ARTIGOS

Não confunda jornalista com jornalismo

12 de abril de 2018, 14:29

O Dia do Jornalista foi comemorado no dia 7 de abril. Instituída em 1931, por decisão da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como homenagem ao médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, morto por inimigos políticos em 1830, a data que quase sempre passa despercebida este ano foi marcada por um período onde esses profissionais foram bastante demandados.

O papel do jornalista de formar opiniões, conscientizar a população, oferecer à sociedade conhecimento e informações úteis em benefício das pessoas, além de contribuir para o crescimento individual, profissional e social do cidadão, tem sido cerceado a cada dia. O compromisso com a verdade tem sido agora ‘o compromisso dos patrões da comunicação com seus interesses’. A pressão dos anunciantes tem colocado em xeque a credibilidade da imprensa, indo de encontro a obrigação principal do jornalismo que é a ética profissional.

Conforme os jornalistas norte-americanos Bill Kovach e Tom Rosenstiel, autores do O livro “Os Elementos do Jornalismo: o que os jornalistas devem saber e o público deve exigir”, o importante é servir o indivíduo com informações relevantes para a melhoria da sociedade, tendo como princípio a lealdade.“O que significa ser leal com o público? “Para ser leal à sociedade é preciso ser dedicado e honesto. O jornalista não pode nem deve acrescentar nada além dos fatos. É preciso manter a qualidade, coerência, exatidão e veracidade na apuração e na elaboração das matérias. É o que a sociedade espera de um jornalista”, enfatizam.

Outro fato que marcou a semana foi a manifestação da Rede Globo em relação à opinião dos seus profissionais. Após o vazamento do áudio atribuído ao apresentador do jornal Bom dia Brasil, Chico Pinheiro, em que faz críticas e um desabafo sobre a ação do juiz Sérgio Moro ao decretar a prisão do ex-presidente Lula, o diretor-geral de Jornalismo da emissora, Ali Kamel, enviou um e-mail aos jornalistas para alertar sobre o uso de redes sociais. Em um dos trechos da gravação Chico diz: “Os coxinhas estão perdidos. Precisam de outro caminho agora”. A reação quase que imediata de um dos representantes da ‘família Marinho’ é uma demonstração de que mesmo tendo um lado, seus colaboradores, principalmente jornalistas, não pode externar em público ou para o público.

A nova forma de se fazer jornalismo divide opiniões e acende a discussão sobre a regulação da mídia. É inaceitável a manipulação barata e covarde imposta pela grande mídia á incautos telespectadores. No momento em se faz necessário usar os meios mais acessíveis de comunicação para discutir de forma responsável e prudente a situação que vive o Brasil e os brasileiros, programas de televisão se não incitam o caos, exibem aquilo que não contribui para a formação de uma sociedade cidadã e consciente. Exemplos do mau jornalismo atrelado ao mau-caratismo são encontrados facilmente nas mais diversas programações do rádio e da televisão brasileira. No final da tarde desta quarta-feira, dia 11 de abril, um programa que se intitula como ‘o maior exibidor de violência, crimes e utilidade pública do país‘, teve por quase uma hora toda a sua programação voltada para o resgate de um cachorro que caiu em um córrego em São Paulo. Helicóptero sobrevoava o local, o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar e outros profissionais estiveram envolvidos no socorro do pet. Todo o Brasil ficou na expectativa acompanhando cada momento deste importante fato que roubou literalmente a cena. Uma clara demonstração da falta de senso para um país repleto de boas pautas.

O 7 de abril passará a ser marcado também, a partir deste ano, como o dia em que prenderam o maior líder político do Brasil, o ex-presidente da república, por dois mandatos consecutivos, Luís Inácio Lula da Silva. Acusado, de ter recebido de presente um apartamento no litoral paulista, Lula é inimigo declarado por empresas e empresários responsáveis pelo emprego de jornalistas.

Aos verdadeiros jornalistas, um desejo por melhores dias.

