troca, vendiam alimentos a preços superfaturados.
“Padre João Derickx ajudou a organizar o povo e trabalhou na conscientização dos seringueiros”, aponta Eulália Silva, que atuou como voluntária ao lado do padre holandês. Derickx, que faleceu em 2013, incentivou os seringueiros a brigar pela criação de uma reserva extrativista no local, que se consolidou em 1997 e acabou com a era dos patrões.
Cinco séculos depois de sua chegada à América do Sul, junto a espanhóis e portugueses, a Igreja Católica reconhece os erros da colonização e as milhares de mortes de indígenas.
“De fato, a Igreja é marcada por luz e sombra; muitas coisas prejudicaram a vida das populações originárias. E ainda hoje não se respeitam as tradições desses povos e, muitas vezes, tentam impor uma cultura”, pontua Dom Roque Paloschi, presidente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
Para Maurício Lopes, da Repam (Rede Eclesial Pan-Amazônica), o papa, ao priorizar a defesa da Amazônia e seus povos, se coloca como uma “voz ética global”.
“A voz do papa representa uma narrativa que defende o futuro, o combate às mudanças climáticas, a proteção do meio ambiente, a defesa da vida”, avalia Lopes.
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Autor: Nádia Pontes
Santo no coração do povo, padre Cícero continua distante do altar da Igreja
22 de outubro de 2019, 14:46
Foto: Reprodução/Estadão / Estadão
Romarias em louvor ao padre Cícero levam 2,5 milhões de devotos por ano a Juazeiro do Norte, no interior do Ceará. O templo do religioso tornou-se o segundo mais procurado por peregrinos no País, atrás apenas do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Apesar de já ter sido entronizado pelos devotos, que atribuem a ele curas e milagres, o padre Cícero continua distante dos altares católicos. Como em outros casos de “santos populares”, o reconhecimento das virtudes e dos exemplos de vida de Padim Ciço, como é conhecido popularmente o padre Cícero Romão Batista, encontra resistência no clero.
Historiadores contam que a relação do padre com o clero brasileiro da época já não era boa em razão do envolvimento do religioso com política. “Além de sacerdote, padre Cícero era também fazendeiro e político, filiado a partido. Ele foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado foi elevado à cidade, e chegou a vice-governador”, conta o reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores, padre Cícero José da Silva. Segundo ele, o padre de quem adotou o nome convivia com os coronéis e foi eleito deputado federal, mas não assumiu o cargo. Entre seus devotos estava Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião, com quem ele se encontrou ao menos uma vez.
“‘Milagre”
Foi nessa igreja, construída pelo religioso em 1875, que se deu o episódio marcante na vida de padre Cícero. No dia 1º de março de 1889, ao colocar a hóstia consagrada na boca da devota Maria de Araújo, o pedaço de trigo teria se transformado em sangue. O “milagre da hóstia” logo se espalhou pela região. O fenômeno teria se repetido diversas vezes durante dois anos. As narrativas de boca em boca apontavam o próprio Cristo se manifestando em Juazeiro através de uma beata e pelas mãos de um padre santo.
Atendendo pedido dele, a diocese formou uma comissão com dois padres, dois médicos e um farmacêutico para investigar o suposto milagre. Em outubro de 1891, a comissão chegou à conclusão de que não havia explicação natural para os fatos, então considerados milagrosos. Insatisfeito, o bispo dom Joaquim José Vieira nomeou outra comissão, composta apenas por um padre e seu secretário, que considerou o “milagre” uma fraude. O bispo acatou esse resultado e suspendeu as ordens sacerdotais do padre Cícero. Ele também determinou que Maria de Araújo fosse afastada da igreja.
Em 1898, padre Cícero foi a Roma e se reuniu com o Papa Leão XIII e com membros da Congregação do Santo Ofício. Ele teria conseguido sua absolvição, mas em seu retorno a Juazeiro, a decisão foi revista pelo Vaticano. Chegou a ser anunciada a excomunhão do religioso, porém, descobriu-se depois que a punição não fora aplicada. Em 2001, quando ainda era cardeal, o papa Bento XVI mandou investigar o caso, vendo a possibilidade de reabilitar o padre brasileiro perante a Igreja. Em 2006, o bispo dom Fernando Panico viajou para o Vaticano com uma comissão de religiosos, políticos e fiéis para defender a reabilitação. Em dezembro de 2015, padre Cícero recebeu o perdão da Igreja.
