Novembro azul: veja como prevenir o câncer de próstata, doença que matou 16 mil em 2021

01 de novembro de 2022, 10:55

Para o diagnóstico precoce da doença, recomenda-se que homens a partir dos 50 anos, mesmo sem apresentar sintomas, procurem um urologista para a realização de exames preventivos. Pico de incidência da doença é em torno de 65 anos

Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata é a neoplasia mais incidente entre os homens e o segundo tipo de câncer que mais mata – atrás somente do de pulmão– em todo o País. No ano passado, foram registradas 16.055 mortes em decorrência do câncer de próstata, o que equivale a 44 mortes por dia.

São estimados 65.840 novos casos da doença em 2022, segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Desta forma, o diagnóstico precoce é estratégia utilizada para encontrar o tumor em uma fase inicial e, assim, possibilitar maior chance de tratamento bem sucedido e reduzir o índice de mortes.

Em estágio inicial, o câncer de próstata não apresenta sintomas e é quando o paciente pode ser curado em mais de 90% dos casos. O porcentual diminui conforme a doença avança. “Na fase 1, entre 90% e 95%; na fase 2, acima de 70%; na fase 3, por volta de 40% a 50%; na fase 4 não é mais uma doença curável”, acrescenta Fernando Maluf, oncologista do Instituto Vencer o Câncer.

Quando os sintomas de câncer de próstata surgem, o tumor, geralmente, está em uma fase mais avançada. “O indivíduo pode sentir dificuldade ou desconforto ao urinar, jato urinário fraco, urinar mais vezes e acordar à noite para urinar. Quando a doença atinge os gânglios, o homem pode ter dor pélvica e edema em membros inferiores. Quando vai para os ossos, podem surgir as dores ósseas, associadas com potenciais de fraturas e compressão de nervosos periféricos ou do próprio cordão medular”, afirma Maluf. Também pode ser detectada a presença de sangue na urina ou no sêmen.

Qual é o significado do Novembro Azul?

Para mudar este cenário e incentivar a prevenção, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) realiza mais uma edição do Novembro Azul. Neste ano, a campanha engloba a importância do cuidado global com a saúde masculina: “Saúde também é papo de homem”.

Ao longo do mês, o conteúdo das redes sociais do Portal da Urologia também será voltado para a saúde masculina e haverá lives com médicos de diversas especialidades.

“Nosso objetivo é conscientizar os homens sobre a necessidade dos cuidados com a própria saúde de forma rotineira, e não somente quando aparece algum problema. Além da divulgação dos hábitos para se ter uma vida saudável, também informamos que muitas doenças, em sua fase inicial, são totalmente assintomáticas, mas que podem ser diagnosticadas e tratadas mais facilmente com exames periódicos de check-up. O câncer da próstata é o melhor exemplo disso”, alerta Alfredo Félix Canalini, presidente da entidade.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo afirma que incentiva a realização do exame preventivo de câncer de próstata. Durante a campanha do Novembro Azul, os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME) vão iniciar ações especiais de conscientização, por meio de palestras com médicos urologistas e reforço nos atendimentos voltados à saúde do homem.

Algumas unidades do interior vão realizar consultas extras de cardiologia e urologia (Araçatuba) e mutirão de cirurgias eletivas de vasectomia (Santa Bárbara d’Oeste).

Ao longo do ano, todas as Ames do estado paulista contam com o programa permanente “Filho que ama leva o pai ao AME”, com atendimentos voltados às especialidades de cardiologia e urologia.

O que fazer para prevenir o câncer de próstata?

Conforme dados do Inca, são estimados 65.840 novos casos da doença em 2022. Para o diagnóstico precoce da doença, recomenda-se que homens a partir dos 50 anos, mesmo sem apresentar sintomas, procurem um urologista para a realização de exames preventivos. Já aqueles pacientes que têm antecedentes familiares para câncer ou homens negros, a indicação é que façam a avaliação mais cedo, a partir dos 45 anos.

“Embora haja muitos casos novos, infelizmente, nem todos os homens costumam fazer o acompanhamento preventivo da forma correta ou não têm fácil acesso à saúde para avaliação inicial. Eles acabam descobrindo a doença em fase um pouco mais avançada, o que aumenta a mortalidade”, afirma Rafael Neri, médico urologista do Hospital Samaritano e especialista em cirurgia robótica.

