Bispo e padres são presos acusados de desviar R$ 1 milhão em Goiás
19 de março de 2018, 15:50
Promotores e policiais cumprem mandados em Formosa (GO)
O bispo de Formosa (GO), José Ronaldo Ribeiro, o vigário geral e outros quatro padres foram presos na manhã desta segunda-feira (19) suspeitos de desvio anual de R$ 1 milhão da diocese de Goiás, aponta investigação do MP (Ministério Público) do Estado.
Parte do dinheiro foi usada, segundo a investigação, na compra de uma fazenda de gado e uma casa lotérica na cidade de Posse, também no interior de Goiás. As propriedades foram colocadas em nomes de laranjas.
Policiais civis cumpriram 13 mandados de prisão e dez de busca e apreensão nas cidades de Formosa, Posse e Planaltina. Entre os locais de busca encontra-se um mosteiro, além das casas dos suspeitos. O nome dado à Operação foi o de Caifás –de acordo com o Evangelho, ele foi o sacerdote que entregou Jesus Cristo a Pôncio Pilatos.
Foram apreendidos uma quantidade ainda não contabilizada de dinheiro, aparelhos eletrônicos, notas promissórias e documentos contábeis da diocese. Contas bancárias dos suspeitos foram bloqueadas, por decisão da Justiça goiana.
Investigação começou com denúncias de fiéis
A investigação foi iniciada em 2015 pelo MP-GO a pedido de 30 “leigos católicos apostólicos” que denunciaram irregularidades e uso indevido de bens da Igreja Católica por parte da direção da Cúria Diocesana de Formosa.
“A região da diocese engloba 33 igrejas em 20 paróquias. Por ano, são arrecadados cerca de R$ 17 milhões por meio de dízimos, doações e faturamento de festas realizadas de fiéis, além de taxas aplicadas para cerimônias de batismo e casamento”, informou o promotor de Justiça Douglas Chegury, responsável pela investigação.
“Deste total, cerca de 10% era repassado à Cúria Diocesana, o órgão máximo da diocese. A investigação descobriu que esse dinheiro era desviado pelo bispo e outros padres em benefício próprio”, diz o promotor. “O montante desviado chega a R$ 1 milhão por ano”, acrescenta o promotor.
A apuração descobriu, por meio quebra de sigilos telefônicos e bancários dos investigados, que somente um padre investigado tinha saldo de R$ 400 mil em sua conta bancária. “Carros da arquidiocese também eram desviados proveito próprio dos investigados”, afirma Chegury.
Bispo negou irregularidades
Entre os presos, além do bispo, estão o vigário geral, monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, e os padres Moacyr Santana, Mário Vieira de Brito, Waldson José de Melo.
“De modo mais incisivo, são inúmeros os diálogos transcritos a partir das interceptações telefônicas em que apontam a possibilidade de que os clérigos José Ronaldo, Epitácio, Moacyr, Mário e Waldson estejam a desviar vultuosas quantias que podem ter servido para aquisição de uma propriedade rural no município de Posse com criação de gado e de uma casa lotérica (também em Pose), além de despesas de cunho exclusivamente pessoa diretamente pelo bispo arcadas pela instituição”, afirma o juiz da 2º Vara Criminal de Formosa, Fernando Oliveira Samuel, em sua decisão que decreta a prisão temporária dos investigados. De acordo com a legislação, a prisão temporária vale por cinco dias.
Quando veio a público as denúncias dos fiéis, o bispo José Ronaldo Ribeiro negou que tenha cometido irregularidades.
“Não tem nada de impropriedade. Não toco nos repasses financeiros das paróquias que são destinados à manutenção das necessidades da diocese, casa do clero, seminário, estrutura da cúria e funcionários, por exemplo”, disse o bispo.
O UOL telefonou nesta manhã de segunda para a diocese de Formosa, mas ninguém atendeu as ligações. A reportagem ainda não conseguiu o contato com a defesa dos investigados.
Pressão sobre testemunhas
Quando as denúncias dos fiéis vieram à tona, o bispo Ribeiro convocou um padre de sua confiança, que tinha as funções de juiz eclesiástico, com o objetivo de intimidar testemunhas, afirma o MP-GO.
“Esse juiz eclesiástico pressionou os padres para que nada fosse relevado e eles jurassem fidelidade ao padre. O bispo e o juiz eclesiástico, com a ajuda de um advogado, elaboraram um relatório falso no qual se afirma que as despesas da arquidiocese são menores do que de fato são”, diz o promotor Chegury.
O esquema contava ainda com a ajuda de funcionários da arquidiocese que providenciavam falsa documentação para dar respaldo aos desvios.
“Consta que Darcivan da Conceição, em declarações dele próprio aos promotores de Justiça, seria o contador da Cúria e conhece os problemas ligados à regularidade dessas finanças e, mesmo tento a plena ciência de incoerências, aprovava essas contas anualmente”, afirma o juiz Samuel.
“Nelas, disse por várias vezes do resultado contábil que alcançava saldo positivo –ou seja, os documentos apontavam sobras de recursos na Cúria e em algumas paróquias –mas que os responsáveis diziam que não tinham esse valor (estaria zerado). Então, ele providenciava a documentação necessária para dar respaldo nas finanças (por meio de “declaração”), mesmo ciente que formalmente não tinha sido a realidade contábil”, acrescenta o magistrado.
Fonte: UOL
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