A educação de hoje reforça a tese da ‘ditadura escolar’ vivida por alunos no governo militar

01 de novembro de 2024, 14:39

Esta é uma sala de teatro de uma escola pública das inúmeras existentes atualmente na Bahia (Foto: Gervásio Lima)

*Por Gervásio Lima –

O ano era 1982, o Brasil vivia a ditadura militar, regime instaurado após o golpe de 1964, quando a caserna alegou a necessidade da restauração da disciplina e da hierarquia nas Forças Armadas, mas precisamente a de deter a “ameaça comunista” que segundo ela pairava no país.

Ao contrário do que se pregava, este período (1964 – 1985) foi marcado por prisões, torturas e outras violências e atrocidades, com crimes das mais diversas tipificações.

Naquele momento, até março de 1983, o Estado da Bahia era governado pelo agora falecido Antônio Carlos Magalhães, conhecido pela alcunha de ‘ACM’, nomeado pelo regime militar.

A escola era a Reunidas Luís Anselmo da Fonseca, primeira escola primária da região de Jacobina, inaugurada em 1935. 47 anos após a sua pomposa entrega, um dos seus alunos, um garoto de origem pobre, assim como a maioria de seus colegas, tinha como assentos em sua sala de aula carteiras reminiscentes da época da inauguração. Materiais escolares eram um caderno de brochura e um lápis com uma borracha de um frasco conta gotas utilizada como ‘apagador’. O seu lanche, quando oferecido pela escola, era alguns biscoitos com ‘sabor vencido’ e um copo com uma mistura que lembrava um achocolatado.

O patriotismo é uma das principais lembranças. Mesmo sem o mínimo de ‘conforto educacional’, o canto do Hino Nacional era a primeira e obrigatória tarefa do dia.

O ano é 2024, alunos de escolas públicas estudam em estabelecimento com salas climatizadas, piscina, teatro, ginásio de esportes, pista de atletismo, restaurante com refeições acompanhadas por nutricionistas e servidas quatro vezes ao dia.

Transporte escolar, fardamento, materiais didáticos e oportunidades de apresentar seus talentos artísticos, esportivos e pedagógicos através dos inúmeros programas e projetos disponibilizados em unidades escolares.

Ah, tem também o ENEM. Vai prestar o Exame Nacional do Ensino Médio? Se preocupa não, o Governo da Bahia oferece inscrição gratuita, transporte, lanches, garrafinha para água e até mesmo camisas para os alunos nos dias das provas.

E o garoto das Reunidas? Com as implantações e extensões de novas universidades públicas no Estado conseguiu um feito, que em um não muito distante momento sombrio conseguiria, o de concluir um curso de nível superior para contar História.

*Jornalista e Historiador

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