Santo Antônio frade intelectual virou casamenteiro da festa junina

13 de junho de 2022, 10:28

Extremamente popular nas terras lusitanas e brasileiras, Santo Antônio é cercado por simpatias, folclore e tradições populares. Também conhecido como Santo Casamenteiro, ele morreu em 13 de junho de 1231, e, por isso, virou o primeiro homenageado das festas juninas.

Nas igrejas católicas, ele inspira ainda as trezenas (13 noites de reza, de 1º a 13 de junho), ritual realizado por inúmeros devotos.

Para a historiografia, ele foi um homem notável do seu tempo: intelectual, o frade circulou por parte considerável da Europa do século 13 e ajudou a consolidar o papel dos franciscanos.

Mas qual relação o santo tem com o casamento e qual é a origem da festa junina em sua homenagem?

Santo casamenteiro

O documento que serviu para justificar a canonização do santo reuniu os 53 milagres atribuídos a sua intercessão, nenhum deles teria relação com casamento.

A grande maioria dizia respeito a problemas de saúde, de paralisias a surdez, passando pela fantástica história de uma menina que teria morrido afogada e voltado a viver.

Para hagiógrafos – profissionais que trabalham com hagiografia, tipo de biografia, dentro do hagiológio, que consiste na descrição da vida de algum santo ou beato – existem duas histórias que justificam a fama de santo casamenteiro.

A primeira é que, ainda em vida, ele teria sido um grande opositor dos casamentos combinados por interesse entre famílias, o que ele chamava de mercantilização do sacramento. Defendia que os casais fossem formados por amor.

A outra versão, com contornos de lenda, diz que Antônio teria desviado, certa vez, donativos recebidos pela Igreja para ajudar uma moça a conseguir dinheiro suficiente para o dote que era necessário ao seu casamento.

Uma terceira versão também diz respeito a uma jovem pobre que queria se casar.

“Dizem que um dos primeiros milagres dele foi na vida de uma jovem que estava sem dinheiro para se casar. Ela rezou para Santo Antônio e uma estátua dele teria lhe dado um bilhete, no qual estava escrito que era para levar o recado ao comerciante da cidade, que daria a ela, em moedas de prata, o peso do papel”, conta Leandro Faria de Souza, doutor em ciência da religião pela PUC-SP.

E a festa junina?

Segundo historiadores, a tradição das festas juninas surgiu na Europa durante o século 14. No Brasil, os costumes de homenagear os santos do mês de junho foram trazidos pelos portugueses e readaptados com a inserção de valores de negros e indígenas, como o boi-bumbá, a utilização da mandioca para a composição de pratos típicos e algumas danças.

A tradição das fogueiras também foi trazida do continente europeu e representava o aviso a Maria do nascimento de João, filho de sua prima Isabel.

Os fogos de artifício, por sua vez, representam para alguns o despertar de João. Em Portugal, o uso das bombas e rojões serve para espantar os maus espíritos.

A festa para homenagear Santo Antônio acontece no dia 13 de junho. Depois dele, São João recebe sua própria festa, no dia 24 de junho, dia de seu nascimento.

Além das celebrações católicas, a data é comemorada a partir da noite do dia 23 com fogueira, fogos de artifício e forró e regadas a bebidas e comidas típicas, como bolos, doces, licores, milho (cozido e assado na fogueira), canjica e quentão.

São Pedro é o último a receber as homenagens, apenas no dia 29, suposto dia do aniversário de sua morte.

As comemorações dos três santos são bem populares no interior dos estados do Nordeste.

Outras curiosidades sobre o santo

Conhecido como doutor da Igreja e teólogo renomado, o religioso é “disputado” por duas cidades de países diferentes: Lisboa (Portugal) e Pádua (Itália) em razão de duas certezas sobre ele: que nasceu em Lisboa e morreu entre 43 e 36 anos em Pádua, na Itália.

Por isso, passou a ser conhecido como Santo Antônio de Lisboa e Santo Antônio de Pádua.

A tradição católica costuma dizer que o religioso nasceu em 15 de agosto de 1195, como Fernando de Bulhões. Mas, de acordo com biógrafos, o santo pode ter nascido um pouco antes, em 1188.

Ele, que era de uma família de posses, abdicou da riqueza e mudou de nome ao ingressar na Ordem dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho.

De Portugal seguiu para Marrocos, onde desenvolveu um trabalho missionário, mas sua saúde não se adaptou ao clima africano.

Depois que adoeceu, regressou à Europa, fixando-se na Itália. Por lá, demonstrou grande talento para a oratória e seus sermões impressionaram, tanto os intelectuais quanto as pessoas simples,

O santo detém o recorde de santo com a canonização mais rápida da história da Igreja Católica: se passaram apenas 11 meses entre a morte e a canonização do santo. Existem relatos de que já em vida ele teria realizado algum milagre, mas o que fez com que ele fosse canonizado em tempo recorde foi a fama de santidade.

Foi reconhecido como um dos grandes teólogos da história da Igreja Católica e recebeu o título de doutor da Igreja em 1946, pelo papa Pio 12.

Fontes: Antropólogo Roberto Albergaria (em entrevista ao UOL em junho de 2008); Dayvid da Silva, professor e coordenador do curso de teologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo); e Leandro Faria de Souza, doutor em ciência da religião pela PUC-SP.

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