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O Complexo de Vira-Lata: Herança subjetiva da colonização e trava na construção de uma Identidade Nacional Plena

19 de agosto de 2025, 15:26

*Por Edson Júnior Matos dos Anjos

O atual cenário de crise comercial provocado pelo presidente estadunidense Donald Trump trouxe à tona um importante debate já há muito presente na sociedade brasileira: o “Complexo de Vira-Lata”. Criado por Nelson Rodrigues após a traumática derrota brasileira na final da Copa do Mundo de 1950, e muito utilizado em recentes falas do presidente Lula, o conceito ultrapassou o universo esportivo para se tornar metáfora de um sentimento persistente de inferioridade cultural e social presente em diferentes setores do país.

Trata-se de uma síndrome nacional — uma espécie de psicologia coletiva internalizada — que alimenta o desprezo pelo que é brasileiro e a admiração acrítica por modelos estrangeiros, sobretudo eurocêntricos e estadunidenses. O complexo, longe de ser apenas um sentimento isolado, tem raízes profundas no imaginário de uma elite forjada sob os escombros do colonialismo, que construiu sua autoimagem a partir da rejeição à própria cultura e do culto ao “lá fora”.

A base histórica desse complexo remonta ao pensamento de autores como Nina Rodrigues, Monteiro Lobato e Oliveira Viana, que, no início do século XX, sustentaram teses eugenistas e deterministas, associando a miscigenação e a herança africana e indígena à suposta “inferioridade” do povo brasileiro. Essa mentalidade colonizada, elitista e racista impregnou boa parte das instituições e da formação das classes médias urbanas. Em contrapartida, vozes como Gilberto Freyre e Ariano Suassuna combateram essa narrativa, valorizando a mestiçagem como traço distintivo e potência criativa do Brasil. Suassuna, em especial, ironizava o comportamento do brasileiro que “não acredita no próprio país”, chamando isso de “mística da derrota”, ao passo que propunha um “realismo esperançoso” como antídoto ao pessimismo colonizado.

O “Complexo de Vira-Lata” não é um fenômeno isolado. Ele se conecta historicamente a processos como o imperialismo cultural, que reforça a dependência simbólica; ao colonialismo mental herdado da colonização portuguesa; e à lógica econômica de dependência teorizada por pensadores da CEPAL, como Raúl Prebisch, que apontavam a subordinação estrutural dos países periféricos aos centros econômicos globais. Também guarda relação com o que Frantz Fanon descreveu como “alienação cultural” nas ex-colônias, em que o colonizado internaliza o olhar depreciativo do colonizador e passa a reproduzi-lo.

Exemplos dessa postura surgem de forma recorrente: a crítica sistemática à realização da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016; a rejeição de parte da população às universidades públicas de excelência; a importação de discursos políticos estrangeiros, como o “trumpismo”, sem adaptação ao contexto nacional. Darcy Ribeiro já alertava para a dimensão política desse processo ao afirmar que “a crise da educação não é uma crise, é um projeto”, denunciando a manutenção deliberada da ignorância e da subalternidade cultural como ferramentas de dominação.

Esse comportamento tem consequências graves: fragiliza a autoestima nacional, dificulta a formulação de projetos autônomos de desenvolvimento, enfraquece a soberania cultural e perpetua a lógica de dependência. Um país que não acredita em si mesmo dificilmente terá forças para enfrentar as pressões externas e internas que moldam seu destino.

Em diálogo com alunos e até alguns colegas cientistas sociais, sempre ressalto a importância de rompermos esse ciclo histórico. Entendo que superar esse complexo exige mais do que discursos otimistas — requer um esforço coletivo e consciente. É necessário valorizar a cultura nacional sem isolacionismo, investir em educação crítica e emancipatória, e reconstruir o orgulho de ser brasileiro sem cair em autocomplacência. O Brasil não carece de talento, inteligência ou capacidade — carece de confiança em si mesmo e de coragem para romper com a mentalidade colonizada que ainda persiste.

O convite que se impõe é este: olhar para o Brasil sem a lente distorcida do preconceito herdado, reconhecer nossas virtudes e desafios de forma realista e decidir, de maneira consciente, que não aceitaremos mais ser coadjuvantes da nossa própria história. É hora de abandonar a coleira do vira-lata e assumir o papel de protagonista no próprio destino.