Não há consenso no clero sobre a uma futura canonização do padre. O bispo dom Gilberto Pastana, da Diocese de Crato, vê Cícero como “ícone da caridade e serviço ao próximo”. Agraciado com o “Troféu Padre Cícero”, dado aos que se destacam no cenário de Juazeiro, dom Gilberto disse que o religioso foi um ser humano exemplar. “É muito bom recordar e agradecer a Deus a vida deste homem.” Já a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) informou que “o processo do padre Cícero Romão Batista continua na Congregação para a Doutrina da Fé, onde ainda precisam ser elucidadas algumas questões e ainda não chegou à Congregação para a Causa dos Santos”.
Devotos de outros religiões
Para os devotos do “padim” que lotam Juazeiro do Norte em novembro, quando acontecem as principais romarias, o padre já é santo. “Difícil achar uma casa que não tenha uma imagem dele. Eu tenho um oratório com imagens e fotos dele, em agradecimento a uma cura”, diz a professora Maria Rosalina Oliveira, que leciona na rede municipal de Juazeiro. Ela conta que um sobrinho se recuperou de um acidente grave após intercessão ao “padim”. O padre é admirado até mesmo por evangélicos, que não admitem o culto a santos. “Sou evangélico, mas respeito e o trato com o maior carinho. O que falta no mundo é amor ao próximo e padre Cícero foi um exemplo disso, por isso os evangélicos o admiram e respeitam”, disse o secretário de Turismo e Romarias de Juazeiro, José Bezerra Feitosa Junior.
Segundo ele, a cidade “respira” padre Cícero. “A atuação dele contribuiu para o estágio de desenvolvimento que Juazeiro tem hoje, acima da média nacional. Ele foi nosso primeiro prefeito, foi um visionário, transformou nossa cidade em um polo educacional. Temos um aeroporto que só perde para o de Congonhas, em São Paulo, em pousos e decolagens.” A pasta do evangélico Feitosa Junior coordena as romarias a templos católicos como a matriz de Nossa Senhora das Dores, construção barroca inaugurada pelo padre em 1875, e a Capela do Perpétuo Socorro, também construída por ele e onde seus restos mortais repousam sob o altar-mor. A estátua do padre, com 27 metros, na Serra do Horto, está entre as dez maiores em concreto das Américas.
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), chegou a se encontrar com o Papa Francisco, reforçando o pedido de beatificação do servo de Deus. “Disse ao papa que éramos muito gratos pela reconciliação de padre Cícero com a Igreja, que só aconteceu graças a ele. O papa, inclusive, está estudando a beatificação do padre de forma muito positiva”, afirmou o governador. Santana deixou uma imagem do padre Cícero com o pontífice.
A diocese de Crato, que abrange Juazeiro do Norte, admite que há uma nova postura em relação ao padre. “O que mudou até o presente momento foi o olhar sobre o citado padre e o fenômeno crescente das romarias de Juazeiro. Os últimos pronunciamentos emanados da Congregação da Doutrina da Fé e da Secretaria de Estado do Vaticano ofereceram novas orientações para um mais amplo entendimento do conjunto de fatos, vindo a incentivar novos estudos e uma revisão das orientações do passado”, disse o chanceler.
Menos badalada que Padre Cícero, a jovem cearense Benigna Cardoso da Silva, natural de Santana do Cariri, está mais próxima de se tornar santa. A jovem foi brutalmente assassinada a facadas, aos 13 anos, em 1941, depois de resistir ao assédio sexual de outro adolescente. Para a população, a “heroína da castidade” deu a vida para não cometer pecado. A diocese do Crato abriu o processo de beatificação em 2011. Dois anos depois, a jovem foi nomeada serva de Deus pela Igreja Católica. No dia 3 de outubro, a Santa Sé promulgou o decreto de reconhecimento do seu martírio, o que lhe abre as portas para a beatificação.
