Por que não há carros de passeio com motor a diesel no Brasil?

02 de agosto de 2021, 16:08

Motor 2.0 Multijet é exceção ao equipar Jeep Renegade, Jeep Compass e Fiat Toro Fernando Pires/Quatro Rodas (Foto: Reprodução)

A venda de carros de passeio a diesel é proibida por lei no Brasil desde 1976 a partir da edição da Portaria MIC 346, pelo Ministério da Indústria e Comércio. A lei foi criada por conta da crise mundial de combustíveis e pela poluição gerada pelo enxofre presente no diesel na época, quando o País precisava importar 78% do petróleo consumido.

O Brasil é o único país do mundo que tem uma lei do tipo, embora esta restrição já exista em algumas cidades europeias.

Atualmente, segundo o engenheiro Everton Lopes, da SAE Brasil, os motores poluem pouco por conta do aprimoramento do combustível, que tornou os veículos cerca de 30% mais econômicos em relação aos modelos a gasolina, além de entregar mais torque em baixa rotação.

Mesmo com a melhora, no Brasil o diesel é utilizado de forma prioritária no transporte, visto que o modal rodoviário é o principal meio de escoar produtos em nosso país, portanto proteger essa energia para esse modal é uma questão de segurança econômica para o Brasil.

Hoje, somente caminhões, ônibus, picapes com carga útil superior a 1.000 kg e utilitários com tração 4×4 e reduzida (ou primeira marcha mais curta, como nos Jeep Renegade e Compass) podem usar esses motores.

Houve repetidas tentativas de derrubar esse veto, mas sempre surgia algum argumento como a questão ambiental, pois no passado o diesel emitia muito material particulado prejudicial para a saúde humana. Porém com a criação do diesel S10, que tem baixo teor de enxofre em sua composição, esse argumento não faz mais sentido.

A redução de enxofre, que é o principal responsável pela emissão de material particulado, foi expressiva. Em 20 anos passou de 13 000 ppm (partes por milhão) para 10 ppm.

Europa segue caminho contrário

O escândalo de fraude de emissões, que explodiu nas mãos da Volkswagen em 2015, o Dieselgate, se alastrou por outras fabricantes, fez a Europa desistir dos motores a diesel.

Havia um software que alterava o nível de emissões nos motores EA189 quando detectava uma situação de teste. As emissões eram até 40x menores do que em condições normais. 

A Europa apostou forte nos motores diesel nas últimas décadas. De 10% em 1995, passaram a representar 60% das a venda de carros em 2011. Hoje, com maior oferta de carros híbridos (elétrico-gasolina) e menor oferta de motores diesel, os carros a gasolina já são os que mais vendem na Europa.

Tudo indica que essa tendência continuará. Existe a desconfiança do consumidor, que pode gastar 10% menos em um carro a gasolina com motor turbo com injeção direta que entrega força e eficiência semelhantes, além da iminente eletrificação dos carros vendidos no Velho Continente, que tende a não ter carros novos com motor a combustão a partir de 2040.

No final das contas, o Brasil pode ter antecipado uma tendência em décadas.

Revista Quatro Rodas

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