Amazônia pode ter sido lar de um milhão de pessoas antes de 1500

28 de março de 2018, 10:26

Pesquisas anteriores descobriram 450 geoglifos similares no estado do Acre, que faz fronteira com o Peru no oeste da Amazônia, mas poucos artefatos foram encontrados (Foto: Por Hazel WARD,AFP)

Áreas da Amazônia que antes se acreditava terem sido desabitadas podem ter sido o lar de até um milhão de pessoas nos séculos anteriores à chegada de Cristóvão Colombo, segundo uma nova pesquisa arqueológica.

Cientistas da Grã-Bretanha e do Brasil descobriram evidências de centenas de aldeias fortificadas na floresta tropical longe dos principais rios – áreas até então consideradas intocadas pela civilização humana antes da chegada dos europeus, no final do século XV.

As conclusões, publicadas nesta terça-feira na revista científica Nature Communications, chegam após a descoberta de extensas obras de terraplanagem e fortificações em outra região do Brasil, na fronteira com o Peru.

Os pesquisadores agora acreditam que essas habitações pré-colombianas podem se estender por uma área de 400.000 quilômetros quadrados, e podem ter sido o lar de 500.000 a um milhão de pessoas.

A descoberta de 81 novos sítios arqueológicos que datam de 1250-1500 – entre eles 104 grandes terraplanagens geométricas – foi baseada em parte em imagens de satélite.

Escavações em 24 locais descobriram cerâmicas, machados de pedra polida e amostras de solo fertilizado, assim como antigos poços de lixo, chamados de sambaquis.

Analisando os restos de carvão e cerâmica escavada, os pesquisadores descobriram que um trecho de 1.800 quilômetros do sul da Amazônia esteve continuamente ocupado de 1250 até 1500 por pessoas que viviam em aldeias fortificadas.

– Rituais cerimoniais? –

Com enormes extensões da Amazônia ainda inexploradas por arqueólogos, as descobertas desafiam a suposição de que as comunidades antigas viviam necessariamente nas planícies aluviais próximas aos principais rios.

“Há um equívoco comum de que a Amazônia é uma paisagem intocada, lar de comunidades nômades e dispersas”, disse Jonas Gregorio de Souza, pesquisador do departamento de arqueologia da Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha.

“Este não é o caso. Descobrimos que algumas populações longe dos grandes rios são muito maiores do que se pensava anteriormente, e essas pessoas tiveram um impacto no meio ambiente que ainda podemos encontrar hoje”.

Os pesquisadores acreditam que existiam entre 1.000 e 1.500 vilarejos fechados na área, com dois terços dos locais ainda a ser descobertos.

Os locais variavam em tamanho, desde áreas cercadas por valas feitas pelo homem – também conhecidas como geoglifos – de 30 metros de diâmetro, até estruturas de 400 metros de diâmetro ao redor de uma praça circular que irradiava estradas afundadas.

Ainda não está claro para que esses misteriosos geoglifos – quadrados, circulares ou hexagonais – eram usados.

“É possível que eles tenham sido usados ​​como parte de rituais cerimoniais”, escreveram os pesquisadores.

– Reavaliando a história –

As aldeias eram encontradas frequentemente perto ou dentro dos 81 geoglifos pesquisados. As terraplanagens provavelmente foram feitas durante secas sazonais, permitindo que as árvores fossem removidas da área, especula o estudo.

“As áreas mais secas ainda tinham solos férteis, onde os agricultores teriam podido cultivar e plantar árvores frutíferas, como a de castanha-do-pará”, afirmou.

Alguns geoglifos também eram interconectados através de uma rede de estradas construídas ao longo de muitos anos.

Pesquisas anteriores descobriram 450 geoglifos similares no estado do Acre, que faz fronteira com o Peru, no oeste da Amazônia, abrangendo 13.000 quilômetros quadrados, mas poucos artefatos foram encontrados.

“Precisamos reavaliar a história da Amazônia”, disse o professor José Iriarte, também da Universidade de Exeter.

“Certamente não era uma área habitada apenas perto das margens de grandes rios, e as pessoas que moravam lá mudaram a paisagem. A área que pesquisamos tinha uma população de pelo menos dezenas de milhares”.

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