Box de Referência – Autores e Conceitos-Chave

Nelson Rodrigues – Jornalista e dramaturgo que cunhou o termo “Complexo de Vira-Lata” após a derrota do Brasil na Copa de 1950.

Darcy Ribeiro – Antropólogo e educador que denunciou a “crise da educação” como projeto deliberado de manutenção da desigualdade e subalternidade.

Gilberto Freyre – Sociólogo que valorizou a mestiçagem como elemento distintivo e fonte de riqueza cultural brasileira.

Ariano Suassuna – Escritor e dramaturgo que criticava o pessimismo colonizado e defendia o “realismo esperançoso”.

Frantz Fanon – Intelectual martinicano que analisou a alienação cultural e a internalização do racismo nos povos colonizados.

Imperialismo Cultural – Domínio simbólico e cultural de uma nação sobre outra, reforçando a dependência e a perda de referências próprias.

Colonialismo Mental – Permanência de padrões culturais e visões de mundo impostos pelo colonizador, mesmo após a independência política.

Teoria da Dependência (CEPAL) – Conjunto de estudos que explica a subordinação econômica dos países periféricos aos países centrais.

*PROFESSOR EDSON JÚNIOR MATOS DOS ANJOS:

HISTORIADOR FORMADO PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA

PÓS GRADUADO EM TURISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

PÓS GRADUADO EM MBA EM GESTÃO DE RECURSO HUMANOS

PÓS GRADUANDO EM HISTÓRIA DO BRASIL

PROFESSOR DO COLÉGIO ESTADUAL PROFESSORA ADJACI MARTINS DURANS – Várzea Nova – Ba.

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Descanse em paz meu amigo

22 de julho de 2025, 16:30

Foto: Álbum de Família

*Por Gervásio Lima

A saudade é uma dor infinita, que tem entre os seus significados o alento, uma forma de suportar uma perda, principalmente de um ente querido. Nada parece mais vazio do que saber que alguém extremamente significativo deixará de existir fisicamente. Sentir o abraço, ouvir os conselhos e ensinamentos, curtir os momentos de lazer e, como um fiel telespectador, acompanhar literalmente seus passos, são suficientes para viver harmoniosamente em um mundo onde só os bons são capazes de entender sua complexidade e supera-la.

A vida eterna poderia ser uma prerrogativa para aquele que prega o bem e tem como o seu semelhante um multiplicador de sabedorias e bem aventurança e não um diferente.

Os que pregam a harmonia, a paz e respeita as diferenças a partir de sentimentos construídos de forma a não ferir ou destruir o outro, devem ser referenciados; sendo não apenas lembrados.

Acalenta saber que mesmo em extinção, os bons exemplos ainda existem e resistem, podendo ainda ocupar espaços e serem timoneiros, a pesar de ter que driblar as adversidades com gingados e a perseverança, característicos dos que buscam e lutam constantemente por uma vida digna, com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Os que sempre pregaram e estiveram do lado daquilo que faz bem vivem sem dores e contribuem de verdade para um mundo mais solidário e humano.

Viva aos bons!

Uma homenagem ao meu saudoso sogro, carinhosamente conhecido por Darinho, que partiu para o mundo espiritual neste domingo, dia 20. Descanse em paz meu amigo.

Sebastião Dário Oliveira Nascimento *20/01/1945 +20/07/2025

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Amar como Jesus amou

15 de julho de 2025, 15:19

Foto: Gervásio Lima

*Por Gervásio Lima. –

As reações instintivas dos animais são previsíveis, basta saber que em se tratando de um ser irracional tudo pode acontecer. Os mais velhos já diziam que ‘não se deve confiar em bicho que dorme no sereno’. Não sendo necessariamente uma regra geral, quem possui ou já possuiu um pet (animal de estimação em inglês), sabe o quanto a demonstração de amor, carinho, companheirismo e fidelidade são recíprocos, principalmente entre os mais populares – o cão e o gato. 

