Desafio da imprensa é aproveitar tecnologia para se aliar ao público, dizem especialistas

09 de outubro de 2020, 14:13

(Foto: Reprodução)

Para pesquisadores e jornalistas que participaram do seminário online “imprensa, tecnologia  e o futuro do jornalismo’ nesta sexta-feira, 9, um dos desafios atuais da mídia é aproveitar a tecnologia para se aproximar do público e entendê-lo como um parceiro. Esta seria, afirmam, uma saída para o fortalecimento da imprensa e o combate às fake news.

“É vital que o público tenha um papel ativo na tentativa de entender o mundo. Isso sugere que as pessoas não sejam alimentadas com respostas. O público não quer respostas, quer um papel ativo”, afirmou o jornalista Rodrigo Lara Mesquita, acionista do Grupo Estado e que já foi editor-chefe do Jornal da Tarde e diretor da Agência Estado. “O público deve participar das formulações das questões e do debate de assuntos de importância, sejam locais, internacionais ou de interesse específico na atualidade. Os novos jornais vão assumir o público como parceiros.”

Para Mesquita, a internet é o caminho para esta “aliança” entre público e mídia. “A atividade dos jornalistas depende de suas conexões com as pessoas, com o público. A imprensa precisa se adaptar à sociedade em rede se quiser refleti-la.

O evento que teve apoio e foi transmitido pelo Estadão marcou a inauguração da Cátedra Oscar Sala, iniciativa conjunta do Instituto de Estudos Avançados da USP e do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br.), no âmbito de convênio firmado entre a universidade e o Comitê Gestor da Internet (CGI).

“Houve uma entrada maciça de novos usuários na redes, aí nem sempre (o diálogo) se dá de forma civilizada e organizada”, afirmou Demi Getschko, diretor-presidente do NIC, ao comentar os desafios do debate no ambiente online. “Sou um otimista. Devemos acreditar que a internet vai melhorar as coisas, inclusive o ser humano.”

Ex-diretor executivo do Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e convidado especial do evento, Walter Bender falou sobre a imprensa nos Estados Unidos e afirmou que o desafio de enfrentar as fake news não é algo recente. “Há 200 anos já tínhamos fake news nos Estados Unidos. Thomas Jefferson e John Adams (candidatos na eleição presidencial de 1800) estavam na época em uma campanha agressiva. Os dois usaram a mídia impressa para publicar fake news e atacar um ao outro.”

Para Bianca Santana, da Uneafro e do Instituto Peregum, discutir o futuro da mídia é também repensar processos históricos de exclusão e de invisibilidade. “De que notícias estamos falando? Que público é esse e que jornalista é esse?”, questionou. “A imprensa negra praticamente desapareceu na metade do século 20 e agora está sendo retomada. No jornalismo hegemônico, as pessoas negras não existem, nem como jornalistas nem como público, somente às vezes como objeto de notícia.”

ornalista Caio Túlio Costa, fundador do Torabit, vê uma necessidade de reinvenção. “A indústria de comunicação tradicional precisa se reinventar. Não adianta transpor para o digital o seu modelo de negócio antigo. No digital, a cadeira de valor é outra, é diferente. As empresas não têm tido a preocupação de se desenvolver do ponto de vista de tecnologia.”

Transformação. O Estadãolançou em setembro a campanha “Vem Pensar com a Gente”, um convite ao leitor para debater temas essenciais para o desenvolvimento do País, como a chamada Retomada Verde. Parte do reposicionamento de marca do jornal, a campanha vem para enfatizar a qualidade do jornalismo multiplataforma produzido na casa – um jornal de 145 anos que se adaptou completamente às mídias digitais. É também uma defesa da liberdade de pensamento em uma democracia.

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