Salvador escravista: As descobertas do mapa da escravidão baiana

19 de abril de 2022, 09:31

Os historiadores envolvidos com a iniciativa pretendem mapear a cidade atrás de homenagens controversas, homenagens reparadoras e lugares esquecidos da história local (Foto: Reprodução)

Primeira capital do Brasil, Salvador é um centro cultural de imensa importância histórica. Para revisitar esse passado e dar uma voz à população negra, pesquisadores criaram o Salvador Escravista, site que pretende ampliar a compreensão do papel de diferentes indivíduos no desenvolvimento de uma sociedade marcada por desigualdade e racismo.

Desta maneira, os historiadores envolvidos com a iniciativa pretendem mapear a cidade atrás de homenagens controversas, homenagens reparadoras e lugares esquecidos da história local, onde episódios importantes para a população negra ocorreram e não recebem devida atenção.

Em entrevista à BBC News Brasil, Felipe Azevedo e Souza, integrante do Programa de Pós-Graduação em História da UFBA e um dos idealizadores do projeto, afirmou que a Salvador Escravista não quer somente sugerir a mudança de nomes de ruas. “O que queremos é um debate maior sobre políticas públicas voltadas à memória da cidade, que sejam mais democráticas e plurais”, pontuou. Conheça algumas das histórias levantadas pela iniciativa.

O traficante de escravos que originou culto do Senhor do Bonfim

Nascido em Portugal, Teodósio Rodrigues de Faria foi capitão de navio mercante. Estabeleceu-se em Salvador até 1757, ano de sua morte. Nada se conhece sobre sua vida anterior a 1735, ano que chegou ao Brasil, e o que se sabe possui relação com sua devoção ao Senhor do Bonfim, de quem levou para a capital baiana uma imagem.

Sua devoção e o dinheiro que investiu na igreja lhe renderam destaque na irmandade do Senhor do Bonfim. Foi enterrado dentro da igreja, um dos principais cartões postais da cidade. Ele também dá nome à praça em frente da igreja e a uma rua nas proximidades. Mas a pesquisa da Salvador Escravista mostrou foi que Teodósio atuou intensamente no tráfico de africanos, detalhe geralmente omitido sobre ele.

Elevador Lacerda foi erguido com dinheiro do comércio ilegal de africanos

Outro importante ponto turístico da capital, o Elevador Lacerda foi inaugurado em 1873, com o objetivo de ligar as partes alta e baixa da capital da Bahia. Construído com o nome de Elevador Hidráulico da Conceição, mudou de nome em 1896, para homenagear seu idealizador.

De acordo com os historiadores do Salvador Escravista, a obra não teria sido realizada sem a riqueza acumulada pelo pai de Lacerda no tráfico ilegal de africanos, inclusiva após a proibição por lei.

De acordo com a historiadora Silvana Andrade dos Santos, em entrevista à BBC, Lacerda Pai era sócio em embarcações utilizadas em fretamentos para viagens negreiras à África no final da década de 1830, portanto, depois da proibição definida em 1831. O lucro obtido foi utilizado em muitas obras no estado, além da educação dos filhos.

Barão de Cotegipe foi opositor à abolição

Conhecido como figura relevante em todo o país, nome de ruas em cidades de vários estados e até marca de erva mate, João Maurício Wanderley, o Barão de Cotegipe, foi um dos principais antagonistas da princesa Isabel na questão da abolição.

Segundo a Salvador Escravista, o barão foi o escravocrata mais poderoso do período final do Império, tomando medidas em prol da perpetuação da escravidão. Entre as medidas defendidas por Cotegipe, propôs a lei dos Sexagenários e foi contra o fim da pena de açoite aos escravizados.

Durante a regência da princesa Isabel, tornou-se presidente do Conselho de Ministros, uma espécie de primeiro-ministro, e comandou a forte e violenta repressão às manifestações pela abolição. Pressionado, chegou a renunciar a seu cargo, mas voltou ao Senado para votar contra a lei Áurea, em 1888.

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