Especialistas entendem a birra na infância como fase da aprendizagem
02 de outubro de 2017, 12:04
Seja por birra ou drama, os pais possuem dificuldades em lidar com os filhos na infância e, por vezes, se culpam pelo mau comportamento. Porém, os especialistas afirmam que é um processo natural de aprendizagem e que não significa, necessariamente, falta de educação.
Para o neurologista Antônio Andrade, o neocórtex– área responsável por cerca de 80% do cérebro –, não está totalmente desenvolvido na infância, o que gera consequências psíquicas e emocionais no comportamento. “As estruturas moduladoras ainda não estão formadas. O sistema lírico, que é o das emoções, ainda está em constituição” afirma.
Segundo a psicóloga Tatiana Pedreira, a birra faz parte do amadurecimento e deve ser lidado de uma forma cuidadosa. Ela afirma que algumas ações podem ser tomadas para enfrentar a situação.
Reação
“Em primeiro lugar, o acolhimento. Não deixar a criança sofrer sozinha ou punir como forma de solução. Tratar com sensibilidade e demonstrar entendimento das dificuldades emocionais que elas estão submetidas é importante. Além disso, ajudá-las a nomear o que sentem, expressar a raiva de forma adequada e estabelecer um limite amoroso é fundamental” explica.
Mãe do Nicolas Santos, 4, Angelita de Souza, 42, afirma que tem dificuldades em lidar com os “dramas”. “Meu filho tem uma personalidade forte, se eu bater fica pior. Tento ser flexível, já outras vezes, é preciso ser mais dura. A abordagem é relativa. Também tento entender e me colocar no lugar dele”.
Ainda segundo a psicóloga, até os quatro anos a criança não possui amadurecimento psíquico e isso gera alguns comportamentos desenfreados. Por isso a ajuda do adulto é tão importante para tranquilizar e educá-las a controlar e direcionar as emoções para objetos seguros, e não descarregar nas pessoas ao redor.
“Depois dos sete anos, ela pode ser usada como recurso manipulativo, o que significa algum erro na educação emocional durante a primeira infância” pontua.
Casados há 13 anos, a enfermeira Milena Fonseca, 31, e o funcionário público Allan Lima, 36, conduzem a situação com o filho Mateus Gabriel, 7, entre a repreensão, a conversa e o entendimento da realidade.
“A conversa é importante, mas às vezes é preciso ser mais firme. Cortamos alguns benefícios como brinquedos e televisão. Já levei a abrigos para doarmos brinquedos e mostrar a ele a vida real. Muitas vezes pecamos por querer dar ao filho tudo o que não tivemos” afirma Milena.
Allan destaca que trata os casos de birra conforme a situação: “Reclamamos quando temos que reclamar e conversamos quando for o caso. Tento frear a birra mostrando que tudo tem preço”.
A psicóloga Caroline Severo destaca a fase na qual as necessidades são supridas e quando começam os limites estabelecidos pelos pais: “A birra é uma reação ao limite, que é algo novo e não precisa ser construído de forma autoritária, mas estabelecido de forma amorosa e clara em uma relação entre aquilo que ela quer e o que pode”.
Severo também afirma que a criança precisa passar pelo processo de amadurecimento para que isso não reverbere mais intensamente na adolescência e na vida adulta: “É papel dos pais discutir e mostrar a importância disso, ainda que elas não entendam no momento”.
Fonte: A tarde
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