Sites anunciam venda de armas sem burocracia, e PF diz ser golpe
23 de fevereiro de 2022, 16:49
Além de pistolas, revólveres e fuzis, eles oferecem brindes e prometem fazer as entregas por meio de transportadoras, com os itens escondidos até dentro de liquidificadores (Foto: Reprodução)
Supostos atravessadores de armas de fogo divulgam na internet a venda de armamento vindo do Paraguai. Além de pistolas, revólveres e fuzis, eles oferecem brindes e prometem fazer as entregas por meio de transportadoras, com os itens escondidos até dentro de liquidificadores.
A Polícia Federal afirmou à reportagem investigar, desde 2008, anúncios de venda de armas na internet. A conclusão da instituição é a de que os criminosos são estelionatários, que usam conta de laranjas. “O comprador deposita o valor e nunca recebe a mercadoria.”
Os supostos vendedores negociam os itens por meio de mensagens de celular ou email. Os contatos constam nos sites. A reportagem conseguiu falar com dois deles, via mensagens de texto.
Ambos usam DDDs do Mato Grosso do Sul, um dos estados pelos quais as armas saídas do Paraguai passam ilegalmente, conforme investigação da PF, divulgada em 2018, em que a instituição rastreou a origem de algumas armas apreendidas no Brasil.
Um dos suspeitos foi procurado, sem saber que falava com a reportagem, às 15h48 do último dia 2. Ele respondeu as 20h58 e enviou um catálogo com armas de vários modelos e calibres.
A reportagem pediu informações sobre um revólver Magnum, calibre 357, orçado em R$ 2.100 na lista enviada.
O suposto atravessador respondeu ao pedido, no dia seguinte, às 7h45, enviando uma foto da arma. Em seguida lhe foi questionado se era necessário algum tipo de documento.
Às 11h40, escreveu: “Não exigimos porte de armas ou registro para realizar a venda”.
Com o revólver, disse ainda que enviaria de brinde 50 munições, um kit de limpeza, além de três jet loaders (carregadores de revólver). Tudo com “frete grátis”.
O método de entrega usado, segundo explicado por ele, seria comprar um liquidificador em uma loja “legalizada”. “Tudo correto e com nota fiscal”, salientou.
No comércio haveria um funcionário “parceiro”, responsável pelos envios de itens da suposta empresa legalizada.
A chegada das armas ocorreria entre 2 e 5 dias úteis em capitais e entre 2 e 7 em outras cidades, disse ainda.
O criminoso afirmou que as armas seriam despachadas por uma empresa, com envio “totalmente seguro”. A partir do momento em que a arma fosse colocada no veículo da transportadora, segue a explicação, o cliente receberia um código de rastreamento, para acompanhar em tempo real o deslocamento do envio.
O suposto atravessador disse dar “total garantia” de que a arma chegaria.
A nota fiscal seria enviada por email, ainda de acordo com ele. O único documento de compra levado pela transportadora, acrescentou, seria do liquidificador.
Nesta fase, o eventual comprador pagaria metade do valor negociado pela arma. Assim que ela chegasse, precisaria depositar o restante, em até 24 horas.
A reportagem deixou de manter contato com ele logo em seguida, bloqueando o número.
O telefone usado por este suposto atravessador consta em dois sites diferentes, fáceis de se encontrar em uma rápida busca.
Outro suposto atravessador também deu detalhes sobre uma suposta venda de armas, sem saber que falava com a reportagem, também no último dia 2. O contato dele estava em um dos sites identificados pelo jornal Folha de S.Paulo.
Ele enviou em cerca de meia hora, após a reportagem encaminhar mensagem, a foto de uma pistola Taurus, calibre 380.
O armamento, segundo a foto, viria acondicionado em uma caixa, com dois carregadores.
Questionado sobre a forma com a qual faria as entregas, o suposto contrabandista enviou uma série de vídeos em que supostos compradores relatam a chegada de armas.
Ele diz que não seria necessário porte de arma, ou qualquer outro documento, para comprar as armas. Ele também disse que usaria uma transportadora para remeter suas vendas.
PF Sobre a possibilidade de se acessar livremente sites que oferecem a venda irregular de armas, a PF afirmou ter passado a pedir aos locais de hospedagem na internet, por meio de ofício, a retirado do ar das empresas suspeitas, “pois elas violam os termos de uso [anúncio de produtos controlados].”
A instituição acrescentou que estelionatários usam os espaços para aplicar golpes, recebendo o dinheiro das vítimas, mas sem entregar as armas.
A polícia não informou sobre eventuais prisões e quantos sites já foram retirados do ar a seu pedido.
Relatório da PF de 2018 indica que o Paraguai era o país fronteiriço que mais fornecia armas curtas irregularmente ao Brasil.
A conselheira do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Isabel Figueiredo afirmou que a origem de armas ilegais, vindas do Paraguai para o Brasil, “tinha de estar na agenda de preocupações de quem trabalha no controle de armas.”
Além da necessidade de mais monitoramento, o sociólogo Antônio Rangel Bandeira afirmou à reportagem que “grande parte” das armas apreendidas ilegalmente no Brasil foram vendidas anteriormente, de forma legal, ao vizinho Paraguai.
Folhapress
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