 

Por Gervásio Lima

Jornalista e historiador

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Dona Marilene

11 de abril de 2018, 11:09

Por Marcelo Rodrigues

Faz dias que enviei crônicas para o jornal. A gravidez da mulher e as preocupações com a chegada do bebê me impediram de sentar e assim escrever. Em breve também irei embora da cidade, mas, antes de ir, pensava em uma última crônica como reconhecimento ao jornal e aos que me leram. A inspiração, porém, não vinha, e fui postergando essa crônica até o momento, quando uma triste razão me empurrou para o computador: o falecimento de Dona Marilene, gentil e caridosa Senhora que fez parte da minha infância. Depois de travar demorada luta contra o câncer, hoje, totalmente exaurido, seu corpo se rendeu e ela foi finalmente vencida. Mas vencida apenas nessa batalha física, pois continuará viva e presente nos corações daqueles que a amam. Um dia, toda vida se acaba; é inútil resistir; o que fica e jamais termina é tudo aquilo que fomos de amor e de justiça.
Conheci Dona Marilene quando ela sequer completara trinta e dois anos; era, então, uma jovem e bela mulher. Naquele tempo, eu me passava por um menino mal educado e brigão, mas a quem ela sempre tratou com respeito e carinho. Esse sentimento se estendeu a toda à minha humilde e instável família. Agradeço a ela por isso.
A última vez que a vi foi há pouco mais de uma semana, quando apareceu na casa da minha mãe numa visita bem rápida. Percebi que a sua saúde estava realmente fragilizada, mas não imaginava que o fim estivesse tão próximo! Naquele dia, insisti para que ficasse um pouco mais; respondeu que viria depois, mas jamais voltaria. Hoje me culpo por não lhe ter dado mais atenção e um abraço mais forte e prolongado.
Que Dona Marilene, depois de ter sido mãe zelosa e avó dedicada, possa finalmente descansar. Aqui, sua missão já se cumpriu. A vida é algo maravilhoso, a que todos nós nos agarramos com afinco pelos tantos prazeres que é possível na vida. Mas nenhuma existência é suportável quando o sofrimento não pára, quando a dor é constante. Nenhuma existência é digna quando não mais se vislumbra a alegria. E a morte, nessas ocasiões, é até bem vinda, pois não deixa de ser uma providência do destino para cessar o sofrimento e aliviar também a angústia dos entes queridos. Intimamente, creio que agora Dona Marilene é feliz, que não sofre mais. Agora, ela está em Deus, pois voltou para as mãos da natureza, que é mãe de todos nós e para aonde tudo retorna.
– Fique em paz, Dona Marilene. Aqui, a Senhora continua nos nossos corações.

Jacobina, 09 de abril de 2018

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A moda agora é irracionalizar

05 de abril de 2018, 13:37

Por Gervásio Lima

O comportamento humano, por mais racional que se acredita ser, surpreende e assusta àqueles que procuram entender ou compreendê-lo. Atitudes intoleráveis estão se tornando comuns entre os viventes que outrora eram considerados seres inteligentes. Atos deploráveis não são mais prerrogativas dos ‘brutos’, estão presentes no cotidiano e não selecionam suas vítimas. Os que nunca tiveram o direito de acesso à informação passaram a acreditar apenas no que passa na televisão.

A globalização mudou a forma das pessoas ver e viver o mundo, principalmente do ponto de vista cultural, econômico e social. O acesso às mais diversas formas de comportamento e pensamento tem contribuído positivamente e negativamente para a formação da sempre buscada sociedade justa. A maneira como estão sendo interpretadas as mensagens enviadas pelos inúmeros meios físicos e até mesmo subjetivos tem causado um reboliço na vida de muita gente. A capacidade de pensar está sendo substituída pela facilidade de encontrar pensamentos pré-estabelecidos. Os sujos passaram a falar bem mais dos mal lavados, enquanto os erros justificam outros. Paladinos da moralidade, salvadores da pátria e até mesmo falsos profetas permeiam e emitem pareceres como sendo absolutos e verdadeiros. Anticristos prenunciam o apocalipse? Só a Bíblia explica.

A moda não é mais vestir uma calça ‘boca de sino’, fumar cigarro Malboro, possuir um ‘LP’ do Beatles, ir à uma sessão matinê no cinema ou se divertir no parque ao som de Roberto Carlos. Muitos acontecimentos que marcaram épocas ficaram démodé e viraram apenas reminiscências. A emancipação intelectual ora se confunde e o que se espera do outro se transforma em decepção. A incapacidade de discernir o certo do errado é considerado um retrocesso para os que não viveram sem a internet e um provedor global de filmes e séries? A banalização da violência e da corrupção, a extinção dos pudores e do conceito de família estão entre as principais pautas dos meios de comunicação que têm deixado de formar para deformar opiniões e, o pior, estão conseguindo.

