Quando é seguro tirar a obrigatoriedade do uso de máscaras

11 de agosto de 2021, 21:43

Mesmo que o governo federal determine a suspensão do uso de máscaras, caberá aos estados e municípios decidirem sobre seus territórios (Foto: Reprodução)

Nesta quarta-feira, 11, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que até o final do ano a população brasileira “poderá tirar de uma vez por todas essas máscaras”. De acordo com o ministro, o fim da obrigatoriedade do uso da proteção será possível quando toda a população brasileira estiver vacinada.

“Garanto a vocês, em nome do Bolsonaro, que até o final do ano toda a população brasileira estará vacinada. Até o final do ano, poremos fim ao caráter pandêmico dessa doença no Brasil e vamos poder tirar de uma vez por todas essas máscaras”, disse o médico durante inauguração da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Paranoá, em Brasília.

O fim do uso de máscaras sempre foi uma obsessão do presidente Jair Bolsonaro. Desde o início da pandemia, ele se recusa a aderir à medida de proteção. Só o faz em raras ocasiões. Em junho, o presidente chegou a declarar que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, iria publicar um parecer que acabaria com a obrigatoriedade para pessoas vacinadas. Mas, na época, Queiroga afirmou que era necessário avançar na campanha de vacinação antes de colocar o plano em prática.

Especialistas alertam para os riscos da decisão. Para o infectologista e pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), o parâmetro para suspender as chamada medidas de prevenção não farmacológicas, que inclui uso de máscara e distanciamento social, não é o número de vacinados e sim a taxa de transmissão.

“Existe a possibilidade de surgir uma nova variante que comece a reinfectar até mesmo os vacinados e que irá manter a taxa de transmissão alta. Isso já foi visto nos Estados Unidos e no Reino Unido. Mesmo com altas taxas de vacinação, houve aumento do número de casos e da circulação do vírus”, explica o infectologista.

Mesmo que o governo federal determine a suspensão do uso de máscaras, caberá aos estados e municípios decidirem sobre seus territórios. O governo do estado de São Paulo, por exemplo, não pretende estabelecer uma data para a ação e acredita que ainda não é o momento ideal para se falar na suspensão da obrigatoriedade do uso de máscaras. Já o município do Rio de Janeiro prevê que as máscaras ao ar livre deixem de ser exigidas quando 65% da população estiver completamente imunizada, em locais que não houver aglomeração.

“Eu acho ousado, imprudente e desnecessário esse tipo de comentário ou previsão neste momento. Deveríamos estar preocupados em reforçar essas medidas agora para que cheguemos no estágio de poder suspendê-las”, diz Kfouri.

No fim de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apelou para que as pessoas totalmente vacinadas continuem a usar máscaras, a manter o distanciamento social e a praticar outras medidas preventivas contra o novo coronavírus. “As pessoas não podem se sentir seguras só porque tomaram as duas doses. Eles ainda precisam se proteger”, disse Mariangela Simão, diretora-geral assistente da OMS para acesso a medicamentos e produtos de saúde, durante coletiva de imprensa realizada na sede da agência em Genebra. “A vacina por si só não interrompe a transmissão na comunidade”, acrescentou Mariangela.

Os Centros de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), voltaram a recomendar o uso de máscaras por pessoas vacinadas em espaços públicos fechados, nas regiões do país com aumento de circulação do vírus. As vacinas em uso são altamente eficazes na prevenção de mortes e complicações graves da doença, mas não oferecem proteção tão alta contra casos moderados e menos ainda, contra casos leves. Também não está comprovado se elas interrompem a transmissão do vírus. Um relatório publicado pelo CDC no fim de julho concluiu que pessoas são infectadas apesar de estarem totalmente imunizadas e podem transmitir o vírus para outras tão prontamente quanto pessoas não estão vacinadas.

Até esta quarta-feira, 11, o Brasil atingiu 22,69% da população completamente vacinada com duas doses ou com a injeção única da Janssen. O índice para pessoas com uma dose do imunizante é de 52,5%. A expectativa do governo federal é vacinar toda a população acima de 18 anos até setembro.

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