É preciso ver para crer
04 de março de 2020, 16:36
*Por Gervásio Lima –
São Tomé foi um dos 12 apóstolos de Cristo, o abusado que disse que só acreditaria na ressurreição de Jesus se pudesse ver e tocar as chagas da crucificação. A partir daí nasceu a expressão “ver para crer”.
Assim como o apóstolo Tomé, que duvidou da ressurreição de Jesus e exigiu tocar suas chagas para que se convencesse, o mais precavido dos mortais também evita fazer juízo de valor para não incorrer no grave e perigoso erro de julgar algo que não conhece ou que não viu. O apóstolo que no primeiro momento se comportou como um homem de pouca fé, um descrente, teve de certa forma uma atitude digna dos que abominam pré-conceitos e, principalmente julgamentos feitos a partir de percepções individuais e ‘do que ouviu dizer’.
A decepção ou desilusão é o sentimento de insatisfação que surge quando as expectativas sobre algo ou alguém não se concretizam. Apesar de ser semelhante ao arrependimento, difere deste na medida em que o arrependimento está focado nas escolhas pessoais que levaram a um resultado negativo, enquanto que a decepção está focada no próprio resultado. No caso de São Tomé nenhuma das opções sentimentais se aplicam, ao contrário do que acontece com freqüência na política eleitoral, cuja maior dificuldade é encontrar um impenitente.
A fidelidade política é o pré-conceito eleitoral e as defesas e as garantias postas antes de se atingir um determinado objetivo, geralmente a vitória nas urnas, não são mantidas pela maioria. O voto de união é um dos momentos mais marcantes numa aliança política. Como em uma cerimônia de casamento religioso, onde é prometido ‘estar junto na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, amando, respeitando e sendo fiel em todos os dias da vida’, o anúncio de pactos políticos durante uma eleição quando não é motivo de festa, simboliza ao menos alegria. Quando a união é com um noivo ou uma noiva rica, vixe, aí que a zuada é grande.
Para a tristeza de muitos o matrimônio não é eterno e, o pior, tem durado menos que se espera. Neste caso a decepção e o arrependimento se resumem em uma única palavra, ‘frustração’. Às vezes mais do que os desquitados; pais, padrinhos, amigos e familiares sofrem a dor da separação, principalmente se o motivo foi o adultério, tanto quanto.
Todo excesso é prejudicial. Tudo que ultrapassa o limite da razão tende a não dar certo. Para os que acreditam no ‘já ganhou’, é bom lembrar que a autoconfiança requer humildade. Os seres humanos estão acostumados à prática exagerada da vaidade e do orgulho e por conseqüência têm sido surpreendidos pro resultados nada agradáveis. Resultado de eleição é feito São Tomé: ”precisa ver o resultado das urnas para crer” pois até então tudo é ignoto, ou seja, desconhecido.
O problema das pessoas, inclusive dos políticos, talvez não seja a falta de confiança, mas o excesso dela.
*Jornalista e historiador
Boas Festas!