Trigo transgênico nocivo à saúde pode ser liberado no Brasil nesta semana

07 de junho de 2021, 07:20

As substâncias podem causar danos genéticos e levar até a mutações das células. (Foto: Reprodução)

Na próxima quinta-feira, 10, as portas brasileiras poderão se abrir para um novo morador e esta é uma péssima notícia. O trigo HB4 será inicialmente produzido na Argentina, caso o Brasil se torne seu comprador. As sementes foram geneticamente modificadas para que sejam resistentes à seca, segundo seus criadores. O problema é que ele é igualmente receptivo ao glufosinato de amônio, um agrotóxico 15 vezes mais tóxico do que o glifosato, proibido na União Europeia por ser bastante nocivo à saúde e muito consumido por aqui. As substâncias podem causar danos genéticos e levar até a mutações das células.

O órgão responsável por acolher ou não o estrangeiro polêmico é a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, CTNBio, que integra o Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações, MCTIC.  De acordo com o Sindicato das Indústrias de Trigo, Sinditrigo, no ano passado, 74% do trigo importado pelo Brasil partiu da Argentina. Portanto, caso a decisão seja favorável ao novo alimento, os produtos feitos com ele estarão em boa parte dos lares do País.    

A criação do novo trigo foi aprovada na Argentina em outubro do ano passado, mas a sua produção e comercialização estão condicionadas à aprovação brasileira, que irá comprar a maior parte das sementes. Caso a resposta seja favorável, também irá liberar sua comercialização para outros países, como a Indonésia. O HB4 logo encontrou resistência de ambientalistas, representantes da indústria local de alimentos e da população, que se uniram por meio da Campanha “Con Nuestro Pan No!”. 

Entre as dezenas de argumentos elencados pelos argentinos contrários ao trigo novo estão, claro, os malefícios à saúde e ao meio ambiente do agrotóxico que poderá ser usado na sua produção; a ausência de testes conclusivos que comprovem a segurança da ingestão a curto, médio e longo prazo; a falta de uma identificação na embalagem dos produtos feitos com ingredientes transgênicos, para que os consumidores tenham consciência do que estão comprando; e a facilidade do novo trigo de se misturar com os antigos, por meio da polinização cruzada, fazendo com que, em poucos anos, se torne impossível identificar quais são naturais e quais são os geneticamente modificados.  

Parte dos brasileiros já está atenta à novidade e se declarou contrária a ela. Pesquisa feita pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo, Abitrigo, revela que 85% dos moageiros entrevistados no País se recusam a utilizar o trigo transgênico HB4 e 90% deles poderão até romper com os atuais fornecedores argentinos, caso ele seja comercializado. 

“Con Nuestro Pan No!” encontrou eco por aqui e se transformou no manifesto “No nosso pão, não!”. A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, junto a várias outras organizações, estão coletando assinaturas, que serão enviadas  à CTNBio e ao Ministério Público Federal antes da votação. O documento já tem quase 200 assinaturas de entidades, que vão desde movimentos sociais e científicos, até padarias e associações da indústria de pães.

Estadão

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