O ódio preocupa pela sua disseminação desenfreada e por está sendo capitaneado por um leque de setores que gozavam de confiança e respeito. A teatralização ocorrida em volta de fatos políticos transforma o Brasil em um verdadeiro ‘país mambembe, com sua população passando de meros expectadores para protagonistas, mesmo não sabendo os objetivos das tramas que se envolveu.

“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”.

Martin Luther King

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ARTIGO: A maioria nem sempre é absoluta

22 de fevereiro de 2018, 16:39

A discussão como forma democrática de socializar as ideias através de uma série de pensamentos reúne geralmente inconcussos e os controversos. Em um debate, inevitavelmente, a gosto ou contra-gosto, o objeto pautado acaba sendo conciliado a partir do pressuposto de que a maioria vence, mesmo quando a vantagem por alguma razão, inclusive espúria, passa a ter o poder da decisão.
Numa eleição, dependendo do número de candidatos e da quantidade de votos divididos entre os mesmos, o vencedor não reflete necessariamente a vontade da maioria; ou seja, é o escolhido por meio de alguma regra procedimental. De uma forma mais clara, em um universo de 100 por cento, quem obteve apenas 35 por cento dos votos válidos não atendeu a vontade dos 65 que optaram por outras alternativas. Remetendo esta lógica para o pleito municipal é correto afirmar que aquele ou aquela que obteve apenas os votos de um terço da população eleitoral governará por conta da vontade da minoria. Quando isso acontece, como dizem os nordestinos, o ‘cabra’ tem que ser muito bom caso queira conquistar a confiança da maioria. Isso não acontecendo, o timoneiro estará fadado ao fracasso eleitoral.
A descentralização do poder, com a participação coletiva, construirá caminhos “andáveis”. Como diz o provérbio popular: “sábios são os que ouvem mais e falam menos”. Na administração pública os serviços oferecidos têm como objetivo principal a garantia dos direitos estabelecidos na Constituição Federal. Erram os que confundem suas passagens temporárias em cargos eletivos como se fossem efetivos e os que utilizam de práticas improbas para se locupletar do erário. E para que isto não aconteça, a fiscalização precisa ser uma constante, tanto por parte dos também eleitos vereadores, como, e principalmente, pela população, independente do gestor, no caso dos municípios, ser correligionário ou não.
O cidadão pode denunciar diretamente à Promotoria Pública quando tiver conhecimento sobre um fato em que a sociedade tenha sido prejudicada, ou quando um dos direitos comuns a todos tenha sido desrespeitado, como o direito à vida, à saúde, a educação e outros. A omissão cidadã tem contribuído para o aumento da corrupção e a manutenção de corruptos no poder. Vale lembrar que o egocentrismo é tão prejudicial quanto os desvios e o mau uso das verbas públicas; por tanto é necessário que se observe não apenas o que prejudica a si, como também o que afeta o coletivo. A atenção deve está voltada para a defesa dos interesses da maioria e não para uma minoria que teve a maioria dos votos em uma eleição.
A ausência de ação, a inércia, perante um erro é o acovardamento do cidadão, um mau capaz de provocar prejuízos incalculáveis à uma cidade, um estado e o país.
Felizes serão aqueles que vivem a emoção por valorizar a razão.

Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador

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ARTIGO: O encontro das águas: ou o Rio Itapicuru e o Rio do Ouro

