Jesus negro, pobre e alvo da polícia é destaque na Sapucaí
24 de fevereiro de 2020, 15:17
A 1ª noite de desfiles do Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro, entre o domingo (23) e esta segunda-feira (24), foi marcada pelo protesto da Mangueira na Sapucaí e o brilho tradicional das escolas cariocas (Foto: Sputinik)
A abertura do desfile do Grupo Especial, considerado o melhor e mais famosos do mundo, teve momentos marcantes durante as apresentações de sete escolas de samba no Rio de Janeiro.
A Mangueira destacou-se pelo protesto político que levou à avenida, com lideranças de diversas religiões e variações de Jesus Cristo representadas por grupos marginalizados – como negros, indígenas, pobres, mulheres e LGBTs.
Em um de seus carros alegóricos, Jesus surgiu como um jovem negro e pobre crucificado e crivado de balas. O jovem negro é o grupo mais vitimado entre assassinatos no Brasil.
O desfile da Viradouro também empolgou com a homenagem às mulheres negras. O samba-enredo “Viradouro de alma lavada” contou a história da quinta geração de “lavadeiras” da Lagoa do Abaeté, as Ganhadeiras de Itapuã. Escravizadas, elas também vendiam comida e com dinheiro compravam a alforria de outras mulheres.
A comissão de frente da escola levou um tanque com milhares de metros cúbicos de água em mergulhava a nadadora olímpica Anna Giulia.
A União da Ilha do Governador também levou temas sociais ao sambódromo, representando a vida dos moradores de favelas no Rio de Janeiro no samba-enredo “Entre Becos e Vielas”. A escola mostrou os helicópteros das polícias identificados como “agentes da paz” que sobrevoam as comunidades com armas apontadas para baixo atirando sobre áreas populosas.
A Paraíso do Tuiuti, que dois anos atrás autorizou o ex-presidente Michel Temer e manifestantes de direita, contou uma história entre um monarca e um santo. O samba-enredo “dois Sebastiões” retratou um encontro entre Dom Sebastião, que desapareceu no século 16, e o santo padroeiro do Rio de Janeiro, São Sebastião.
Já a Portela, a escola de samba mais vencedora do carnaval carioca, falou sobre a vida dos índios tupinambás no Rio de Janeiro antes da colonização. O desfile abordou temáticas dos mitos dos indígenas contrastando o período antes da invasão portuguesa com o crescimento da metrópole carioca.
A Estácio de Sá falou sobre rochas e minerais na história da humanidade, desde pedras preciosas ao espaço sideral, criticando mineradoras e exaltando a aventura do homem na “fronteira final”. O desfile foi repleto de representações de rubis, diamantes e cenários espaciais.
A escola Grande Rio levou à Sapucaí um samba-enredo sobre o pai de santo Joãozinho da Gomeia, contando a história do religioso. O desfile foi da infância ao fim da vida de Gomeia, apresentando sua relação com a espiritualidade.
Essa foi a terceira noite de desfiles na Sapucaí em 2020, que também recebeu as escolas da Série A na sexta-feira (21) e no sábado (22). A primeira leva de escolas da Série A destacou-se pela crítica política e abordagens históricas e no dia seguinte pela homenagem à jogadora da seleção brasileira, Marta.
O 2º e último dia de desfiles do Grupo Especial na Sapucaí acontece nesta segunda-feira (24) e terá apresentações das escolas São Clemente, Vila Isabel, Salgueiro, Unidos da Tijuca, Mocidade e Beija-Flor.
Boas Festas!