A frase: ‘é melhor ter um cachorro amigo do que um amigo cachorro’, refere-se a certos tipos com comportamentos próximos da irracionalidade, mesmo sendo classificados como racionais. O saber e o discernimento eram usados como ferramentas necessárias à formação moral de um sujeito para que a vida em sociedade fosse harmônica, com cada cidadão ocupando os espaços de forma solidária, sem ‘usuras’ e sem invejas. Isso, no entanto, nos tempos atuais tem se transformado em sinônimo de poderosa ferramenta de destruição, onde os interesses pessoais se sobressaem, em detrimento do bem coletivo. 

A arrogância, a prepotência e a petulância são os substantivos que melhor definem algumas das características de muitos que têm a oportunidade de contribuir com a transformação social, com um mundo melhor para viver, mas trabalham na contramão do aceitável, da coerência e da sabedoria. 

Ser domesticado é, também, ser preparado para o convívio humano, tornando-se sociável e procurando não ir de encontro às regras da ‘lei da boa convivência’; ao contrário do desprovido de benevolência e piedade em relação aos seus semelhantes. 

“Sentir o que Jesus sentia 

Sorrir como Jesus sorria 

E ao chegar ao fim do dia 

Eu sei que eu dormiria muito mais feliz”  –  Amar como Jesus Amou – Padre Zezinho 

*Jornalista e Historiador

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Cada qual no seu cada qual

12 de junho de 2025, 14:35

Foto: Reprodução

*Por Gervásio Lima –

Milho e bolo ‘assados’ na Air Fryer, quentão preparado no microondas e fogueira elétrica com chamas de LED. Mais bizarras do que se poderia imaginar, porém estas são algumas das realidades do período mais nordestino do país, o São João, quando se realiza os festejos juninos, com degustação das mais diversas iguarias da típica e nativa culinária regional.

O advento das tecnologias, a insegurança e até mesmo a diminuição da empatia entre os que deveriam ser iguais, ou semelhantes, são algumas das prováveis justificativas para o abandono das seculares tradições populares, como a da festa do São João.

O modo do preparo de alguns alimentos, com a utilização de modernos e sofisticados equipamentos em detrimento de outros mais rudimentares, causa estranheza não apenas para aqueles que em algum momento viveram ou se informaram da existência por meio de familiares, mas, principalmente, para os nostálgicos, que analisam a situação como uma cruel mudança de paradigmas e, ainda pior, como uma ameaça à preservação dos costumes históricos.

O que minimiza o iminente desaparecimento de determinados elementos das tradições juninas são as lembranças das participações do Rei do Baião, Luíz Gonzaga, no Rock in Rio, e do forrozeiro Dominguinhos,  na orquestra de sanfonas no Festival Lollapalooza. Foram momentos especiais para curtir e dançar ao som da boa música nordestina.

Ao contrário das referidas apresentações dos saudosos ícones, atualmente muitos são induzidos a assistirem ao show de música eletrônica do DJ Alok Achkar Peres Petrillo, no São João da cidade de Irecê, a prestigiarem a música gospel do padre Fábio de Melo, no Arraial de Quijingue, ou ao pagodão da Banda Lá Fúria no Bloco “Os Caipiras”, no São João de Terra Nova?

“Aqui tudo piorou, tudo tá mudado”, já dizia Genival Lacerda, que animava o público com shows autenticamente nordestinos e com um estilo inconfundível de cantar o forró, sempre com muita irreverência e ousadia criativa.

Ah, alguns podem argumentar que existe gosto para todos os ritmos e estilos. Concordo, mas existem eventos para cada dia do ano e especificidades.

Como se comportariam os gaúchos se a bebida distribuída durante a Festa da Uva fosse suco de umbu, e os moradores de Presidente Dutra, se as guloseimas oferecidas durante a Festa da Pinha fossem preparadas com cajus!

Cada qual no seu cada qual. Como diz o jornalista Fabrício Carpinejar, ‘aceita que dói menos’.

*Jornalista e Historiador

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É vivendo e aprendendo

05 de junho de 2025, 14:55

Foto: Gervásio Lima

*Por Gervásio Lima –

É vivendo e aprendendo. Esta talvez seja uma das frases mais enunciadas quando se tem contato pela primeira vez com o desconhecido ou com novas experiências, seja no meio profissional, social ou familiar. Esta seria também uma forma de confirmar que o aprendizado é infinito e atemporal.

