Jessica Senra, âncora do Bahia Meio Dia, da Rede Globo, deu uma aula histórica sobre feminismo

29 de outubro de 2019, 19:13

"Quando faço um comentário lúcido sobre machismo ou homofobia, como aconteceu agora, muita gente se sente representada, se sente tocada, até aprende um pouco mais", pontua a jornalista Jessica Senra (Foto: Reprodução/Instagram).)

Em apenas 50 segundos a jornalista Jessica Senra, âncora do Bahia Meio Dia, da Rede Globo, deu uma aula histórica sobre feminismo e explicou a importância do combate ao machismo e à homofobia. Tudo isso após noticiar um caso de violência em Camaçari, região metropolitana de Salvador, onde Marcelo Macedo, de 33 anos, foi agredido a tiros por beijar outro rapaz em um bar. “Segundo a vítima, o suspeito perguntou a ele, ao Marcelo, se não tinha vergonha de fazer ‘isso’ na frente de pais de família. ‘Isso’ era carinho, era beijo. Quer dizer, beijar, fazer carinho em alguém, na cabeça do homofóbico ofende, mas agredir e tentar matar não ofende?! A homofobia é isso, é ignorância, é falta de qualquer lógica. Uma das explicações pra homofobia é que ela tem a ver com o machismo, com a ideia de superioridade do homem sobre a mulher. Perceba que muitos homossexuais são chamados de ‘mulherzinha’, como se isso fosse ofensivo, como se ser mulher fosse uma ofensa. Porque o modelo de homem na nossa sociedade é baseado na masculinidade viril e agressiva. Os homossexuais mais afeminados, inclusive, são mais discriminados que aqueles que não são. Por isso a gente sempre diz que o combate ao machismo precisa ser de toda a sociedade, porque é uma coisa absolutamente irracional”, expôs a jornalista,

“Lendária!”, diz uma das milhares de postagens que enaltecem a jornalista (Imagem: Reprodução/Twitter).

“Percebi a importância de usar um espaço como o que tenho para mostrar um ponto de vista que ainda não é o dominante” O posicionamento da apresentadora, incomum em outros telejornais da emissora, viralizou nas redes sociais e vem sendo replicado desde a semana passada em diversos veículos de comunicação. “Recebi muito amor, apoio e incentivo. E muitas mensagens me tocaram. Muitas. Relatos de LGBTs que têm o medo como companhia diária. Pessoas que se sentem tolhidas no seu direito de manifestar carinho, amor, porque isso pode lhes custar a vida. Percebi a importância de usar um espaço como o que tenho para mostrar um ponto de vista que ainda não é o dominante. Continuamos com a visão machista, racista, homofóbica de mundo de milhares de anos atrás. E essa visão é opressora para a maioria da sociedade. Se a gente parar para pensar, todos nós sofremos pelo menos uma dessas opressões. Apenas homens brancos e heterossexuais estariam fora dessa lista – mas até eles sofrem com a opressão machista, num modelo de masculinidade que é tóxica, que lhes impede de ser sensíveis, que exige a violência como forma de expressão. E isso não é bom para ninguém. Então, já passou da hora de nos desconstruirmos dos valores que nos foram incutidos e nos reconstruirmos como seres humanos mais empáticos e cuidadosos uns com os outros”, reflete.

 

“Já passou da hora de nos desconstruirmos dos valores que nos foram incutidos e nos reconstruirmos como seres humanos mais empáticos e cuidadosos uns com os outros” (Foto: Reprodução/Instagram)

No Brasil, há uma morte por LGBTfobia a cada 23 horas Marcelo, que levou quatro tiros em Camaçari, sobreviveu ao ataque. Centenas de outras vítimas de LGBTfobia, não. Um relatório Grupo Gay da Bahia, a mais antiga associação de defesa dos direitos dos homossexuais no Brasil, indica que 420 mortes decorrentes de homicídios e suicídios de LGBTs foram registradas em 2018. De janeiro a maio deste ano, foram 141. Uma média de uma morte a cada 23 horas.

“Vejo piadas homofóbicas sendo feitas cotidianamente e, obviamente, elas machucam meus amigos e colegas LGBTs. Isso também é uma forma de violência. Já o machismo, sempre foi o meu companheiro, mesmo quando eu nem sabia identificá-lo. Vou tentando enfraquecê-lo no dia a dia, não apenas com comentários que chamem para a reflexão, mas com a minha própria existência. Quando a mulher ocupa espaços no mercado de trabalho, quando ocupa espaços de poder, quando se faz ser ouvida e mostra o seu potencial, ela está resistindo e provocando mudanças.”

Jessica Senra e Ayres Rocha apresentaram o Jornal Nacional em setembro, em comemoração aos 50 anos de história do JN (Foto: Reprodução/Instagram)

Declaradamente feminista, a apresentadora, que tem quase 20 anos de profissão, conquistou diversos prêmios na área e recentemente ocupou a bancada do Jornal Nacional, diz se inspirar na luta e no trabalho de outras mulheres. “Oprah Winfrey tem uma história de vida incrível, sofreu violências devastadoras e conseguiu transformar isso em força para se tornar uma das mulheres mais influentes do mundo. Aqui na Bahia, temos as heroínas da independência: Maria Quitéria, que se fingiu de homem para lutar no exército brasileiro pela independência: Maria Quitéria, que se fingiu de homem para lutar no exército brasileiro pela independência do Brasil; Joana Angélica, que foi morta ao tentar impedir a entrada dos portugueses num convento durante essas lutas; e Maria Felipa, uma negra que montou um exército de mulheres civis para expulsar os portugueses. No mundo, tenho gratidão a Simone de Beauvoir, ícone do movimento feminista e tantas outras que vieram ao lado e depois dela. E muitas mulheres do meu entorno, colegas de trabalho, amigas, familiares… as mulheres são inspiradoras! Porque se você conversar com qualquer mulher, vai ver que todas elas têm uma história de vida e resistência pra contar.” 

 

Boas Festas!

VÍDEOS