Pimenta é uma planta de sabor ardido ou picante, que pode ser um fruto, semente ou condimento. Possui diversas espécies que variam em cada país. No Brasil, por exemplo, quando se fala em pimenta, em geral, se refere às espécies Capsicum e Piper (como a pimenta-do-reino), que possuem gosto “ardido”. Mas a pimenta biquinho e o pimentão também são considerados tipos de pimenta, só que mais adocicados.
A pimenta-do-reino, por exemplo, é nome de pequenos grãos da baga da pimenteira, uma planta proveniente da Ásia e que pode apresentar diversas colorações de acordo com o grau de maturação. Também existem as pimentas de cores: preta, branca, verde e vermelha, e a pimenta rosa, que é obtida a partir dos frutos secos da planta aroeita e tem sabor e aroma diferente das outras.
Pimenta-do-reino gruda no intestino e pode fazer mal à saúde?
De acordo com a médica nutróloga, Marcella Garcez, da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), a ardência da maior parte das pimentas vem de componentes que causam essa sensação quando entram em contato com as células nervosas da boca e das mucosas. Eles são divididos em duas categorias:
A capsaicina, que está nas pimentas vermelhas (nas semestes) e provoca o estímulo e aceleração do metabolismo no local, dilatando vasos capilares e aumentando o fluxo sanguíneo;
E a piperina, presente na pimenta-do-reino e em outras pimentas hortícolas, que produz ardência por meio da ação causticante, que queima as células superficiais da mucosa atingida.
A pimenta é rica em vitaminas como, A, B1, B2, C, K, niacina e flavonoides, que conferem ao alimento propriedades antioxidantes, analgésicas, antibacterianas e anti-inflamatórias, devido à ação dos compostos como a violaxantina e a capsaicina, e trazer benefícios à saúde, como:
1. Alivia dor e inflamação (respiratórias e circulatórias)
As propriedades analgésicas apontadas na pesquisa da Faculdade de Medicina de Porto, em Portugal, auxiliam dores causadas por neuropatias com a liberação de endorfina e outros compostos. Podem auxiliar, também, inflamações, descongestão nasal, sintomas de rinite e problemas circulatórios.
2. Promove bem-estar
Por isso também que o seu consumo dá prazer para algumas pessoas. Quando a pimenta estimula os receptores sensíveis, existentes na língua e na boca, transmitindo essa informação ao cérebro, o metabolismo acelera e as endorfinas permanecem por mais tempo no organismo. Elas são liberadas com a intenção de minimizar a sensação causada, provocando a “sensação de bem-estar e ainda o aumento do fluxo sanguíneo, que propicia um substancial aumento do fluxo de nutrientes e de oxigênio, estimulando as ramificações nervosas, com melhora da capacidade dos sistemas imunológico e anti-inflamatório”, explica Garcez.
3. Controla níveis de colesterol
Estudos como o publicado na revista Free Radical Research e outro conduzido na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) analisaram modelos experimentais e de observação, que indicam que a capsaicina também pode ajudar no controle os níveis de colesterol “ruim” (LDL). Isso parece ocorrer devido a ação anti-inflamatória e antioxidante da capsaicina.
4. Aumenta a saciedade durante a refeição
Além disso, a liberação de endorfina também é responsável por aumentar o nível de saciedade durante as refeições, como foi demonstrado em um estudo publicado no International Journal of Obesity. Ele demonstrou que o consumo de pimenta aumentava a saciedade em curto prazo, ajudando a reduzir o consumo de calorias e gorduras. Aparentemente esse é um benefício trazido pela capsaicina.
5. Ajuda no combate ao câncer
Uma pesquisa publicada no The Journal of Cancer Research dos Estados Unidos em 2006 apontou que a capsaicina é antioxidante e também pode prevenir a produção e induzir a apoptose (morte celular programada) em células do câncer de próstata e de outros tipos de câncer.
Tipos de pimenta
Os tipos de pimenta mais conhecidos são:
Pimenta-do-reino
Pimenta caiena
Pimenta rosa
Pimenta de cheiro
Pimenta dedo-de-moça
Pimenta-malagueta
Pimenta calabresa
Pimenta negra
Pimenta jalapeno
Pimenta carolina reaper
Pimenta scorpions
Pimenta preta
Pimenta cambuci
Pimenta mexicana
Pimenta cumari
Pimenta doce
Saiba mais sobre os principais:
Pimenta-do-reino
A pimenta-do-reino pode ter colorações diferentes, como preta, branca, vermelha ou verde e pode ser consumida seca, em grãos ou moída. A cor está relacionada com o nível de maturação e a técnica de processamento dos grãos. “Pode ser usada como condimento e na preservação da carne. A preta pode ser utilizada como tônico e estimulante também”, aponta a nutróloga Garcez. Devido aos seus compostos bioativos, auxilia no sistema digestivo e absorção dos nutrientes, evita a retenção de líquidos e é anti-bacteriana.
Pimenta caiena
A pimenta caiena é do gênero Capsicum, originária da Guiana Francesa. É um fruto que pode ser utilizado fresco ou seco e moído, como condimento picante. Tem altos níveis de capsaicina, portanto, é bem ardida e um pouco amarga. Costuma ser mais encontrada em forma de molho de pimenta e é rica em bioflavonóides (que ajudam na prevenção de diversos tipos de câncer), e em vitaminas e minerais.
