O mistério prevalece. Porque o coronavírus mata mais os homens?

09 de abril de 2020, 15:39

A maioria dos pesquisadores crê que tal situação pode se dever não apenas a um único fator, mas a combinação de vários elementos que tornam as mulheres mais imunes (Foto: Reprodução)

Édo conhecimento geral que a Covid-19 tende a afetar mais os idosos e quem sofre de doenças crônicas. Contudo, há uma pergunta que está intrigando os cientistas de todo o mundo desde o começo da pandemia: por que motivo os homens estão morrendo significativamente mais do que as mulheres?

Inicialmente a tendência ‘sexista’ do novo coronavírus foi observada na China, país onde o surto teve início. No entanto, depois começou também a ser notória em países como a França, Alemanha, Irã, Itália, Coreia do Sul e Espanha, conforme uma reportagem realizada pela BBC.

Apesar de vários estudos já terem sido realizados desde o começo da pandemia para desvendar este mistério, a verdade é que a comunidade científica ainda não está certa porque isso acontece. 

Contudo, e segundo a BBC, a maioria dos pesquisadores crê que tal situação pode se dever não apenas a um único fator mas a combinação de vários elementos que tornam as mulheres mais imunes à Covid-19 e que incluem biologia, estilo de vida e comportamento. 

A problemática do estilo de vida

Na China estudos preliminares revelaram visivelmente que os homens não só corriam um maior risco de serem infectados assim como de morrer vítimas do novo coronavírus. 

Um estudo que envolveu 99 pacientes em um hospital na cidade de Wuhan, local onde a pandemia teve origem, apurou que dois terços dos doentes eram homens e mais de metade desses indivíduos hospitalizados tinham patologias crônicas como cardiopatias ou diabetes.

Dados mais recentes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças chinês, baseados em dezenas de milhares de casos, revelaram que 64% dos mortos por Covid-19 são homens.

A causa mais provável teria a ver, então, com o estilo de vida. Ao redor do mundo, homens tendem a beber e a fumar mais do que as mulheres e, portanto, ficam mais suscetíveis a desenvolver doenças pulmonares e cardiopatias, o que os fragiliza caso fiquem infectados com o Sars-coV-2. 

E a verdade é que os números fundamentam: 48% dos homens chineses com mais de 15 anos fuma, comparativamente a só 2% das mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Um estudo com 1.099 pacientes na China com Covid-19, publicado na revista científica New England Journal of Medicine, revelou que 26% daqueles que necessitavam de cuidados intensivos ou acabavam morrendo eram fumantes. 

Adicionalmente, destaca-se o fator comportamental. Pesquisas sugerem que os homens lavam menos as mãos do que as mulheres, tendem a usar menos sabão, assim como não vão tantas vezes ao médico e ignoram os alertas das autoridades de saúde.

Na Coreia do Sul, por exemplo, embora mulheres sejam 61% dos casos confirmados, 54% dos mortos são homens.

Já na Itália, sete em cada dez óbitos por Covid-19 são de pacientes do sexo masculino, embora 28% dos homens e 19% das mulheres fumem.

E na Espanha, o número de homens mortos é o dobro do das mulheres.

Diferenças biológicas

Por outro lado, estudos já mostraram que as mulheres geralmente têm sistemas imunológicos mais fortes do que os homens e, portanto, driblam infecções com mais facilidade.

“Sabemos cada vez mais que há diferenças de gênero substanciais na resposta imune para uma gama de infecções e, no geral, as mulheres reagem mais forte e agressivamente”, diz à BBC Philip Goulder, professor de Imunologia na Universidade de Oxford, no Reino Unido.

De acordo com estudo recente publicado na revista científica Human Genomics, o cromossoma X contém um grande número de genes relacionados à imunidade e, como as mulheres têm dois (os homens só tem um), o seu organismo está melhor preparado para combater doenças. 

Pesquisas também descobriram que o estrogênio, hormônio sexual muito mais prevalecente nas mulheres, protegeu fêmeas de camundongos infectadas pelo vírus da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), causada por outro tipo de coronavírus e responsável por um surto em 2003.

Todavia, apesar das evidências cada vez maiores, os cientistas concordam que são necessários mais dados para discernir o motivo pelo qual morrem mais homens do que mulheres com Covid-19. 

Recentemente, o Global Health 50/50, um instituto de pesquisa ligado à Universidade College London, no Reino Unido, analisou os dados públicos disponíveis de 20 países com o maior número de casos confirmados de coronavírus até ao dia 20 de março. Desses 20 países, apenas seis tinham dados por gênero tanto para casos confirmados quanto para mortes – China, França, Alemanha, Itália, Irã e Coreia do Sul. Outros sete somente para o número de casos confirmados.

“Quando observamos os dados desses países, a taxa de mortalidade dos homens por Covid-19 pode superar a das mulheres em um patamar que varia de 10% a 90%”, relata Sarah Hawkes, professora de saúde pública global na Universidade College London (UCL), no Reino Unido, à CNN.

Especialistas acreditam que, se mais países tivessem informações mais detalhadas por gênero, os governos poderiam basear-se nesses dados para formular políticas públicas de combate ao novo coronavírus.

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