20 de fevereiro de 2018, 16:55

Há algum tempo, pretendia escrever sobre os dois rios de Jacobina: o Itapicuru e o do Ouro; rios, aliás, que fizeram parte da minha infância e a deixaram mais rica, porém, desde que voltei a morar na cidade, em maio último, esses dois importantes cursos não passavam de pequenos córregos, onde mais corria lama do que exatamente água, o que me deixava triste, pois era como se eles não existissem mais e apenas corressem majestosos nas minhas lembranças. Entretanto, nestes últimos dias, o Rio Itapicuru e o Rio do Ouro se mostraram novamente vigorosos nos seus leitos, como no passado. O brilho e a intensidade das suas correntezas têm sido tanto que vi me encherem os olhos de água também. Estes dois rios são como velhos amigos, que só agora reencontrei.
Na minha vida nômade, pude conhecer os grandes rios Negro e Solimões, bem como o belo Tapajós e o ousado Tocantins, mas a admiração ficou mesmo com os dois primeiros. Aqueles gigantes descem dos Andes e percorrem milhares de quilômetros até se encontrarem em Manaus. É um lindo espetáculo! Enquanto o Negro tem águas negras e douradas, o Solimões as tem marrons e barrentas. Quando se encontram, formam o imenso Amazonas; mas as águas dos dois não se misturam imediatamente; elas relutam e somente vão se entender a alguns quilômetros depois. Intimamente, sempre comparei esses dois grandes rios, e também o encontro das águas, aos singelos rios Itapicuru e do Ouro. Estes dois foram o Negro e o Solimões dos meus verdes anos.
O Rio do Ouro seria o Negro, pois suas águas são parecidas, ou seja, escuras; o Itapicuru seria o Solimôes, de águas aparentemente barrentas. Embora diferentes, tenho igual carinho pelos dois, porque juntos me proporcionaram momentos prazerosos. No Itapicuru, havia a ‘Prainha’ e a ‘Picula’; no Rio do Ouro, era a ‘Macaqueira’, um pequeno lago dourado, incrustado no meio das serras, de águas congelantes.
Naquele tempo, os clubes da cidade já possuíam lindas piscinas, mas acessíveis a poucos. O jeito então era ir em busca dos rios, que representavam verdadeiros oásis para a gente. Assim, os rios Itapicuru e do Ouro, tendo sido os rios que realmente vivi, e também por serem os primeiros que aprendi a amar, vão estar sempre no meu coração, não como rios mortos, mas como gigantes caudalosos, de águas puras e cristalinas, como nos dias da minha infância.

Jacobina, fevereiro de 2018

Marcelo Rodrigues

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Bairrismo como parâmetro

07 de fevereiro de 2018, 13:55

Defender o local de nascimento ou o lugar e a região que se escolheu para viver é uma característica do bairrista, aquele que demonstra abertamente o apreço e o sentimento de pertencimento. Uma qualidade excepcional quando a defesa se remete a cuidar e a participar efetivamente das construções de políticas públicas e sociais que possam impactar positivamente na vida dos seus conterrâneos.
É importante que se tenha o conhecimento de que o bem comum é a união de fatores que envolve uma relação coletiva, independente de se tratar de um ou mais lugares; por tanto o respeito e o reconhecimento às peculiaridades de uma cidade ou região que não seja a sua se faz necessário, sendo inclusive, também, uma demonstração de maturidade social.
Quando o assunto é território, agrupamento de municípios que se identificam culturalmente, hidrograficamente, economicamente e outros fatores, nada mais salutar do que imitar o que o vizinho está fazendo de bom. Copiar as boas ações e, ou, atuar em sintonia com os próximos fortalece o desenvolvimento equilibrado e sustentável entre as regiões.
A Imitação além de ser um comportamento avançado é uma forma de aprendizagem. Na política aquilo que não se consegue imitar precisa ser construído, uma premissa para o aparecimento de líderes. Nem sempre o político que se destacou em uma determinada cidade ou região conseguirá repetir o feito em outras cercanias. É preciso existir critérios no momento das escolhas dos representantes. Uma liderança local não tem o direito de impor aos seus munícipes suas preferências eleitorais sem uma justificativa louvável. A população não é marionete de seu timoneiro. O pretensiosismo e a objetificação do eleitor gerarão inevitavelmente prejuízos incalculáveis.
Em outubro deste ano os aptos a votar voltarão às urnas para escolher seus representantes nos legislativos estaduais e federal e o presidente do país. A sensatez, mais do que nunca, deve ser a principal resposta para os que se acham proprietários das escolhas e consciências alheias. É a hora de fazer acontecer, de mostrar que não é conformado, acomodado e muito menos marcado, pois esperar não é saber.
Acompanhar uma opção é uma decisão pessoal; enquanto aceitar uma imposição é ignorância. Na dúvida, utiliza-se o bairrismo como parâmetro, uma forma mais próxima e fácil de avaliar.

Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador

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Feito um cão sem dono

25 de janeiro de 2018, 12:12

A galinha suja os pés no local onde dorme porque não sabe limpar o pau do galinheiro e se o porco tivesse o poder da escolha não vivia no chiqueiro.Tais situações referem-se a dois animais irracionais que, por não terem a capacidade de diferenciar o certo do errado e o bom do ruim, aproveitam os que lhe são oferecidos da melhor forma que se imagina. Já muitos políticos que, supunha, possui a capacidade de discernir, tem maculado o importante papel da política com comportamentos esdrúxulos e imorais.
Não bastasse as enxurradas de notícias tendenciosas, muitas delas falsas (fake news), uma cambada de maus políticos tem deturpado a arte de fazer política e, talvez o pior, colocando toda a classe na mesma vala. Hipócritas paladinos da moralidade. A sensação do ‘brasileiro do Brasil sonhado’ é a mesma de um cão sem dono, abandonado, sem perspectivas e com a esperança no ‘nível quase morto’; uma situação aparentemente sem saída e com ausência de uma representação legítima.
A passividade misturada com a inércia da população diante dos vários acontecimentos políticos ocorridos recentemente é preocupante. Direitos históricos conquistados com muitas lutas e labutas estão simplesmente sendo cerceados ou extintos de forma abrupta por verdadeiros tiranos descomprometidos com as causas populares e comprometidos com o favorecimento dos mais afortunados. E o pior, numa espécie de masoquismo muitas pessoas aplaudem e apoiam medidas que, se não a si próprio, prejudicam alguém do seu convívio. O apocalipse político financiado por grupos mediáticos que pregam o quanto pior melhor, capazes inclusive de entre outras aberrações provocar os pudores familiares e religiosos com exibições de cenas de sexo e incesto em suas tramas e realitys, proporcionará consequências inimagináveis na vida dos brasileiros. Essa sádica mídia tem conseguido fazer com que uma grande parcela da população acredite que tudo o que está sendo posto é realmente como deveria ser e nada pode ser feito para alterar.
Permitir que o tempo passe sem participar como agente de construção é um comportamento egoísta e covarde. O emponderamento é preciso e urgente. Os oprimidos e os que clamam por justiça social precisam externar para a opinião pública seus descontentamentos, suas revoltas e suas indignações. As grandes mudanças que ficaram conhecidas historicamente no mundo tiveram o povo protagonista, por conta do seu forte e indestrutível poder. Como diz o ditado, “se o boi soubesse a força que tem não deixaria ser dominado’.
Pobre da sociedade que é escravizada por sua própria omissão.

Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador

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Antônio, João e Pedro agora são Luan, Gustavo e Safadão

23 de janeiro de 2018, 10:27

A descaracterização das festas no período junino que iniciam com as comemorações aos santos Antônio (13), João (24) e Pedro (29), todas ocorridas no mês de junho, foi um dos assuntos mais discutidos dos últimos dias, mais especificamente na região nordeste do país, onde as tradições da fogueira e do forró são mais arraigadas.

O abandono da tradição tem sido tão criticado quanto o uso do termo forró em eventos de músicas pop, axé, arrocha e sertanejo; sem contar os megas cachês pagos a artistas de estados brasileiros onde a cultura nordestina na verdade é mais discriminada do que valorizada. Muitos dos cantores ‘produzidos em laboratórios’ se quer conhecem termos como arrasta-pé, xote, xaxado e baião, típicos e enraizados na cultura nordestina. Uma inversão de valores sem tamanho.

Gosto não se discute, isso é fato, mas contribuir com a extinção de uma tradição centenária, um dos principais patrimônios artísticos do país, que teve e ainda tem nomes que contribuíram e ainda contribuem com a formação cultural e literária do brasileiro através de suas músicas e melodias como Jackson do Pandeiro, Pinduca, Dominguinhos, Sivuca, Oswaldinho do Acordeon, Trio Nordestino, Luiz Gonzaga, Jorge de Altinho, Alcimar Monteiro, Targino Godin, Adelmário Coelho, Edgar Mão Branca, Flávio José e tantos outros, chega a ser um crime.