Papa canoniza Irmã Dulce, a primeira santa brasileira
13 de outubro de 2019, 10:04
Além de Dulce, foram canonizados outros quatro beatos: o britânico John Henry Newman (1801-1890), a italiana Giuseppina Vannini (1859 -1911), a indiana Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan (1876 -1926) e a suíça Marguerite Bays (1876 -1926).
A cerimônia solene foi realizada na praça de São Pedro com a presença de numerosos bispos, arcebispos e cardeais, além de vários religiosos e missionários brasileiros que participam do Sínodo para a Amazônia, ao longo de outubro no Vaticano.
A celebração ainda foi assistida por autoridades dos cinco países, entre eles o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, e o presidente da Itália, Sergio Mattarella. O Brasil é representado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, depois de o presidente Jair Bolsonaro ter alegado problemas de agenda para não viajar a Roma.
Também foram à cerimônia os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, o procurador-geral da República, Augusto Aras, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e o ex-presidente José Sarney, que foi um político muito próximo de Irmã Dulce.
A missa teve início por volta das 10h (horário local), com uma liturgia específica para canonizações. O cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação das Causas dos Santos, leu uma biografia dos cinco beatos, que em seguida foram declarados santos por Francisco.
“Anjo bom da Bahia”
Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, agora chamada Santa Dulce dos Pobres, nasceu em 1914 em Salvador, na Bahia, e dedicou sua vida a servir os pobres e os necessitados.
Após completar seus estudos superiores, ela ingressou na vida religiosa como noviça na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, ligada à Ordem dos Frades Menores, servindo como enfermeira e professora.
Em Salvador, desenvolveu um intenso trabalho social, tendo fundado hospitais de caridade e construído uma das maiores obras de assistência social gratuita do país. Conhecida como “anjo bom da Bahia”, ela morreu em 1992, aos 77 anos.
“Irmã Dulce concretizou plenamente a sua ação caritativa com a fundação de uma associação de obras sociais e a construção de uma casa de acolhimento, o ‘Albergue Santo Antônio'”, diz o livreto sobre a cerimônia deste domingo.
“Sua caridade era maternal, carinhosa. A sua dedicação aos pobres tinha uma raiz sobrenatural e do Alto recebia forças e recursos para dar vida a uma maravilhosa atividade de serviço aos últimos.”
O processo para a sua canonização teve início em janeiro de 2000, e seu primeiro milagre foi reconhecido em 2003 pelo Vaticano, durante o papado de João Paulo 2º.
Em 2001, orações em nome de Irmã Dulce teriam feito parar uma hemorragia em uma mulher na cidade de Itabaiana, em Sergipe. À época, Claudia Cristina dos Santos padecia há horas após dar à luz seu segundo filho.
Em 2009, Dulce recebeu o título de Venerável do papa Bento 16, tornando-se “Bem-aventurada Dulce dos Pobres”. Em 2001, foi beatificada em uma cerimônia religiosa em Salvador.
Seu segundo milagre teria ocorrido em 2014, com a cura instantânea da cegueira do professor de música Jose Maurício Bragança Moreira, após 14 anos sem enxergar. Ele também participou da cerimônia neste domingo.
Na ocasião, sofrendo de conjuntivite e dor aguda nos olhos, o paciente teria clamado a Irmã Dulce por uma solução e, no dia seguinte, teria voltado a enxergar. Foi a ratificação desse milagre que permitiu a canonização da baiana.
Irmã Dulce será canonizada em Sínodo dos Bispos no próximo domingo
06 de outubro de 2019, 20:29
Foto: Reprodução
Com canonização, Brasil ganhará seu 37º santo; papa Francisco atingirá a marca de 892 santos em seu pontificado.
Quando os olhares do mundo religioso e político estão atentos ao Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, que ocorre de 6 a 27 de outubro no Vaticano, o papa Francisco canonizará Irmã Dulce dos Pobres, a 37ª santa brasileira — nesta conta, são considerados todos os santos que viveram no Brasil, mesmo que tenham nascido em outros países.
