A história da única pessoa do mundo a ser atingida e ferida por um meteorito
10 de dezembro de 2019, 09:53
Ann Hodges segurando o meteorito que atravessou o teto de sua casa e a atingiu em seguida (Foto: UNIVERSITY OF ALABAMA MUSEUMS, TUSCALOOSA, ALABAM)
“Você tem mais chances de ser atingido por um tornado, um raio e um furacão, todos ao mesmo tempo, do que de ser atingido por um meteorito”.
Essa foi a fala do astrônomo Michael Reynolds, quando consultado pela revista National Geographic, sobre o quão possível era ser acertado por uma rocha vinda do espaço.
O motivo não está na falta de meteoritos que cheguem à Terra. Na verdade, de acordo com um estudo uruguaio citado pela revista Cosmos, por volta de 17 meteoritos chegam à superfície terrestre todos os dias.
Entretanto, a maioria deles cai nos oceanos ou em regiões afastadas.
Isso explica por que a probabilidade de morrer pelo impacto de um meteorito é de 1 em 1.600.000. Também está por trás da afirmação de Reynolds, autor do livro Estrelas cadentes: um guia sobre meteoros e meteoritos (Falling Stars: A Guide to Meteors and Meteorites, no original em inglês), de que é mais provável ser acertado por um raio, um furacão e um tornado ao mesmo tempo.
Mas uma pessoa teve essa “sorte”.
O nome dela era Ann Hodges e entrou para a história por protagonizar o único caso registrado oficialmente de alguém atingido por um meteorito.
O que aconteceu?
Hodges tirava um cochilo em sua casa, em Sylacauga, uma região rural no Alabama, no sudeste dos Estados Unidos, na tarde de 30 de novembro de 1954, quando acordou de repente.
Sentiu uma pancada forte no quadril e, quando abriu os olhos, viu que sua casa estava cheia de fumaça e de escombros.
Depois do susto inicial, ela e sua mãe, que também estava na casa, descobriram que havia um grande buraco no teto. Seu aparelho de rádio também estava destroçado.
Então descobriram o que havia causado todo o dano: uma rocha preta, do tamanho de um melão, que havia entrado pelo buraco, ricocheteado no rádio para depois atingir Ann, que tinha 31 anos à época.
As mulheres ligaram para a polícia e para os bombeiros, que chamaram um geólogo do governo, que trabalhava em uma escavação próxima. O especialista logo chegou ao lugar para identificar a rocha.
Ele identificou que se tratava de um meteorito, o termo que define qualquer rocha que venha do espaço.
As autoridades decidiram entregá-lo à Força Aérea para inspeção. Afinal, ainda estavam na Guerra Fria, e era necessário descartar qualquer possibilidade de um complô soviético.
“Uma bola de fogo”
Depois disso, a pequena cidade ficou em polvorosa. Muitos viram o objeto no céu antes que ele caísse na casa dos Hodges.
Segundo os depoimentos preservados no Museu de História Natural do Alabama, alguns disseram ter visto “uma luz avermelhada brilhante, como uma vela romana soltando fumaça”.
Outros relataram ver “uma bola de fogo” e ouvir uma grande explosão, seguida de uma nuvem marrom.
Com o tempo, soube-se que o meteorito tinha 3,8 quilos e era, na verdade, a metade maior de um meteorito que se partira pouco antes de se chocar contra a Terra.
Um vizinho dos Hodges, que era agricultor, encontrou um pedaço menor enquanto lavrava a terra e o vendeu, ganhando uma pequena fortuna, de acordo com fontes locais.
Entretanto, Ann não teve a mesma sorte.
Enviado por Deus
Transformar-se na única pessoa do mundo a ser oficialmente reconhecida como vítima da queda de um meteorito trouxe muita fama, mas não muita fortuna para Ann Hodges.
A notoriedade foi súbita: quando seu marido, Eugene, chegou do trabalho naquele 30 de novembro, havia tanta gente na entrada da casa que demorou até que ele conseguisse alcançar a porta.
“Hoje tivemos um dia bastante emocionante”, disse Ann à agência de notícias Associated Press. “Não consegui dormir desde que fui atingida”.
Apesar do machucada, a mulher não foi levada a um hospital até o dia seguinte, cercada pela multidão.
O médico confirmou que só se tratava de um hematoma.
Mas o golpe mais forte sentido por Ann não foi físico, e sim emocional.
Ela estava convencida de que o meteorito pertencia a ela. “Sinto que é meu. Creio que Deus tinha a intenção de que chegasse a mim. Afinal, foi a mim que ele acertou”, afirmou, segundo os depoimentos mantidos no Museu de História Natural.
Entretanto, ela não era dona da casa onde vivia. Ela e o marido alugavam o imóvel de uma mulher chamada Birdie Guy, que era viúva.
Quando a Força Aérea confirmou que se tratava de um meteorito e quis devolver o objeto ao seu dono, começou a batalha judicial para definir quem teria direito a mantê-lo.
Ainda que Guy tenha ganhado o pleito, o público à época tomou partido dos Hodges, cujo sobrenome fora usado para batizar a pedra espacial.
Guy acabou aceitando 500 dólares para entregar o meteorito.
O Smithsonian, um museu americano de prestígio, ofereceu-se para comprar o famoso objeto extraterrestre dos Hodges, mas Eugene estava convencido de que poderia obter mais dinheiro e recusou a oferta.
Sua aposta não deu certo. No fim das contas, ninguém demonstrou interesse em comprar o meteorito e os Hodges acabaram doando o objeto para o Museu de História Natural do Alabama, em 1956 – onde está até hoje.
Anos mais tarde, Ann sofreu um colapso nervoso e, em 1964, separou-se do marido.
Acabou internada em uma clínica e, com apenas 52 anos, faleceu de insuficiência renal em 1972.
Segundo Eugene, ela “nunca se recuperou” de toda a loucura gerada pelo meteorito.
“Os Hodges eram pessoas simples do campo”, destacou o diretor do museu, Randy Mecredy. “E realmente acredito que toda a atenção levou à sua ruína”.
Outros casos
Ainda que Ann Hodges seja o único caso confirmado, houve outras situações em que pessoas asseguraram ter sido acertadas por meteoritos.
Um dos casos mais notórios ocorreu há quase uma década, em 2009, quando um adolescente alemão de 14 anos, chamado Gerrit Blank, disse ter sido ferido por uma pedra espacial. Ele teria machucado a mão com o objeto, que teria o tamanho de uma ervilha.
BBC News
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