Todos precisam ocupar seus espaços, mas denominar um evento em pleno dia do São João em uma cidade localizada no semiárido nordestino como ‘Forró do Sertão’, onde as principais atrações são cantores como Anita (música pop), Ivete Sangalo (axé), Léo Santana (pagode) e Gustavo Lima (sertanejo), chega a ser uma piada de mau gosto, para não denominar de outros adjetivos não convencionais e politicamente corretos. Um ‘Forró das Caraíbas’ deixa de ser tão importante quando milhares de reais oriundos do poder público são pagos para que a principal atração do que deveria ser ‘um rala buxo’ é a cantora sertaneja, de origem goiana, Marília Mendonça.

Todos os municípios de todas as regiões do país possuem festas tradicionais, sejam para comemorar suas emancipações administrativas, seus padroeiros ou até mesmo eventos que passaram a se tornar tradicionais por motivos específicos, como a Festa da Uva em Caxias do Sul (RS), a Oktoberfest em Blumenau (SC), Cavalhadas de vários municípios de Goiás e outras. Na Bahia, além do São João, muitas cidades realizam micareta, carnaval e as chamadas ‘festas da cidade’ onde se comemora o aniversário ou a profanidade do dia do padroeiro. Para preservar a história e, principalmente, valorizar as culturas populares, os recursos públicos devem ser destinados a apoiar os eventos que preservem suas tradições, inclusive prestigiando as atrações locais, quando houverem e não para incentivar o fim em detrimento de um incerto começo.

Por Gervásio Lima

Jornalista e historiador

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Um pedreiro que lia livros

18 de janeiro de 2018, 18:32

 

Em março de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) foi criada sob a inspiração do Partido Comunista do Brasil, com a finalidade de defender a liberdade de expressão, nacionalizar empresas, realizar a reforma agrária, suspender a dívida externa, e instaurar o governo popular. Era formada por intelectuais, trabalhadores e militares, e teve curta duração.

Já em novembro de 1935 aconteceram três levantes (rebeliões) militares nas cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro. A sublevação militar (revolta organizada) conhecida também com a ‘Intentona Comunista’ (termo pejorativo encontrado pela cúpula militar para desqualificar o movimento armado que o capitão do Exército Brasileiro Luís Carlos Prestes encabeçou), que pretendia derrubar o governo de Getúlio Vargas. Estes, talvez, tenham sido os principais acontecimentos ocorridos no Brasil em 1935, do ponto de vista político/histórico.

Neste mesmo ano, mas precisamente no dia 24 de novembro, nascia em uma comunidade rural do município de Mundo Novo, José Ferreira da Silva. Filho do casal Maria de Jesus e Pedro Ferreira da Silva e, descendentes de escravos, José seria a alguns anos depois, ainda na adolescência, arrimo da família e, em busca de uma vida menos sofrida, após completar 20 anos de vida, migrou-se para a cidade de Jacobina em busca de melhoras. Com experiência de trabalho na construção civil, arte despertada ainda em sua infância, foi ajudante de pedreiro e logo depois, pela sua capacidade extraordinária de aprendizagem se tornou um excelente pedreiro e em seguida mestre de obra. Profissional capacitado, passou a ser bastante requisitado, o que não lhe faltou mais trabalho. Era a hora de juntar a família novamente. Seus irmãos (Ditinha, Adelaide, Maria e Lelinho) e seus pais acompanharam o filho pródigo que continuou sendo arrimo até que todos pudessem ‘caminhar com as próprias pernas’ na nova cercania.

Admirado não apenas pelo profissionalismo, José passou a ser o reconhecido ‘José Pedreiro’, um homem inteligente, amigo, cumpridor de suas obrigações, sério e honesto. Todas as qualidades possíveis para um homem de bem o artesão da construção e da vida possuía e para completar e complementar a sua existência, veio o matrimônio com Dona Antônia Almeida Lima, com quem teve 7 filhos (Giorlando, Girleide, Geraldo, Genivaldo, Genival, Gessineide e Gervásio Lima). Bom marido e bom pai, virou referência para sua proles.