O acesso ao novo é também uma questão de opção, com a filtragem ficando por conta do receptor, que geralmente aproveita o positivo, mesmo não sendo necessariamente uma regra. Fato comprovado pelo grande e assustador número de maus exemplos, de “ser humaninhos”.

Em se tratando de limites, é correto afirmar que nada é para sempre; tudo na vida é passageiro, até mesmo o motorista e o cobrador. Enquanto for possível, o certo é dar tempo ao tempo, pois ‘tudo pode acontecer, inclusive nada’. Mas, enquanto o novo não vem, o comportamento mais acertado é aquele em que se respeita as diferenças e tem a empatia como uma filosofia de vida.

Acreditar que superioridade é sinônimo de condição financeira e hierarquia, é ledo engano, característico do egocêntrico, do arrogante e dos que acreditam que o mundo é dividido em bolhas que nunca explodem. Ao contrário do que muitos pensam, o mundo dá voltas…e muitas voltas.

Trabalhar o bem é tolher o negativo, uma constância da bem-aventurança. A lei do retorno pode ser impiedosa, mas também positiva. Aqui se planta, aqui se colhe. Lembrando que, dependendo de como se cultiva, os espinhos podem machucar.

*Jornalista e Historiador

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O ataque a Marina Silva: um sintoma da brutalização do Parlamento

29 de maio de 2025, 11:45

Foto: Reprodução

*Felipe Freitas, secretário de Justiça e Direitos Humanos do Governo da Bahia

Toda pessoa convidada a falar em um parlamento, qualquer que seja a condição desse convite, merece respeito, consideração e urbanidade no trato. É isso que prevê a civilidade democrática, é o que preconiza a boa educação. Assim, o episódio do ataque à ministra Marina Silva em audiência no Congresso Nacional nos faz refletir sobre o que podemos esperar da arena do debate público em nosso país e sobre quais são os parâmetros básicos para o debate democrático e para a resolução de conflitos e problemas sociais.

A ministra Marina é representante das classes populares que, de maneira incomum, ocupou os mais destacados cargos da República. Notabilizou-se como símbolo da participação política dos excluídos sociais e como estandarte da democracia e de suas virtuosas possibilidades. Assim como o presidente Lula, Benedita da Silva e poucos outros personagens da política nacional, Marina chegou às altas rodas da República tendo superado a pobreza e todas as dificuldades que esta impõe às pessoas.

Benedita da Silva, ex-governadora do Rio de Janeiro, foi também senadora, deputada federal e ministra. Mulher negra, vinda da favela, construiu uma trajetória política marcada pela luta social e pela defesa dos direitos humanos. Sobre Lula, sua biografia é amplamente conhecida e, neste contexto, dispensa maiores apresentações.

Marina alfabetizou-se aos 16 anos, foi vítima de doenças graves na infância, viveu o flagelo da fome e da exclusão e, de um dos extremos da pobreza amazônica, transitou para a militância política de esquerda, sendo reconhecida internacionalmente tanto por sua atuação em defesa da pauta ambiental quanto por seu papel na defesa de iniciativas inovadoras de desenvolvimento sustentável.

Marina foi quase tudo o que se pode ser numa democracia representativa: vereadora, deputada estadual e federal, senadora, ministra e, por mais de uma vez, candidata à Presidência da República. Esse rol luminoso de feitos políticos por meio do voto popular conferiu a Marina irrepetível notoriedade internacional e destacado reconhecimento público, alcançado por poucos parlamentares na vida republicana.

É possível afirmar sem medo que Marina Silva e Benedita da Silva são as mulheres negras que ocuparam os mais altos postos de representação política na sociedade brasileira nos últimos anos. Porém, nada disso as blindou dos desvairios da violência política.

Portanto, o que significa atacar alguém como Marina? Qual o impacto de tentar calar um dos mais eloquentes símbolos da transição democrática e do sucesso político de uma filha legítima da luta popular em nosso país?

