Setor da construção critica redução de crédito para imóveis usados
02 de outubro de 2017, 12:17
A entrada em vigor, na última segunda-feira, 25, da redução do financiamento de imóveis usados pela Caixa Econômica Federal (CEF) para o máximo de 50% do valor deve agravar ainda mais a crise na construção civil, segundo avaliam as lideranças do setor imobiliário. A mudança aconteceu uma semana após a divulgação de um relatório do Banco Central do Brasil que aponta retração de 5,2% no ramo, mais do dobro do que era previsto.
A medida foi anunciada como uma forma de incentivar a venda de imóveis novos, mas foi recebida com ceticismo pelos agentes do mercado porque reduz o poder de compra da classe média.
“Muita gente que pensa em comprar um imóvel novo precisa vender o que tem”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon), Carlos Henrique Passos.
O economista Edísio Freire destaca que alterações nos limites de financiamento são usuais, a depender do contexto econômico. “Era 70%, depois subiu para 90%, voltou a 70% e agora caiu de novo. desta vez há o componente da limitação de crédito”, explica o economista, ressaltando que a Caixa Econômica Federal reduziu bastante os recursos disponíveis para crédito imobiliário nos últimos meses.
Freire destaca que, com menos recursos, o banco adota claramente uma estratégia de diminuição dos riscos. “Há diferentes formas de diminuir o crédito, inclusive a elevação dos juros, que seria inapropriada neste momento. O banco optou por diminuir o teto de financiamento, o que aponta para uma minimização dos riscos”, afirma.
Somente com o pagamento das contas inativas do FGTS, a Caixa abriu mão de mais de R$ 43 bilhões. Quantia equivalente ao financiamento de 286 mil apartamentos de R$ 300 mil (preço de um dois quartos no Stiep), levando em conta que a Caixa financia apenas a metade do valor do imóvel. Para se ter uma ideia, o orçamento da CEF previsto para este ano, para toda a carteira imobiliária, é de R$ 84 bilhões, segundo informações fornecidas pela assessoria de imprensa do banco.
“Depois da queda, o coice”
A sequência de notícias ruins para o setor imobiliário e de construção civil foi um balde de água fria nas expectativas de quem contava com o começo de uma recuperação, após uma crise iniciada em 2014. “Depois da queda, o coice”, reclama Passos, referindo-se à nova medida de restrição ao crédito.
Se a mudança nas regras do crédito imobiliário já haviam sido anunciadas, o relatório do Banco Central pegou o setor de surpresa. E o economista Luiz Fernando Mendes, da Câmara Brasileira da Indústria Construção (Cbic), foi um dos que se assustaram com os números. “A previsão era de uma retração de 2,1%, mas acabou sendo de 5,2%. Quase o triplo”, queixa-se Mendes.
O economista concorda que a ideia do governo deve ter sido a de se priorizar a comercialização de imóveis novos, mas declara-se incrédulo de que isso vá acontecer de fato. “A maioria das pessoas vende um imóvel para comprar outro”, afirma.
A visão dos líderes do setor é que a construção civil caminha num sentido oposto aos outros setores da economia, como agronegócio e exportações, que têm sustentado o pouco crescimento do PIB.
“Vivemos um momento de profunda fragilidade, nossas empresas estão no limite da sobrevivência e é preciso reverter isso”, declarou em nota à imprensa o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).
Passos, do Sinduscon, destaca que o país está passando por um cenário de forte restrição de recursos e cortes de gastos. “Os investimentos do governo em obras públicas, como o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e os projetos do Programação de Aceleração do Crescimento (PAC), sofreram reduções drásticas, e as obras privadas que ainda restam estão em fase final, ou seja, sem obras não temos empregos nem desenvolvimento. O setor da construção civil precisa de estímulo e investimento para sobreviver”, afirma.
Fonte: A tarde
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