O bom filho, o bom profissional, o bom marido e o bom pai, José Ferreira, o simplesmente Zé Pedreiro, gostava de ouvir boas músicas e ler livros e jornais. Era um homem diferenciado para ‘os padrões’ estabelecidos para sua época e para sua profissão. Graças a sua maneira de enxergar o mundo e o cuidar da família, seus filhos e netos puderam ser doutor em filosofia, médico, odontólogo, advogado, pedagogo, administrador de empresa, geografo, jornalista e historiador.

No dia 20 de janeiro de 1998, ao 62 anos de idade, uma trombose, seguida por uma embolia pulmonar e uma parada cardíaca, lhe tiraram a vida. O então mestre de obras foi chamado pelo Criador. Vinte anos já se passaram e seus ensinamentos permanecem vivos e, assim como as construções que ergueu, o respeito e o amor continuam fortes e presentes na vida dos que tiveram o prazer de conhecer e conviver com José Ferreira da Silva.

1935, 1998 e 2018 … Alegria, saudade, dor e orgulho se misturam.

Te amo papai.

Gervásio Lima.

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Tocam sinos, tocam sinos …

20 de dezembro de 2017, 14:05

Jingle Bells, Jingle Bells, acabou papel. Não faz mal, não faz mal, limpa com jornal. Essa paródia “abrasileirada” e por incrível que pareça cantada nos quatro cantos do país no período que antecede o Natal, é um dos mais antigos plágios que se tem notícias na ‘Terra Tupiniquim’, mas se mantém atual quando o assunto é política e crise econômica, onde o papel a que remete a música vale literalmente mais que determinados jornais, do ponto de vista a conteúdo e compromisso com a verdade.
Assim como as instituições públicas, os meios de comunicação tinham respaldo e eram considerados exemplos de moralidade e decência. A onda de escândalos envolvendo os mais diversos tipos de ‘autoridades’ e as complacências explicitas têm levado os poderes e os poderosos para a mesma indecorosa vala. A desconfiança tem substituído o respeito. Interesses espúrios e escusos sobrepõem a verdade. Não é democraticamente correto fazer com que o outro veja apenas o que lhe convém; isto é uma forma inadmissível de persuasão. Com o advento da Rede Mundial de Computadores atualmente é preciso saber que nem tudo que se diz encontrar no globo é real.
O jornalismo sempre foi o canal que disseminou as notícias e conteúdos às pessoas, seja a respeito da sua própria comunidade ou sobre o mundo. Hoje existe um ruído na relação entre os meios de comunicação e o público que não quer mais ser informado por apenas o que uma emissora de TV, de rádio ou jornal impresso insiste em veicular. Boa notícia, quiçá não corrobore para a “monogamia informativa”, ou seja, que ao invés de se procurar o acesso aos mais diversos meios oferecidos da informação se atenha apenas a um, ou na pior das vezes a nenhum.
A partir da chegada das redes sociais há quem se informe somente através das mensagens que recebe por meio digital (celular, computador …). Ao não checar as informações corre-se o risco de disseminar informações inexatas e exageradas, as chamadas fake news, ou seja, espalhar notícias que aparentam ser verdadeiras, que em algum grau poderiam ser verdade ou que remontam situações para tentar se mostrar confiáveis.
Em um enigma criado por Alex Bellos, da produtora de TV BBC, de Londres, ele desafia a descobrir quem está mentindo ao apresentar a ‘advinha’ (charada): . João diz que Alfredo é mentiroso. Alfredo diz que José é mentiroso. José diz que Alfredo e João são mentirosos. Presumindo que cada pessoa envolvida ou sempre diz a verdade ou sempre mente, qual deles está dizendo a verdade? Solução: Alfredo está dizendo a verdade. Se José está dizendo a verdade sobre João, então João está dizendo que Alfredo é honesto, o que faz de José um mentiroso. Se, por outro lado, João é honesto, então Alfredo está na verdade dizendo que José é honesto, o que mostramos ser falso. Portanto, só Alfredo está dizendo a verdade.
Que o sentimento natalino perpetue, para que o amor, a paz, o perdão, o afeto, a amizade, o carinho, a cumplicidade e a verdade estejam sempre presentes na vida dos seres racionais. Feliz todas as festas do bem para todos. Ho, ho, ho, ho, ho …

Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador

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Boas Festas!

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