A baiana Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, Irmã Dulce dos Pobres, morreu em 1992 aos 77 anos. Com sua canonização e de outros quatro novos santos, no próximo domingo, 13, Francisco atinge a marca de 892 santos em seu pontificado, segundo informações do disponibilizadas pela Congregação das Causas dos Santos, órgão do Vaticano responsável pelos processos de reconhecimento.
“Destaco sua simplicidade, seu foco em Jesus Cristo, sua capacidade de vê-lo no necessitado e a capacidade que teve de esquecer-se de si mesma, para responder às necessidades que se apresentavam (e se multiplicavam) à sua frente”, declarou ao Estado o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil dom Murilo Krieger, sobre as virtudes da nova santa.
Segundo o religioso, a celebração deve contar com 30 bispos que irão especificamente para o evento, além dos 58 bispos que participam do sínodo. Além disso, outros cerca de 100 sacerdotes devem estar na missa de canonização.
Vaticano intervém em grupo tradicionalista brasileiro investigado
29 de setembro de 2019, 09:22
Jornal italiano afirma que associação estaria praticando exorcismos e seguindo seus próprios rituais.
O grupo tradicionalista brasileiro Arautos do Evangelho foi colocado sob a tutela do Vaticano após uma investigação que revelou irregularidades no “estilo de vida” de seus membros e na sua administração, informou a Santa Sé neste sábado, 28.
Os Arautos do Evangelho foram fundados pelo brasileiro João Scognamiglio Clá Dias em 2001, sob o direito pontifício. Tratou-se da primeira associação de fiéis católicos criada no século XXI e foi aprovada pelo papa João Paulo II.
Em 2017, foi aberta uma investigação que, após dois anos, revelou “lacunas sobre seu estilo de governo, a vida dos membros do Conselho (…),pastoral vocacional, formação de novas vocações, administração, gestão das obras e recuperação de recursos”, afirmou a Santa Sé.
A associação passará “sob a autoridade de um comissário”, o cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida.
Na época em que a investigação foi aberta, um conhecido vaticanista, Andrea Tornielli, que atualmente chefia o dicastério (ministério) da comunicação da Santa Sé, assegurou que a associação estaria praticando exorcismos, seguindo seus próprios rituais e até conversando com o diabo, tudo sob a supervisão de seu líder, monsenhor João Scognamiglio Clá Dias.
Os “Arautos”, presentes em vários países, são conhecidos por seu hábito marrom e branco, com uma grande cruz no peito, no estilo dos cavaleiros medievais.
“Scognamiglio Ciá Dias, o fundador dos Arautos do Evangelho, bem como seus padres, utilizam rituais de exorcismo fabricados por eles mesmos, porque acreditam que os da Igreja Católica, aprovados pela Santa Sé, são ineficazes”, disse ele na época Andrea Tornielli no blog Vatican Insider, do jornal La Stampa, com o qual colaborava.
Outros meios de comunicação citaram “estranhos cultos”. Scognamiglio Cia Dias, que foi membro da associação tradicionalista TFP (Tradição, Família e Propriedade), deixou o cargo em junho de 2017.
(Com AFP)
Guarani morto ao defender território pode ser primeiro santo indígena brasileiro
23 de setembro de 2019, 07:43
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Reportagem de Paula Sperb na Folha de S. Pauloa informa que a frase “Esta terra tem dono” é atribuída ao guarani Sepé Tiaraju (1723-1756) durante a batalha em que tentava proteger 30 mil índios de uma remoção forçada pelo exército unificado dos reinos de Portugal e Espanha. Ele e outros 1.500 índios morreram no conflito que ocorreu na região da atual cidade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul.
