Ricardo Silva Alves, tio da jovem cigana Hyara Flor Santos Alves, de 14 anos, e pivô da suposta vingança que teria levado ao assassinato da adolescente, revelou que estava envolvido em um relacionamento secreto com Janaína Alves, mãe do marido da vítima e principal suspeito pela morte, há pelo menos seis anos. As declarações foram dadas ao jornal O Globo desta segunda-feira, 17.
Ele também revelou que, no início do relacionamento, o marido de sua amante descobriu a traição e o ameaçou de morte. A família acredita que a jovem, que foi morta com um tiro no pescoço pelo noivo, foi vítima de uma trama de vingança que começou a ser planejada antes mesmo do casamento.
“Eu e a Janaína tínhamos um caso há mais ou menos seis anos. Naquela época o marido dela descobriu, me encontrou e disse que ia me dar seis tiros na cara. Mas o tempo passou e agora quando soube que a minha sobrinha ia casar com o filho de Janaína, eu disse que era melhor pararmos de nos encontrar. Ficamos afastados e voltamos a nos falar há uns 90 dias. Até que aconteceu a tragédia”, contou Ricardo.
Segundo relatou o tio da vítima, o relacionamento amoroso era conhecido pela comunidade cigana de Guaratinga, na Bahia, onde ambas as famílias residiam. Ele revelou que Janaína frequentemente lhe presenteava com bens de valor elevado e também fazia ameaças de tirar a própria vida caso ele a abandonasse.
Apesar de não conseguir terminar o relacionamento e não recusar os presentes, o tio da vítima afirmou que fazia tentativas para encerrar o romance. No entanto, ele alega que Janaína já havia tentado tirar a própria vida, o que o impedia de romper completamente o vínculo com ela.
“Ela me mandava fotos com vários remédios na mão falando que ia tomar. Já tentou se enforcar. Era uma situação muito complicada — relata ele, acrescentando nunca ter imaginado que a situação pudesse terminar em tragédia”, completou
Entenda o caso
Uma adolescente de 14 anos foi morta com um tiro no queixo, na noite da última quinta-feira, 6, na cidade de Guaratinga, extremo sul da Bahia, a mais de 700 km de Salvador.
Hyara Flor Santos Alves, que é integrante de uma comunidade cigana, chegou a ser socorrida para um hospital, mas não resistiu e morreu na unidade, informou o jornal A Tarde.
A Polícia Civil investiga o caso como feminicídio. Hyara tinha se casado com o marido há cerca de dois meses.O suspeito teria fugido do local do crime junto com o pai e mais um cigano.
Uma pistola calibre 380, dois carregadores e munição foram apreendidos no local do crime e encaminhados à perícia, de acordo com informações da polícia.
Família não acredita em tiro acidental
Ao Terra, a advogada Janaína Panhossi, que representa a família da vítima, afirmou que pai e familiares de Hyara não acreditam em tiro acidental.
De acordo com a advogada, ainda não é possível dizer ao certo como o crime aconteceu. O que se sabe é que Hyara levou um tiro no rosto enquanto estava na casa em que morava com o marido – que terá o nome preservado por ter menos de 18 anos -, com quem se casou há cerca de 40 dias. Ele também tem 14 anos.
Janaína explica que o casamento foi uma cerimônia simbólica, da cultura cigana. Os dois não eram casados no civil, apesar de já morarem juntos e viverem como tal. A casa de Hyara e do marido era conjugada e abrigava também a família dele. Todos fugiram logo após o crime.
“O que causou estranheza é que eles não ficaram nem para prestar socorro”, disse Janaína, ao explicar porque a família não acredita na hipótese de que o tiro tenha sido acidental.
Suspeito pelo crime
A principal suspeita dos familiares da adolescente é a de que o próprio marido dela teria efetuado os disparos que a mataram.
À TV Globo, o delegado Moisés Damasceno, coordenador da 23ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Eunápolis), afirmou que a Polícia Civil investiga o caso como feminicídio.
“As investigações estão na fase de depoimentos de familiares e pessoas que souberam mais ou menos como o fato transcorreu. A versão principal desse momento é que o tiro foi efetuado pelo esposo da vítima, que também é um jovem de 14 anos, integrante também da cultura cigana, que casou com ela no mês de maio passado”, informou.
Ainda de acordo com a autoridade policial, depois do tiro, o suspeito e a família dele fugiram por uma estrada de chão, que dá acesso a Minas Gerais e de lá foram para o Espírito Santo. A Polícia Civil trabalha para localizá-los.
Ameaça contra suspeito
Depois da morte de Hyara começaram a circular áudios em que o pai dela, conhecido como Iago Cigano, faz ameaças ao principal suspeito pela morte da menina, seu marido.
A advogada do pai, no entanto, afirma que os áudios foram gravados em um “momento da dor e de desespero” e que a família da menina está participando ativamente das investigações.
Terra