A avaliação de rotina realizada anualmente consiste na realização do toque retal e o exame de sangue para analisar a dosagem do PSA (antígeno prostático específico). Em caso de alteração em um deles, é feita a biópsia da próstata para confirmar a doença. Posteriormente, outros exames podem ser solicitados.

“Um a cada oito homens vai desenvolver o câncer de próstata durante a vida. Desta forma, quanto antes for feito o diagnóstico, maior a chance de cura. Tratando em estágios iniciais, aumentam se as chances de tratamento único, sem a necessidade de vários tratamentos quando a doença já está na fase mais avançada”, afirma Renato Meirelles Mariano da Costa Jr, urologista do Hospital Leforte Morumbi.

Segundo Fernando Leão, urologista e cirurgião robótico do Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo e Goiânia, a incidência do câncer de próstata tem um pico maior em homens em torno de 65 anos, embora possa aparecer antes ou depois desta idade. Em alguns casos, a avaliação de rotina é feita em intervalo menor. “Em situações em que o paciente tem um PSA um pouco suspeito, mas não confirmou o câncer, e ele tem uma alta probabilidade de desenvolver o câncer, esse intervalo pode ser reduzido para 10 ou 8 meses, mas é um critério que vai ser tomado junto com o paciente e seu urologista”, acrescenta Leão.

No caso de pacientes terem sintomas urinários, ou seja, dificuldade pra fazer xixi, retenção urinária, necessidade de fazer uma força adicional pra urinar um jato mais fraco da urina, são sintomas e sinais que podem haver algum problema na próstata. “Nesses casos, independente da idade e dos riscos, é necessário uma avaliação com o urologista para a realização do toque retal e o exame PSA”, complementa Suelen Martins, oncologista da clínica CEON, especializada no tratamento de câncer.

O que é importante lembrar em relação ao câncer de próstata? Quais são os fatores de risco?

Idade – é um câncer raro antes dos 40 anos e aumenta com o envelhecimento;

Histórico familiar de câncer de próstata – aquele homem que tem um antecedente de câncer na família, principalmente o câncer de próstata por irmão ou um tio ou um avô;

Homens de raça negra;

Tabagismo e homens que trabalham em indústrias químicas ou derivados de petróleo;

Uso exagerado de gordura animal na alimentação também predispõe um risco mais aumentado;

Obesidade – pacientes obesos podem apresentar câncer de próstata mais agressivo;

Sedentarismo.

Incidência da doença no Brasil

Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde revelam que de 2019 a 2021 foram mais de 47 mil óbitos em razão deste tipo de tumor. Os números mostram um ligeiro aumento da mortalidade por câncer de próstata em 2021 comparado aos dois anos anteriores.

Em 2019, foram 15.983 óbitos. Em 2020, o País registrou 15.841 óbitos. Já no ano passado, foram registradas 16.055 mortes, o que equivale a 44 óbitos por dia, com maior incidência na região Sudeste no País onde foram registrados 6.829 mortes pela doença.

Outro índice do Ministério da Saúde que mostra o impacto da doença no País é a realização de biópsias, exame solicitado quando o médico desconfia de que há alguma alteração ao analisar os exames iniciais para detecção precoce do câncer de próstata: toque retal e a dosagem de PSA. Em 2020 foram registradas 31.888 biópsias; em 2021, 34.673; e até agosto deste ano, 27.686.

“O que indica a necessidade de biópsia é a alteração nos exames de toque retal e o PSA. E se indicamos uma biópsia, o recomendado, sempre que possível, é que a ressonância magnética preceda a biópsia para uma maior acurácia (exatidão) da mesma”, acrescenta a SBU.

Tipos de câncer de próstata

Adenocarcinomas

São responsáveis por 95% dos tumores malignos de próstata, de acordo com o Instituto Vencer o Câncer. Podem ser de baixo grau, grau intermediário e alto grau.

Os demais 5% incluem tipos bem mais raros: carcinomas de pequenas células, sarcomas e linfomas. Quando alguém cita o câncer de próstata, a pessoa está se referindo ao adenocarcinoma e não a esses tipos histológicos mais raros, conforme o instituto.

Diagnóstico da doença

Uma vez diagnosticado o câncer de próstata, é feito uma análise do corpo por meio de exames um pouco mais detalhados de imagem para avaliar a extensão da doença.