É preciso dimensionar a extensão — profunda, certamente — dos ataques misóginos e racistas à ministra Marina, expressão direta da brutalidade de alguns membros do nosso parlamento. Esse abuso também representa um ultraje à própria regra do jogo democrático, na medida em que viola um dos maiores monumentos da democracia no Brasil.

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Bicho maluco beleza

16 de maio de 2025, 10:17

Foto: Gervásio Lima

*Por Gervásio Lima –

No momento em que o egocentrismo sufoca a complacência, a melhor maneira de praticar a boa convivência é concordar com o discurso e evitar o acirramento, pois como diz o adágio popular, ‘o mal do sabido é pensar que todo mundo é besta’. A prudência é a arte praticada pelos que têm o dom da sabedoria, aqueles que verdadeiramente sabem viver.

A harmonia é um comportamento coletivo, um estado de equilíbrio e cooperação entre os indivíduos. Quando as divergências atingem um grau de desrespeito, o sinal de alerta deve ser acionado e medidas devem ser tomadas para evitar uma convulsão social.

A arrogância é típica do intolerante, daí a justificativa do afastamento em vez da tentativa de conciliação. Apoiar-se na domesticação do selvagem vai de encontro às regras da natureza cultural e racional. Engana-se quem acredita que aquilo ou aquele desprovido de sensibilidade e sensatez seja capaz de demonstrar ou praticar a compaixão, ser empático.

Perda de tempo disputar espaço com o vazio. Recipiente com furos não armazena líquido. O irracional vive quase que exclusivamente em busca de suas presas, pela necessidade de sobrevivência e procriação. Habituá-lo ao convívio social, fora de sua bolha, é quase sempre uma tarefa impossível.

Não é necessário ter posicionamentos iguais ou semelhantes. O ideal é a convivência harmônica com as diferentes experiências, opiniões e perspectivas. O importante é ter um olhar mais amplo e humano sobre o mundo e suas pluralidades.

“Ô, ô-ô, bicho maluco beleza

Ô, ô-ô, bicho maluco beleza

Bicho maluco beleza do Largo do Amparo

Teu estandarte tão raro, Bajado criou

Usando tintas e cores do imaginário

Ai, quantas dores causaste ao teu caçador” – Bicho Maluco Beleza – Alceu Valença

*Jornalista e Historiador

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Inversão de valores: o cúmplice travestido de vítima

16 de abril de 2025, 15:08

Foto: Gervásio Lima

*Por Gervásio Lima –

É fácil, muito fácil, cobrar aquilo que não se consegue realizar. Demandar é cômodo, transferir responsabilidade é mais ainda. A necessidade de demonstrar poder, mesmo sem tê-lo, é comum entre os fracos, que geralmente se escondem atrás do potencial alheio

Esperar do próximo aquilo que não possui é uma forma bizarra de animosidade. Não tem como exigir o que não é recíproco. Em uma sociedade onde se busca a harmonia, o respeito às diferenças, e a garantia de direitos, a disputa de poder é vista como uma forma de ocupar os espaços ou a eles ter o acesso, ao contrário do abuso do poder, onde o egocentrismo encontra moradia para cometer as mais perversas e inaceitáveis maldades para impor os seus desejos.

O uso da dor, do sincretismo, do berço familiar e do sentimento de pertencimento, são elementos essenciais para os novos tipos de ‘abutres’, que se aproveitam do sofrimento e da crença do semelhante para obter os mais diversos tipos ilícitos de vantagens.

Provocar situações em busca de resultados pessoais ou da corja à qual se está inserido, é uma espécie de ‘modus operandi’ do mau-caratismo de sujeitos vis. Ser influenciado ou persuadido por aquele que vive e pratica o mal nem sempre é inocência, mas vontade de ser igual: um cúmplice travestido de vítima.

Que nessa Semana Santa, uma das celebrações mais importantes para os cristãos – quando é relembrada a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo – a figura de Judas Iscariotes, aquele que traiu Jesus, entregando-O à morte, por 30 moedas de prata, após ter participado da Última Ceia, sirva como exemplo de quão é necessário o máximo de cuidado para não se deixar surpreender com as maldades dos falsos profetas.