De acordo com a publicação, herói oficial registrado no Panteão da Pátria ao lado de figuras como Getúlio Vargas e Leonel Brizola, Sepé agora pode ser o primeiro santo indígena do país. O Vaticano autorizou em 2017 o início de seu processo de canonização. Desde então, ele já é considerado como “servo de Deus”. O processo pode durar anos, sem previsão de término. O indígena ainda terá de ser venerável, beato e, finalmente, santo. Nesse período, a relação com os fiéis é fortalecida e uma oração já foi escrita (leia mais abaixo). “A canonização confirmará o que já é realidade junto ao povo. Sepé Tiaraju foi santificado praticamente desde a sua morte e há muitos anos já é chamado de São Sepé pelas pessoas. Tem cidade chamada São Sepé, rua, mercado…”, diz o padre Alex Kloppenburg, 65, da paróquia de dom Pedrito, cidade da região das Missões Jesuíticas, onde o indígena viveu —as ruínas das Missões são tombadas como patrimônio da humanidade pela Unesco.
Decisão judicial põe em xeque encontros religiosos em órgãos públicos
16 de setembro de 2019, 06:49
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Decisão que condenou ex-diretor-geral do Arquivo Nacional por improbidade pode servir de jurisprudência para impedir a prática da fé em prédios mantidos pela União.
Desde 2005, servidores do Arquivo Nacional, com autorização do então diretor, Jaime Antunes, reuniam-se na hora do almoço para atividade religiosa. O professor Marques foi multado numa importância que hoje deve beirar os R$ 70 mil. Mas a defesa frisa que, antes de posse dele, já tinham sido realizadas na sede do Arquivo 1.056 reuniões religiosas, enquanto, a partir de 2016, ocorreram apenas oito; e apela com base no “Princípio da Insignificância”, questionando o fato de o MPF despender tantos recursos e tempo diante de um assunto sem relevância justificada.
O que diz a lei
O Brasil é oficialmente um Estado laico, pois a Constituição Brasileira e outras legislações preveem a liberdade de crença religiosa aos cidadãos, além de proteção e respeito às manifestações religiosas. O artigo 5º da Constituição estabelece: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Contudo, a laicidade pressupõe a não intervenção da Igreja no Estado, e um aspecto que contraria essa postura é o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras.
Possível sítio da aparição de Jesus Cristo após ressurreição é descoberto em Israel
02 de setembro de 2019, 09:38
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Os arqueólogos descobriram em Israel uma fortificação milenar que poderia ajudar a identificar a localidade de Emaús, onde, segundo a Bíblia, Jesus apareceu após a crucificação e posterior ressurreição.
Uma equipe de arqueólogos franceses e israelenses encontrou uma antiga fortificação de 2.200 anos de antiguidade, localizada nos arredores de Jerusalém.
O sítio, possivelmente construído pelo general Báquides, pode ajudar a identificar a cidade bíblica onde ocorreu a primeira aparição de Jesus Cristo, de acordo com o Novo Testamento.
Os arqueólogos têm feito, desde 2017, escavações em Quiriate-Jearim, uma colina com vista para o acesso a Jerusalém, localizada a poucos quilômetros da cidade, ao lado da localidade de Abu Ghosh.
Nos últimos meses, os cientistas encontraram uma fortificação com paredes de até três metros de espessura e até dois metros de largura. No sítio também foram descobertos o que parecem ser restos de uma torre.
O general selêucida Báquides fortificou todas as cidades que rodeavam Jerusalém. Se trata do único caso de construção de fortificações de grande escala na Judeia durante este período, disse ao jornal Haaretz Thomas Romer, professor de estudos bíblicos do Colégio de França, coautor do estudo sobre o sítio arqueológico.
Quiriat-Jearim não está incluída nos livros históricos onde eram registradas as fortificações construídas por Báquides, pelo menos com este nome. Porém, os registos indicam um lugar não identificado, localizado algures no oeste de Jerusalém, referenciado como Emaús pelo [historiador romano-judeu Josephus [Flavius] e pelo autor do Primeiro Livro dos Macabeus.
Dado que não existem outras fortalezas importantes deste tipo conhecidas no oeste de Jerusalém, os arqueólogos sugerem que a colina de Quiriate-Jearim e a localidade vizinha de Abu Ghosh corresponderiam à cidade de Emaús fortificada pelo general Báquides.