“Geralmente, é feita com uma ressonância de próstata, uma ressonância de abdômen e em alguns casos também é indicada uma cintilografia óssea. A partir deste momento, quando existe uma doença localizada na próstata está indicada a realização da cirurgia ou outro tratamento como a radioterapia, por exemplo. É bem importante que seja individualizado cada caso para se buscar o melhor tratamento para cada paciente”, explica a oncologista da clínica CEON.

Tratamentos do câncer de próstata

Conforme a SBU, as opções de tratamento variam de acordo com o estágio da doença e com as condições clínicas e desejo do paciente. Entre elas estão: cirurgia, radioterapia, vigilância ativa, hormonioterapia, quimioterapia e radiofármacos.

Para o tratamento cirúrgico, atualmente estão disponíveis três abordagens: cirurgia aberta convencional, cirurgia videolaparoscópica e cirurgia videolaparoscópica em plataforma robótica.

Para os tumores mais avançados, também já existem várias novas alternativas em uso. Novos medicamentos hormonais (injetáveis ou orais) e quimioterapia, isolados ou em combinações, assim como novas técnicas de imagem.

Nem todos os casos de câncer de próstata necessitam de cirurgia

Após uma biópsia confirmando que existe câncer na próstata, os tumores são classificados em cinco grandes grupos denominados ISUP 1-5. Para a maioria dos tumores 1 e alguns 2, o início do tratamento pode incluir somente uma vigilância ativa, que será feita pelo urologista com exames clínicos, laboratoriais e de imagem.

“Mesmo realizando o diagnóstico, não é todo o paciente que vai precisar fazer um tratamento no primeiro momento. Existe uma parcela dos pacientes que tem a doença em forma menos agressiva, que o profissional pode optar por uma vigilância ativa, quando o paciente é acompanhado de perto e realiza exames a cada três meses. Somente receberá tratamento mais evasivo, como cirurgias e radioterapias, caso a doença comece a evoluir”, acrescenta o urologista Costa Jr.

Preocupação com a disfunção erétil

Outro receio dos homens após o diagnóstico de um tumor na próstata é a disfunção erétil. Segundo Marcus Vinícius Sadi, supervisor da Disciplina de Câncer de Próstata da SBU, existem alterações da função sexual, mas a maioria dos pacientes operados tem sua função erétil preservada, embora possa levar alguns meses para obter-se essa recuperação.

“A ejaculação, entretanto, fica permanentemente ausente. Existem vários critérios que podem antecipar uma maior chance de recuperar a função erétil e entre os mais importantes estão: idade mais jovem, tumores pequenos ao diagnóstico, presença de atividade sexual habitual antes do tratamento do tumor, ausência de comorbidades como diabetes, hipertensão arterial, tabagismo e, obviamente, um cirurgião capacitado (quando necessário o procedimento)”, acrescenta Sadi.

O que é a próstata?

Conforme a SBU, a próstata é uma glândula acessória do aparelho reprodutor do homem que se localiza na parte inferior do abdome, abaixo da bexiga e na frente do reto.

O que é o câncer de próstata?

De acordo com estatísticas norte-americanas, um em cada oito homens desenvolverá câncer de próstata no decorrer da vida. Ele é responsável por cerca de 10% de todas as mortes provocadas por câncer em pacientes do sexo masculino no Brasil, ficando atrás apenas do tumor de pulmão, segundo informações do Instituto Vencer o Câncer.

O câncer de próstata provoca algum sintoma?

Na fase inicial o câncer de próstata não costuma apresentar sintomas. Eles geralmente aparecem em estágios mais avançados da doença, mas muitas vezes se confundem com os sintomas de outras doenças da próstata e do aparelho urinário, acrescenta a SBU.

Fazer o exame de toque retal ainda é necessário?

Sim, muitos diagnósticos de câncer de próstata são concluídos a partir de alterações na consistência desta glândula, assim como de alterações no exame de sangue para analisar a dosagem do PSA (antígeno prostático específico).

Qual a importância de hábitos saudáveis para prevenir contra o câncer de próstata?

“A atividade física para manter o peso corporal adequado e a alimentação mais saudável têm um impacto na prevenção. Se aquele paciente já tem uma idade mais avançada, mas possui hábitos de vida mais saudáveis, ele acaba reduzindo o risco do câncer de próstata e outros tumores”, acrescenta a oncologista Suelen Martins.

Também é importante se prevenir de infecções sexualmente transmissíveis, não fumar, evitar o consumo excessivo de álcool, além de realizar exames periódicos indicados pelo médico.

Estadão

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