Menina Beatriz foi morta por ter se assustado ao ver suspeito, diz polícia
12 de janeiro de 2022, 14:57
Em 2017, a polícia divulgou imagens de um homem suspeito de ter sido o autor do crime. Segundo a SDS, trata-se de Marcelo da Silva (Foto: Reprodução)
A menina Beatriz Angélica Mota, morta a facadas aos 7 anos na escola em que estudava, em dezembro de 2015, foi assassinada após se assustar ao ver o suspeito armado, que tentou silenciá-la, informou nesta quarta-feira (12) a Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco.
A elucidação do crime, após seis anos, se deu dias após os pais da criança começarem uma jornada a pé, de Petrolina ao Recife (712 km) cobrando por respostas.
O suspeito Marcelo da Silva, 40, já estava preso pelo crime de estupro de vulnerável desde 2017 e, segundo o governo, confessou ser o autor da morte da menina. A identificação foi possível após o cruzamento de material de DNA do homem com o que foi recolhido na cena do crime, ainda em 2015. Segundo a SDS, o homem agiu sozinho, não mirava a vítima e estava munido de uma faca, com a qual praticou o crime.
“Ao haver contato do assassino com a vítima, ela teria se desesperado e, por isso, foram dados os golpes de faca. Essa teria sido a motivação. Foram dez facadas’, disse Humberto Freire, secretário de Defesa Social de Pernambuco.
Marcelo Silva tem um histórico de crime sexual contra menor, segundo a polícia, e está preso por um crime dessa natureza cometido em 2017. Em depoimento ele teria contado que conseguiu entrar, com dificuldade, na escola, onde era realizado um evento com mais de duas mil pessoas, para “pedir dinheiro” e acabou sendo visto pela menina.
“Durante o interrogatório, ele disse ter transitado pelo local e quando teve um breve contato com a vítima, ela teria se assustado. A motivação [do crime] foi silenciá-la, para que não houvesse um revés contra ele. A abordagem aconteceu perto do local do crime. Pela narrativa, não era direcionado a uma pessoa específica”, completou Freire.
O perfil genético do acusado, segundo o governo, foi coletado com a arma do crime, em 2015. “De lá para cá, foi necessário um trabalho técnico-científico para fazer uma melhoria na amostra”, afirmou Freire. O trabalho de refinamento que permitisse a inclusão no banco genético estaria sendo feito desde então. A identificação foi feita por meio de análises do banco de perfis genéticos do Instituto de Genética Forense Eduardo Campos, ontem, e, em seguida, o homem foi interrogado e, segundo a investigação, confessou o homicídio.
De acordo com o governo, o perfil do acusado foi inserido no banco genético estadual em 2019. “Para que a gente tenha um confronto positivo, a gente precisa ter o perfil genético do vestígio e da pessoa. A partir desse refinamento no banco, surgiu esse primeiro indicativo, diversas outras análises são necessárias para comprovação”, justificou o secretário. Ao todo, quatro peritos geneticistas assinam o laudo.
Segundo o estado, a força-tarefa montada para o caso vai continuar trabalhando, apesar de já ter identificado o homem que confessou ter cometido o crime. Ao final do trabalho, o inquérito deve ser encaminhado ao Ministério Público.
Durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira (12), também estiveram presentes o chefe da Polícia Civil, Nehemias Falcão; a coordenadora do Central de Apoio a Promotorias (CAOP Criminal) do Ministério Público de Pernambuco, Ângela Cruz, e o gerente geral da Polícia Científica de Pernambuco, Fernando Benevides.
“Estamos requisitando diligências complementares para comunicar à sociedade. Não nos acomodamos com essa primeira notícia, a Polícia também não, e é preciso que isso seja esclarecido”, disse Cruz.
A defesa de Marcelo Silva será feita pela Defensoria Pública de Pernambuco. A instituição foi procurada pelo UOL, mas, até o momento desta publicação, ainda não houve resposta.
SEIS ANOS DE ESPERA
Após o anúncio do governo, a mãe de Beatriz, Lúcia Mota, afirmou que o tempo que aguardou por respostas sobre o crime contra a filha foi “uma decepção muito grande”.
“Eu, meu marido e minha família nunca precisamos recorrer à Justiça de nenhuma forma, principalmente essa, de acesso direto a uma delegacia numa investigação criminal de algo tão bárbaro. E no primeiro dia que entrei na delegacia, saí desesperada de lá. Eu falei com o marido que eles não tinham condições de solucionar o inquérito de Beatriz porque não tinham sequer uma cadeira para sentar na delegacia de Pesqueira”, disse Mota.
A mãe de Beatriz também questionou o fato de as informações genéticas não constarem no banco genético estadual. “Eu questionei ao secretário se o DNA do assassino já foi confrontado com o banco de dados. Eu me referi ao banco nacional, porque, na minha cabeça, eu já tinha certeza que esse DNA já estava rodando aqui; e não estava”, afirmou.
Questionado pelo UOL a respeito da inserção do DNA do homem apontado como suspeito do crime no banco genético estadual, o secretário Humberto Freire informou que o banco genético e a amostra coletada na arma do crime passaram por melhorias. “Fomos aprimorando as informações para que pudéssemos ter o resultado técnico-científico”, disse o secretário.
PRESSÃO
Entre os dias 5 e 28 de dezembro de 2021, os pais e alguns amigos da família de Beatriz caminharam mais de 700 quilômetros, entre Petrolina e Recife, para pedir justiça pelo assassinato da criança. Ao fim da caminhada, a família se reuniu com o governador Paulo Câmara (PSB), que demonstrou ser favorável à federalização do caso.
“Na reunião, a gente questionou o porquê de o DNA não estar no banco nacional de dados. Lucinha se ofereceu pra bancar os custos para colocar no padrão necessário, mas não aceitaram. Uma das nossas hipóteses é que, em virtude desse ‘estalo’, eles tenham feito isso, mas não é suficiente”, afirmou Deniliria Amorim, amiga da família.
Folhapress/UOL
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