*Jornalista e Historiador

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Apolo ou Tupã? A escolha é individual

08 de abril de 2025, 11:45

Foto: Gervásio Lima

*Por Gervásio Lima –

Uma das maiores e mais discrepantes inversão de valores que se tem conhecimento é a de o mal sobrepor o bem. Ferir e até mesmo exterminar, em situações mais extremas, têm sido uma prática quase que normalizada pelos que desprezam a divergência.

A imposição de ideias está virando regra e caminha a passos largos, lado a lado com a intolerância, numa brutal e perigosa busca por um ideal egoísta e subserviente. Como nas mitologias gregas e indígenas, vive-se um momento onde existe um deus para cada situação, numa verdadeira disputa de crenças, com a intransigência obtendo cada vez mais destaque.

Defender o indefensável está na moda. Blasfêmias, ofensas, insultos, afrontas e desacatos são utilizados com frequência para justificar barbáries sociais e jurídicas. Vale aquilo que disseram ou praticam, menos as observações pessoais.

A adesão cega a determinado sistema ou doutrina tem demonstrado historicamente que as consequências são danosas, provocando mais horrores que afeições. Para aceitar, compreender e respeitar opiniões divergentes, não precisa de uma ponte ou de um carteiro, mas entender que a política da boa vizinhança depende de atitudes próprias.

Se aceitar os deuses da ancestralidade como símbolo dos anseios e dos temores for a saída, que se cultue Apolo, uma divindade da mitologia grega que representa, entre outras coisas, a ordem e a justiça; ou o deus Tupã, segundo a mitologia indígena, criador dos céus, da terra e dos mares. O grande “Espírito do Trovão”, que deu origem à vida. O primeiro representa a paz, enquanto o outro ensina a viver.

A escolha é individual.

“Sabe o que eu queria agora, meu bem?

Sair, chegar lá fora e encontrar alguém

Que não me dissesse nada

Não me perguntasse nada também”Onde Deus possa me ouvir – Vander Lee

*Jornalista e Historiador

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O Brasil foi batizado na Bahia

21 de março de 2025, 09:45

Foto: Gervásio Lima

*Por Gervásio Lima –

O baiano é, além de receptivo e solícito, uma inspiração de brasilidade, amante da cultura e disseminador de alegria. E isso, com o privilégio de ter nascido no berço das tradições culturais, ser descendente da coragem, resultante das lutas e vitórias históricas que reverberam até os dias atuais.

Talvez o fato de poder acordar ouvindo Gil, Caetano, João Gilberto, Betânia, Caymmi, Raul, Tom Zé, Moraes Moreira, Brown, Ivete Sangalo; ou dormir depois de ler Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro, assistir a um filme de Glauber Rocha, recitar as poesias de Castro Alves,  e aprender geopolítica com Milton Santos, sejam motivos de incômodo para aqueles que não têm uma praia de Itapuã para banhar e o Farol da Barra para iluminar a alma.

O que fariam em Lençóis ou em Porto Seguro os que descansam mais que trabalham? Com certeza eles não entenderão o que é gozar do privilégio de viver a natureza e, ao mesmo tempo, trabalhar duro para recepcionar não apenas os que gostam do acarajé, mas também de uma boa buchada, mocotó, traíra frita, galinha caipira e bode assado com pirão de aipim.

Já é Carnaval cidade, acorda pra ver, pois o São João bate na porta e a Festa de Reis está prestes a acontecer. Como é bom saber que todo brasileiro se amarra na folia e que o Brasil foi batizado na Bahia. Olodum ou Filhos de Gandhi, o que importa é a baianidade nagô.

O baiano é humilde por natureza, mas não confundam sua benevolência com idiotice. Enganam-se os que acreditam que os filhos ou moradores da terra de Mãe Menininha do Gantois e da Santa Dulce dos Pobres normalizam situações ou aceitam provocações que ferem seu brio. Xenofobia contra o lugar onde nasceu o Brasil é um disparate. Comentários jocosos e gratuitos, partindo de onde deveriam ser combatidos, são repugnantes. A justiça poderia ser muda e não cega.

Alô doutor, o senhor calado é um poeta.

Sorria, você está na Bahia. Aqui o baiano não nasce, estreia.

*Jornalista e Historiador

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Boas Festas!

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