Crônica – Álcool

25 de setembro de 2019, 13:53

Por Marcelo Rodrigues –

Preciso de álcool. Tento às vezes me convencer de que não é necessário,mas preciso.Começo a admitir uma impossibilidade de vida sem ele.O mundo e as pessoas se tornam melhores, depois que bebo.Até o meu corpo,que normalmente sente enjoos, fica mais leve.

Com o álcool, eu me sinto bem, porque me nasce uma boa saudade de coisas que ainda não conheci. De pessoas diferentes e outros países.Nos meus delírios de ébrio,tenho a ousadia de querer viver no México, em Medelim ou na fria Ucrânia. Imagino que esses lugares farão uma revolução na minha alma, pois neles se falam outras línguas e há mulheres como nunca vi.Com o álcool, imagino que ainda vou viver tudo isso.

O mais certo, porém, é que nunca saia da minha pequena cidade e que, depois de alguns anos, me levem para o “Pau Ferro”, o distante e isolado cemitério onde a minha mãe está enterrada, e onde preparei mais um lugar.Talvez escrevam na minha lápide,como uma verdade ou uma ironia: “sonhava em conhecer o mundo.Hoje, porém, vive em Deus e conhece o Universo inteiro.

Por isso o álcool. Ele nos faz suportar a certeza de que jamais cruzaremos o portão do jardim, e que é somente no bar que estão as cidades por conhecer, as pessoas pra conversar, todos os dias, até o fim dos sonhos, até o fim da gente.

Marcelo Rodrigues é colaborador do Notícia Limpa

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