Para o colunista do Haaretz, “os investigadores não podem dizer se houve de fato ali uma aparição milagrosa, mas a arqueologia bíblica pode nos dar informação sobre o contexto histórico dos textos religiosos e seu nível de exatidão ao descobrir lugares que milhões de pessoas em todo mundo consideram sagrados”.
Ex-morena do Tchan, Débora Brasil se torna missionária: “Foi o chamado de Deus”
22 de agosto de 2019, 08:01
Foto: Extra
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sucesso nos anos 90 com o ‘É o Tchan’ e a fama de ‘primeira morena do Tchan’ agora são apenas lembranças para Débora Brasil.
Convertida ao Evangelho há 10 anos, a ex-dançarina do grupo baiano se tornou missionária, compartilhando seu testemunho em diversas partes do Brasil e hoje também apresenta o programa cristão “Na Lente”, ao lado do jornalista Helton Carvalho.
Segundo a baiana, sua carreira no grupo não foi exatamente algo que a prejudicou, mas hoje ela simplesmente entende que aquele contexto não faz mais parte de sua vida.
“Não fiz nada que prejudicasse a minha integridade, mas foi um círculo que se fechou e que não sinto falta”, explicou a apresentadora, segundo uma nota do jornal Extra.
Em uma entrevista anterior (2016), Débora explicou que sua conversão e consagração ministerial aconteceram em um processo.
“Eu saí a primeira vez do grupo, fiquei fazendo carreira solo, nesse período da carreira solo eu tive um encontro com Jesus, mas mesmo convertida, dentro da igreja, eu continuei fazendo shows. O grupo ‘É o Tchan’ me convidou pra participar dos 10 anos, um DVD de aniversário e eu participei”, contou.
Depois de participar do projeto com os antigos amigos do grupo, Débora sentiu o chamado de Deus e decidiu se desvincular totalmente de seu passado no meio secular.
“Eu entreguei totalmente a minha vida a um chamado que Deus me fez, um chamado missionário. Eu não fiquei mais naquela coisa de que ‘era crente, mas continuava no meio secular’. Eu saí e vim somente fazer a obra de Deus, porque esse foi o chamado de Deus para a minha vida”, acrescentou.
Intolerância religiosa se agrava no Rio com ataques de traficantes evangélicos
18 de agosto de 2019, 09:07
Foto: Reprodução/Facebook
RIO – Os registros de intolerância religiosa são comuns Brasil afora, mas no Rio têm uma característica particular: passaram a envolver traficantes e evangélicos. Após ataques a terreiros de umbanda e candomblé na Baixada Fluminense, a polícia identificou o mandante e, na semana passada, prendeu oito traficantes acusados de integrar seu grupo, o chamado Bonde de Jesus.
Segundo a polícia, o mandante é Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, do Terceiro Comando Puro (TCP), um dos criadores do Bonde de Jesus, vertente inédita da intolerância religiosa no Estado. Estima-se que existam hoje 200 terreiros sob ameaça. Os casos são investigados pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), criada em 2018.
Investigações apontam que a peculiar relação entre religiosos e criminosos aconteceu depois que a cúpula do TCP foi convertida por uma igreja neopentecostal. Há informações, ainda não confirmadas, de que Peixão teria sido ordenado pastor. Trata-se de uma característica específica dessa facção, não sendo reproduzida nem pelos demais grupos de traficantes nem por milicianos.
“A situação de intolerância sempre existiu, mas tivemos uma piora quando indivíduos ligados à cúpula de uma facção resolveram se converter”, afirma o delegado da Decradi, Gilbert Stivanello. “Eles distorcem a doutrina religiosa e agridem outras religiões, sobretudo as de matriz africana.” As principais lideranças evangélicas do Rio condenam os ataques.
Conversão
Um dos primeiros a se converter foi Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, há cerca de quatro anos. Ele era o chefe do tráfico no Morro do Dendê, Ilha do Governador, até ser morto pela polícia em junho. Outros, como Peixão, se converteram depois.
“Alguns deles se converteram dentro do presídio”, diz Stivanello. “Eles viveram uma experiência distorcida da conversão, se tornando ‘bandido de Jesus’, como se isso fosse um ato de fé. Se pararmos para pensar, não é muito diferente do terrorismo islâmico. É difícil mesmo entender a lógica”, afirma.
