O empreendedorismo rural tem mudado a vida de mulheres quilombolas da comunidade de Várzea Queimada, em Caém

31 de maio de 2024, 16:33

O papel das mulheres empreendedoras de Várzea Queimada têm contribuído com o desenvolvimento da comunidade (Foto: Gervásio Lima e AQCVQ)

“Aqui tudo mudou, tudo tá mudado”, comemora, com um trocadilho da música ‘Americanizado’, do saudoso Genival Lacerda, a agora empreendedora Janailde Santos de Jesus (43), a transformação na vida dos seus familiares e de grande parte dos moradores do povoado onde mora, a comunidade quilombola de Várzea Queimada, na zona rural do município de Caém.

Responsáveis pela produção de sequilhos, biscoito avoador, pães de batata doce e aipim, beijus, farinha de mandioca e hortaliças, com selo orgânico inclusive, as mulheres quilombolas de Várzea Queimada estão fazendo, e mudando as suas, história.

Com a importante contribuição das mulheres empreendedoras, em Várzea Queimada, localidade com cerca de 150 famílias, o espaço rural está passando por um grande processo de ressignificação, deixando de depender do meio urbano, a partir da construção de alternativas para o seu próprio desenvolvimento, propiciando condições para que as famílias tenham qualidade de vida, longe de ser um lugar de sofrimento.

Após descobrirem o empreendedorismo, não só a produção aumentou, como seus rendimentos também. Hoje, através do associativismo, se movimentam para garantir que os produtos cheguem ao mercado, e o mercado institucional, como o do Programa de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimento (PAA). Para este ano, 2024, estão previstos investimentos na ordem de mais de 500 mil reais na compra dos produtos, através do PAA (mais de 400 mil reais) e PNAE.

A jovem confeiteira Josielma Jesus Santos (25), se orgulha em ter concluído o ensino médio e ter permanecido morando onde nasceu. Para ela, que sonha fazer o ensino superior em uma área que possa atuar na comunidade, a implementação e identificação dos produtos que produzem  pode ser uma oportunidade para outros quilombos.

E assim Josi, como é carinhosamente chamada, tem feito, compartilhando suas experiência e seus aprendizados socializado com outras mulheres de comunidades vizinhas com cursos de como preparar os produtos que têm melhorado a renda das famílias do local onde mora.

“Até pouco tempo as mulheres de Várzea Queimada sobreviviam do que recebiam de programas sociais ou do que seus maridos conseguiam trabalhando na roça. Descobrirmos que temos outros meios de sobrevivência, utilizando daquilo que plantamos”, enfatizou.

A diretora da Escola Domingues Pereira dos Santos, professora Luiza Ferreira Leão, é uma das testemunhas da Ascenção das empreendedoras. Ela lembrou da pequena unidade escolar que existia com apenas uma sala de aula, por falta de alunos, e que hoje a presença mais que triplicou. “Percebemos que diminuiu o êxodo, os moradores não estão mais procurando os grandes centros para sobreviverem. Aqui, principalmente as mulheres, encontraram na fabricação de alimentos com matéria prima colhida de suas próprias terras uma justificativa para sua permanência, com isso o número de alunos tem aumentado a cada ano “, disse a professora, chamando atenção para as turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), frequentadas na sua maioria por mães que não tiveram a oportunidade de se alfabetizar na infância.

O líder comunitário José de Jesus, sócio fundador da Associação Quilombola da Comunidade de Várzea Queimada (AQCVQ), destaca também as melhorias vivenciadas atualmente pelos seus conterrâneos. Segundo ele a dignidade é uma realidade proporcionada com o apoio externo, citando os investimentos que foram e que estão sendo realizados como a chegada da unidade de beneficiamento de mandioca, a creche e o prédio escolar com quadra poliesportiva. “Após a participação das mulheres, com a fabricação de produtos que estão sendo fornecidos para a merenda escolar e outros mercados, estamos vivendo como se estivéssemos na cidade. Aqui a gente tem tudo, escola, creche, agroindústria e principalmente dignidade, graças a Deus”, salienta Zé de Jesus, como é mais conhecido.

O secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Caém, Sidney dos Reis, é um dos entusiastas do empreendedorismo das mulheres quilombolas de Várzea Queimada. Para o secretário o empreendedorismo das quilombolas além de motivador é uma maneira de empoderamento daquelas que antes eram vistas meramente como trabalhadoras rurais. “Ficamos surpresos com os resultados conquistados pelas, agora, empreendedoras rurais de Várzea Queimada. A atuação delas tem servido de exemplo para todo o nosso município, com mulheres de outras regiões em busca de know-how”, relatou o secretário.

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