Caso Beatriz tem articulação por CPI e investigação em fase final
11 de fevereiro de 2022, 16:23
Beatriz, de 7 anos, foi morta durante a festa de formatura da irmã, no colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde o pai era professor de inglês (Foto: Reprodução)
Mesmo com a descoberta do suspeito de matar a menina Beatriz Angélica Mota, a investigação do assassinato em um colégio particular de Petrolina, no sertão de Pernambuco, em 2015, continua na Polícia Civil. Em paralelo, um grupo de deputados estaduais se articula para criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) a fim de apurar possíveis falhas durante as investigações.
Em janeiro, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS) anunciou, em entrevista coletiva, que o suspeito é Marcelo da Silva, 40, que já estava preso por outro caso, um suposto estupro de vulnerável. Segundo a pasta, ele confessou o crime e teve seu depoimento filmado.
Depois, no entanto, a defesa de Marcelo afirmou que ele escreveu uma carta na qual diz ser inocente e que confessou ao sofrer pressão.
Beatriz, de 7 anos, foi morta durante a festa de formatura da irmã, no colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde o pai era professor de inglês.
Segundo a Secretaria de Defesa Social, quando foi beber água, a menina teria se assustado ao ter contato com Marcelo. De acordo com os investigadores, ele teria desferido dez facadas no corpo dela e confessado o crime em depoimento no mês passado.
Marcelo vivia em situação de rua, segundo a SDS, e teria entrado na escola já com a faca e com a intenção de pedir dinheiro aos participantes do evento para poder deixar Petrolina e voltar à cidade de Trindade, também no sertão, onde vivia com a família.
Conforme mostrou a Folha, a longa investigação passou por instabilidades, como sumiço temporário de câmeras de segurança da escola, demissão de perito e oito trocas de delegados.
Segundo a SDS, as investigações estão na reta final para serem concluídas e devem ser remetidas ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Atualmente, a força-tarefa responsável pelo caso está em fase final de diligências e perícias complementares. O inquérito tramita sob sigilo.
Quando chegar ao MPPE, o órgão analisará o inquérito e, em seguida, irá se manifestar. Não há prazo para que isso aconteça.
A família de Beatriz mantém a defesa da federalização das investigações. Em dezembro, conseguiu apoio do governador Paulo Câmara (PSB) nesse sentido.
O apoio dado por escrito pelo governador se deu após uma caminhada de 28 dias por parte dos pais de Beatriz, Sandro e Lucinha Mota, de Petrolina ao Recife, em um trajeto a pé de mais de 700 quilômetros.
No final de janeiro, uma articulação por uma CPI sobre a investigação do caso Beatriz foi iniciada na Assembleia Legislativa de Pernambuco. O deputado estadual Romero Albuquerque (PP), da base do governo, propôs a criação da comissão.
Para ser iniciada, uma CPI precisa de 17 assinaturas entre os 49 deputados, ou seja, de um terço da composição da Assembleia.
Albuquerque afirma que já possui as 17 assinaturas e diz ter protocolado o requerimento para a instalação da CPI. De acordo com ele, o setor técnico da Assembleia realiza a conferência das assinaturas. Não há prazo para essa etapa ser cumprida. A maioria dos signatários é da oposição.
“Com a CPI, vamos ter mecanismos de contribuir com os órgãos responsáveis, como a SDS e delegacias envolvidas, e deixar a população esclarecida. Já demos entrada e temos as 17 assinaturas formalizadas”, diz Romero.
A reportagem apurou que líderes do governo na Assembleia devem pressionar dois deputados da base aliada que apoiaram a criação da comissão a retirar as suas assinaturas, o que pode inviabilizar a CPI.
Enquanto isso, a família de Beatriz segue com campanhas favoráveis à abertura da CPI na Assembleia. Lucinha Mota, mãe da menina, diz que os deputados que não apoiam a abertura da comissão são “cúmplices da impunidade”.
“Estou vendo que alguns políticos estão tentando desarticular essa comissão. (…) A CPI vai ser tão importante para o inquérito de Beatriz e para a sociedade pernambucana. As pessoas querem saber quem de fato agiu de forma corrupta e os erros e omissões que ocorreram durante o inquérito de Beatriz e com uma justificativa muito fraca”, diz Lucinha, em vídeo publicado nas redes sociais.
A família da menina também questiona como se deu o processo de comparação do DNA presente na faca usada no crime com o do suspeito. Para familiares, o DNA na faca foi inserido no banco de dados da segurança pública de Pernambuco tardiamente.
Em janeiro, a SDS disse que conseguiu chegar ao suspeito por meio da comparação do DNA de Marcelo, preso desde 2017 por outro crime, com o coletado na faca usada no crime.
De acordo com a secretaria, o DNA dele foi inserido na base de dados estadual em 2019, quando houve uma atualização no banco. O primeiro indício que levou ao seu nome surgiu no final de 2021, quando se descobriu que seu DNA era o mesmo encontrado na faca, segundo a polícia.
No início deste ano, o suspeito foi submetido a um procedimento relacionado ao outro processo ao qual responde, ocasião em que houve nova coleta de seu DNA. Em seguida, esse material foi usado para confirmar o que a polícia tinha atestado anteriormente.
Na próxima semana, a família de Beatriz deverá fazer um ato na Assembleia para cobrar os deputados que não assinaram a favor da CPI.
Uma das ex-delegadas do caso é a atual deputada estadual Gleide Ângelo (PSB), que comandou a investigação por meses entre 2017 e 2018. Ela deverá ser um dos principais alvos da pressão da família de Beatriz para que assine a favor da CPI.
A Secretaria de Defesa Social alegou, por meio de nota, que, “assim como os diversos profissionais que atuam no caso, está à disposição para colaborar e prestar os devidos esclarecimentos aos parlamentares e à sociedade” em caso de eventual CPI.
O Ministério Público de Pernambuco foi questionado sobre o posicionamento em relação a uma CPI, mas optou por não se manifestar sobre o assunto.
No dia 19 de janeiro, o advogado Rafael Nunes, que defende o suspeito, disse que Marcelo da Silva escreveu uma carta em que alega ser inocente no caso. O texto marcou um recuo do acusado, que, anteriormente, havia confessado em depoimento ter sido o autor do assassinato da criança de sete anos, segundo a SDS.
“Eu confessei na pressão. Pelo amor de Deus, eles querem minha morte. Preciso de ajuda. Estou com medo de morrer, quero viver. Eu não sou assassino. Quero falar com a mãe da criança. Quero a proteção de minha mãe”, diz o texto com a assinatura de Marcelo. A carta está com a data de 17 de janeiro.
Folhapress
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