Mãe, mulher guerreira
08 de outubro de 2023, 09:23
Dona Tide - *1932 + 2023
– Pobre é o diabo meu filho. Nunca mais diga isso. Nós somos fracos.
Essa frase, ouvida e nunca mais esquecida por Zuca, foi-lhe dita por sua mãe em um momento em que ele maldizia a pobreza e reclamava das dificuldades resultantes dela.
Para a maioria dos filhos, as mães são exemplos a serem seguidos por seu zelo, abnegação, amor e dedicação. Para Zuca, então, havia motivos de sobra para considerar dona Tide uma verdadeira heroína, tamanha a força de vontade e disposição com que lutava pela sobrevivência dos filhos.
De personalidade forte e decidida, dona Tide jamais se deixou abater por ter ficado “sozinha e Deus”, como ela gosta de dizer, à frente dos 13 filhos, quase todos menores de idade. Zuca observava que a cada dia Dona Tide parecia mais firme e segura no comando do “barco” com seus 13 tripulantes. Com a ajuda dos filhos, principalmente dos homens, buscava sempre uma forma de multiplicar a pouquíssima quantia que recebia mensalmente do marido, seu Manoel, que saíra de Icaraí para ir trabalhar em São Paulo tempos antes.
Ele não entendia como a mãe conseguia tempo e força suficientes para se envolver com tantas atividades comerciais: além de mascatear peças de tecidos comprados em Vitória da Conquista, comprava o fato (as vísceras) do boi de um açougueiro e revendia na feira. Aproveitava o sebo do animal para fazer “sabão de sebo” com soda cáustica para os filhos venderem na feira do Jeribá. E, como se não bastasse tudo isso, ainda costurava e aproveitava o espaçoso quintal da casa para criar porcos comprados novos e revendidos após meses de engorda com milho e soro, este doado pelo proprietário de um pequeno laticínio.
As dificuldades eram imensas, mas dona Tide demonstrava, dia após dia, que tinha uma meta traçada para os filhos e não se permitia fraquejar diante de qualquer obstáculo. Sabia que a saída para aquela difícil situação seria por meio da educação. Não queria que os filhos seguissem o caminho do pai e de muitos dos seus conterrâneos, que, por não estudarem, restavam-lhes apenas as opções de irem trabalhar em São Paulo ou, ainda pior, nas fazendas de cacau dos municípios de Itabuna e Ilhéus, no Sul do Estado da Bahia, por uma mísera diária.
Não! Dona Tide queria ver os filhos vencedores e sabia perfeitamente que para isso acontecer só lhes restavam estudar, estudar e estudar. E para levá-los a este objetivo estava disposta a fazer todo e qualquer sacrifício.
A convicção de que a solução eram os estudos enchia a mãe de Zuca de vigor e disposição para lutar e lutava como uma guerreira à frente da batalha. Sabia que não podia se acovardar e por isso conduzia tudo sob o mais absoluto controle.
Saudades eternas!
Zuca Assunção
Boas Festas!