Luxemburgo critica volta: ‘Não pode um lugar liberar e outro, não’

04 de junho de 2020, 09:03

Para o treinador, o futebol só deveria voltar a ser praticado com autorização dos órgãos de saúde (Foto: Reprodução)

Longe da área técnica e do gramado, o técnico do Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo, mantém contato com os jogadores só por videoconferência. E foi graças à essa tecnologia que o treinador concedeu entrevista ao Estadão para comentar sobre o período de quarentena em São Paulo e a expectativa de retorno dos jogos no Brasil.

Para o treinador, o futebol só deveria voltar a ser praticado com autorização dos órgãos de saúde. Além disso, Luxemburgo acredita que a volta à pratica tinha de ser unificada em todo o País, para evitar vantagens para os clubes que já retomaram os treinamentos no campo. Ele entra na polêmica que toma conta dos Estados Unidos e se espalha pelo mundo sobre racismo e diz que no futebol, sua área, há muitas provocações e que elas deveriam ser deixadas de lado.

Temos de nos adaptar às coisas, é uma realidade. O treinamento virtual tem sido bom. Demos um programa para eles treinarem durante essa paralisação, para todos se manterem em atividade. Os jogadores treinam forte, três vezes por semana. Só que está se tornando cansativo. Estão cansados de ficar em casa treinando em uma sala, na varanda. Agora, tem de começar a mudar.

Teme que os seus jogadores tenham perdas técnicas?

Eles estão treinando forte. Liberamos para contratarem personal trainer, mas orientados pelo nosso pessoal da preparação física. O futebol não pode estar fora da pandemia. A pandemia faz parte de uma totalidade. Então, não pode um Estado liberar o futebol e o outro, não. Temos competições que exigem diversas situações diferentes e a condição física é primordial. Tem de tratar a pandemia de uma maneira geral para todos, mas aqui no Brasil cada Estado toma sua decisão de acordo com seus interesses. Tem clubes treinando já há bastante tempo e nós estamos respeitando os órgãos de saúde. Acho que foi equivocada a liberação para alguns clubes do País treinarem e outros não. Acho que isso não é legal.

Você acha que o futebol pode voltar mais por pressão política do que por questões de saúde?

Não quero entrar na parte política. O futebol tem de voltar dentro daquilo que for feito para a sociedade. Liberou para a sociedade, libera o futebol. Não pode ser diferente. Não deixamos de ser cidadãos por sermos profissionais de futebol. Não podemos ser tratados de outra forma. O erro é este.

O Palmeiras sempre se posicionou contrário ao retorno. Como se formou esse consenso?

Coerência. O Palmeiras sempre foi contestado, mas apresentou um equilíbrio com todos os seus setores para entender o momento. O presidente (Mauricio Galiotte) sempre falou que o Palmeiras vai voltar quando os órgãos de saúde autorizarem. Nós estamos preparados, mas só vamos voltar quando liberarem.

Sente que quem já começou a treinar estará em vantagem?

Você treinar em uma varanda de dez metros e em um campo é muito diferente. Acho que vai fazer uma diferença, sim.

Os jogos no Brasil vão ser com portões fechados. Acha que isso tira a força dos mandantes?

A torcida é importante. Digo sempre que é o centroavante da equipe. Quando vou jogar contra um adversário que é muito forte com seus torcedores, eu aviso meus jogadores: “Vamos ter de ganhar da torcida e deles”. Vamos ter de fazer um trabalho para colocarmos o torcedor do Palmeiras em campo com a gente de alguma maneira. Estou pensando nisso, mas ainda não posso falar.

Os jogadores do Palmeiras aceitaram a redução salarial. Negociar esse tipo de tema é muito diferente hoje em dia?

O perfil desse grupo é muito bom. Tenho 68 anos e 54 de futebol. Quando você fala que vai ajudar os funcionários, acabou. Os caras vão lá e colaboram. Todos os meses compram cesta básica. Os jogadores estão muito comprometidos com o Palmeiras. Eles querem conquistar alguma coisa.

Vários atletas se manifestaram contra o racismo dias atrás. Você acha importante atletas e entidades se posicionarem?

Essa questão aflorou muito nos Estados Unidos. É uma discussão bem doida para se chegar ao consenso. O que houve lá (o norte-americano George Floyd foi morto pelo policial Derek Chauvin durante uma abordagem) foi brutal, foi uma covardia. Eu discuto muito no futebol, que é a minha área. Acho que os atos de racismo no futebol são provocados e eu achava que deveriam ser deixados de lado. Dão muito prestígio, muito moral à maneira como se trata o racismo no futebol. Aquilo, sim, que o cara fez (nos Estados Unidos) é racismo puro. Mas no futebol o cara brincar com o outro, gozar o outro para desestabilizar o camarada, e dizer que aquilo ali é ato de racismo, não sei. Mas é uma discussão longa.

Há 20 anos você dirigia a seleção brasileira. Gostaria de voltar e ter outra chance?

Minha preocupação é hoje com o Palmeiras, fazer o Palmeiras vitorioso e ganhar. Sou um profissional preparado para o que acontecer no futebol. O meu foco agora é o Palmeiras.

Boas Festas!

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