“O evento foi climático, mas a tragédia é política”

14 de maio de 2024, 09:58

(Foto: INMET / Reprodução)

*Américo Oliveira Júnior –

Nos últimos 5 anos presenciamos o acirramento do embate entre as forças políticas de extrema direita, e a ala progressista. A extrema direita com a opacidade que lhe é peculiar, conseguiu transformar todo um debate que é sério e benéfico para a sociedade, inclusive o que fala sobre o meio ambiente, num verdadeiro FEBEAPÁ.

A tragedia – a segunda em 6 meses – que assolou o Estado do Rio Grande do Sul, causando até agora 143 mortes e 125 desaparecidos num total de 272 pessoas, demonstra que o aquecimento global não é coisa de comunista e nem é brincadeira.

Assim que assumiu o governo gaúcho em 2019, Eduardo Leite apoiado maciçamente pelo bolsonarismo gaúcho, permitiu que as leis ambientais do Estado fossem flexibilizadas, isso causou uma alteração em quase 500 pontos que eram de suma importância na proteção ao meio ambiente.

Um projeto que demorou apenas 75 dias para ser elaborado e aprovado e que só não transcorreu em menos tempo por causa de uma medida judicial que impediu o caráter de urgência.

A atitude do governo não respeitou sequer uma das grandes autoridades em ecologia no país, José Lutzemberg, responsável inclusive pela criação da AGAPAN ( associação gaúcha de proteção ao ambiente natural) que a época era presidida por Francisco Milanez.

Segundo o próprio Milanez à época das mudanças do código ambiental, “seria um retrocesso de 40 anos, uma proposta destruidora e prostituinte”, ele ainda considerou irônico que “o Estado do Rio Grande do Sul, pioneiro na luta ambiental no Brasil, primeiro com Henrique Roessler nos anos 50 e com Lutzemberger nos anos 70, enveredasse pelo caminho inverso”.

Uma das mudanças é “A supressão de todo financiamento financeiro vindo do Estado, até mesmo para as pesquisas e centros de pesquisas, manutenção de ecossistemas, racionalização do aproveitamento da água e energia, entre outras tantas”. Notemos que esta é uma pratica bem usual dos governos extremistas que não valorizam o investimento na ciência através do financiamento público, jogando esta responsabilidade nas mãos da iniciativa privada, seus principais cafetões políticos.

Diante de todo este contexto previsivelmente trágico, nos cabe avaliar se mais este desastre não poderia ter os seus danos minorados se houvesse por parte da gestão estadual um respeito pelo que fora acordado na lei ambiental lá nos anos 2000.

Mas seria muito exigir de um grupo criado para remar contra a maré da tal “esquerda comunista”, um pensamento que trouxesse vaga lembrança do coletivismo.   As ondas de negacionismo vacinal e ambiental, as Fake News que até hoje pululam nas redes sociais como se fossem pragas numa lavoura, transformaram-se no prato principal da extrema direita bem representada aqui no Brasil pelo bolsonarismo, seu fiel correspondente.

“O evento foi climático, mas a tragédia é política” – Milton Ribeiro

*Historiador