Futebol teria provocado uma guerra há 50 anos na América Central?

14 de julho de 2019, 13:56

(Foto: Reprodução)

Durante meio século o mundo acreditou que a América Central viveu uma guerra causada pelo futebol.

Em 1969, as eliminatórias da Concacaf para a Copa do Mundo estavam em sua fase de semifinais e, depois de três partidas disputadas, estava previsto o jogo entre Honduras e El Salvador, países que vinham se desentendendo ao longo da década por questões políticas.

Na época, os jogos ficaram marcados pela hostilidade e violência e, menos de um mês depois, entre 14 e 18 de julho, os hondurenhos e salvadorenhos se enfrentaram novamente, contudo, já em campo de batalha de uma guerra que durou quatro dias. O episódio ficou conhecido como Guerra das 100 horas ou Guerra do Futebol.

Aproximadamente 200 militares foram mortos, 99 hondurenhos e 107 salvadorenhos, enquanto que as vítimas civis chegaram a 5 mil, entre mortos e feridos.

O jornalista Ryszard Kapuscinski definiu o conflito entre Honduras e El Salvador em 1969 como a “guerra do futebol”, contudo, as causas do conflito foram outras.

“O conflito de 1969 tem suas origens verdadeiras na situação de desigualdade destes dois países, tal como nos dias de hoje […]”, explicou Efraín Díaz Arrivillaga, ex-embaixador de Honduras na sede das Nações Unidas em Genebra, à Sputnik Mundo.

Por sua vez, o atual embaixador de El Salvador na Venezuela, Domingo Santacruz, alegou que a “principal causa foi referente à crise estrutural Em Salvador e na América Central”.

As relações entre os dois países vinham se deteriorando ao longo de toda a década de 1960 e três fatores contribuíram para causar o conflito, sendo eles os problemas econômico e fronteiriço e a crise migratória.

O problema econômico, que com a organização de um Mercado Comum Centro Americano elevou o número de produtos industrializados em Honduras, causando um grande prejuízo. Já o problema fronteiriço precisava de uma demarcação mais rigorosa e eram frequentemente cenários de pequenos conflitos na região. A crise migratória foi causada depois que o governo hondurenho sancionou uma lei de reforma agrária, que excluía da equação os mais de 300 mil imigrantes salvadorenhos que viviam no país, explicou Santacruz.

Outro problema era a necessidade de um espaço vital com saída ao Atlântico, pois os salvadorenhos deviam cruzar o território hondurenho para obter acesso marítimo ao outro lado do mundo.

“Esta ideia de expansão territorial prevalecia muito em El Salvador e também foi um fator para a aventura bélica que afetou a população de ambos os países e interrompeu um esforço que as nações centro-americanas vinham fazendo desde 1960, com a constituição do Mercado Comum Centro Americano”, afirmou Díaz.

Díaz, entretanto, mencionou que a sucessão de uma série de disputas fronteiriças entre os dois países na zona do golfo de Fonseca, ocorreu em uma pequena parte da costa pacífica que partilham Nicarágua, Honduras e El Salvador.

“Aqui o principal problema era a saída de Honduras do Pacífico, o que complementou os desentendimentos”, concluiu.

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