Coordenadora do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileira, Célia Gonçalves Souza diz que o problema da intolerância é nacional, mas que, de fato, vem ganhando contornos específicos no Rio, sobretudo pela penetração de evangélicos no sistema carcerário. “No Rio, esse problema é muito escancarado e o narcopentecostalismo só tende a crescer. E passa pela questão das penitenciárias, onde há uma entrada muito grande dos neopentecostais.”
Na Baixada Fluminense, traficantes passaram a ditar regras dos terreiros, como horários das cerimônias e uso de fogos de artifício e fogueiras. Eles também proíbem as pessoas de andarem com roupas brancas ou de santo nas ruas. As invasões a terreiros são cada vez mais frequentes, com destruição de oferendas e imagens sagradas.
Há uma semana, o terreiro Ilê Axé de Bate Folha, em Duque de Caxias, foi invadido por traficantes – no 10.º caso da região. Eles quebraram todas as imagens e oferendas e ameaçaram de morte a mãe de santo, que está fora do Estado, na casa de parentes.
“O ataque aconteceu num sábado de casa cheia. Eles entraram com violência, mandando todo mundo sair e quebrando tudo”, contou uma testemunha. “O terreiro está fechado. Tiramos tudo de lá e não aconselhamos ninguém a voltar.” Segundo a mesma testemunha, outros religiosos fecharam os terreiros e se mudaram.
“Qualquer ataque com contornos de destruição do sagrado tem caráter de racismo religioso”, diz a defensora Livia Cásseres, do núcleo contra a desigualdade racial da Defensoria Pública. “À violência que já existe contra essas religiões – que têm uma série de direitos negados –, se soma agora a do varejo de drogas. Mas a violência contra elas é permanente desde a época colonial.” Por isso, para Livia, a solução passa por diferentes esferas.
Alerta
A gravidade da situação fez com que, em julho, fosse realizada uma reunião com membros da umbanda e do candomblé, lideranças evangélicas, e representantes da Polícia Civil, do Ministério Público e da Defensoria Pública.
O pastor Marcos Amaral, da Comissão Contra a Intolerância Religiosa, destaca que a denominação “evangélicos” abrange um segmento grande de religiosos, com posicionamentos diferenciados. Já o pastor Neil Barreto, da Igreja Batista Betânia, afirma que “a intolerância é o ápice da ignorância”. “E a única solução para a ignorância que produz intolerância é a educação. Precisamos de uma campanha de educação e conscientização em todas as comunidades de fé.”
Não tem como pensar em intolerância sem pensar em racismo, diz babalaô premiado nos EUA
O babalaô Ivanir dos Santos recebeu no mês passado, em Washington, o Prêmio Internacional de Liberdade Religiosa entregue pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Santos é coordenador da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa e organizador da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que é realizada há 12 anos, em Copacabana, no Rio.
1. Como foi receber esse prêmio internacional em um momento em que aumentam os ataques a terreiros, em especial no Rio?
Esse prêmio, na verdade, vem reconhecer e legitimar a luta pela causa da liberdade religiosa, contra o racismo, de respeito aos direitos humanos. Estamos passando por um momento muito difícil. E não tem como pensar em intolerância sem pensar em racismo e preconceito contra grupos minoritários.
2. As religiões de matriz africana sempre foram alvo de preconceito. O que mudou agora?
Sim, secularmente, elas sempre foram perseguidas: na Colônia e no Império, pela Igreja Católica; na República, pelo Estado; e nos últimos 30 anos, por grupos neopentecostais e, mais recentemente, por traficantes evangelizados. São traficantes que se dizem evangélicos.
3. Existe uma vertente racista nesse preconceito?
Sim. No Brasil temos um preconceito disseminado na sociedade, virou um comportamento social baseado, fundamentalmente, no racismo. As tradições de origem africana sofrem preconceito. O mesmo pensamento se reflete também no samba, na capoeira, na congada. Manifestações culturais de identidade africana são frequentemente relacionadas ao demônio.