Pimenta rosa
A pimenta rosa vem dos frutos secos da árvore aroeira e é pouco picante. Originária da América do Sul, mas também está presente na Ásia tropical. “Inteiras, vão bem em pratos quentes, da marinada ao cozimento. Já moídas, finalizam saladas”, indica a nutricionista Erica Fernanda, do Hospital 9 de Julho. Tem poder antioxidante e contém elementos como cálcio, ferro, caroteno, tiamina, niacina, riboflavina, além de grande concentração de vitamina C, vitamina A, B1, B2 e E.
Pimenta de cheiro
A pimenta de cheiro é do gênero Capscium chinense. Aromatiza a comida sem oferecer picância intensa. De comprimento alongado, ela é muito famosa na culinária nordestina. Possui vitamina A, B6, C, ferro, magnésio, potássio. Tem ação anti-inflamatório, é boa para imunidade, para o coração e, por possuir baixa caloria, é boa para perda de peso e aumento da taxa de digestão.
Pimenta dedo-de-moça
A pimenta dedo-de-moça é o nome popular da pimenta do gênero Capsicum baccatum. “Sem as sementes, ela fica mais suave e combina com pratos doces”, indica Fernanda. Boa para carnes, molhos e até sobremesas. Contém vitamina A, C, E, sendo antioxidante, que previne doenças crônicas e o envelhecimento precoce. Vai bem em pratos com frutos do mar, por exemplo (bobó, moquecas etc.). Dentre seus benefícios, estão alívio da congestão nasal, sua ação antioxidante e a liberação de hormônios no cérebro, responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar.
Pimenta-malagueta
A pimenta-malagueta é uma variedade de Capsicum frutescens, nativa das regiões tropicais das Américas. Se destaca pela alta concentração da capsaicina, portanto, ardida, mas com baixos teores de piperina. Segundo Fernanda, muito utilizada no molho da feijoada, no vatapá e no acarajé. Também pode ser usada em sobremesas e é famosa pelo seu poder antioxidante.
Pimenta jalapeno
A pimenta jalapeno é do gênero Capsicum annuum, originária do México. Possui bastante polpa, rende bem e é indicada para molhos –como o Chipotle. É doce, mas tem uma calorosa ardência e costuma ser consumida ainda verde. Pode ser usada em recheios, molhos, carnes ou até consumida crua. Favorece a cicatrização de feridas estomacais, aumenta a resistência física (indicada para quem pratica exercícios físicos). Por possuir muita polpa, rende bem para fazer molhos e combina com geleias.
Qual pimenta é mais ardida?
Existe, inclusive, uma escala que mede o nível de ardência das pimentas, a Escala de Scoville. Criada em 1912, o método diluiu as pimentas puras em uma solução de água com açúcar, até que a ardência não seja mais percebida pelos provadores. A escala foi, então, definida como: 1 xícara de pimenta equivale a mil xícaras de água, correspondende a mil.
“A pimenta mexicana habanero, por exemplo, chega a 300 mil unidades de calor (SHU). Já a savina-vermelha, chega a 577 mil. A pimenta mais ardida do mundo é a carolina reaper, com 2.200.00 unidades”, conta Fernanda. Veja algumas abaixo:
15.000.000 a 16.000.000 – Capsaicina pura
2.000.000 a 5.300.000 – Spray de pimenta
1.150.000 a 2.200.000 – Pimenta Carolina Reaper
350.000 a 577.000 – Pimenta habanero Red Savina
100.000 a 350.000 – Pimenta habanero
50.000 a 100.000 – Pimenta malagueta
30.000 a 50.000 – Pimenta caiena e pimenta cumari
5.000 a 15.000 – Pimenta dedo-de-moça
2.500 a 8.000 – Pimenta jalapeño
1.000 – Pimenta biquinho
Há ainda outro método de medir a concentração da capsaicina: a Cromatografia Líquida de Alta Pressão (HPLC). Nele, os frutos são secos e moídos. A água é filtrada por eles, extraindo os capsaicinoides, separados e medidos.
Além desses, ainda há outros compostos, como explica a nutricionista Maria Clara Pinheiro, nutricionista do IEDE (Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia): a violaxantina, que é o principal composto das pimentas amarelas e tem ação antioxidante; e a luteína, encontrada nas pimentas verdes, e é fonte de vitamina K, boa para a saúde dos olhos.
Pimenta pode fazer mal?
Quando consumida em excesso (não há uma quantia definida, o excesso varia de indivíduo para indivíduo), as pimentas podem trazer problemas como irritações na mucosa gástrica e também em todo o trato intestinal. Segundo a nutróloga Garces, pode provocar:
Feridas na boca;
Refluxo gastroesofágico;
Azia;
Agravamento de gastrites;
Esofagites;
Duodenites;
Úlceras;
Doenças proctológicas, como hemorroidas e fissuras;
Desconforto gastrointestinal;
Ardência;
Queimação;
Contraindicações
Portadores de doenças gástricas e intestinais devem evitar o consumo. Além disso, aqueles com hipertensão arterial descontrolada que não fazem uso de medicamentos também não devem consumir. Quem não tem contraindicação, pode consumir entre uma ou duas vezes por dia. Lembrando que a melhor maneira de se comer a pimenta é fresca, in natura. “Assim, todos os nutrientes dos frutos são mantidos”, aponta Garcez. As versões na forma de molho, conservas, geleia, páprica desidratada e dessecada também são opções, mas perdem vitaminas e outros nutrientes no processo. No caso das pimentas em grãos, moer apenas antes de consumir.
Fontes: Erica Fernanda, nutricionista do Hospital 9 de Julho; Marcella Garcez, médica nutróloga, diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Maria Clara Pinheiro, nutricionista do IEDE (Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia).