Dê poder ao homem e descobrirá quem ele é

15 de fevereiro de 2024, 16:54

(Foto: Gervásio Lima)

*Por Gervásio Lima

A expressão atribuída ao filósofo Nicolau Maquiavel, que viveu entre os séculos XV e XVI, “Dê poder ao homem e descobrirá quem ele é”, talvez seja uma das frases mais usadas para demonstrar insatisfação com comportamentos de determinados elementos, após uma ascensão, principalmente política.

Maquiavel, no uso catedrático das palavras, economizou adjetivos para se referir ao sujeito mau caráter, dissimulado e mentiroso; o tipo que se esconde atrás de um modo próprio, intrínseco, de nascença, sempre que lhe é conveniente.

Seria muita ousadia discordar do fundador do pensamento da política moderna, já  que, como ninguém, escreveu sobre o Estado e o governo como realmente são, e não como deveriam ser. Mas, como diz o ditado popular, ‘meia palavra basta’, o poder é apenas uma das desculpas para as ações inconcebíveis e abomináveis, às vezes covardes, de lobos que se comportam como cordeiros.

A incompetência está para o arrogante e o vaidoso, assim como a verdadeira humildade está para a pessoa digna e decente. Aliás, como os bobos da corte, que viviam de fazer gracejos para os ricos rirem, desde o Egito Antigo; muitos, ainda hoje, confundem situação financeira com ombridade.

Presumivelmente, os palhaços da corte atuavam pela sobrevivência, no papel de um verdadeiro artista e não como chacoteiros. Naquela época, pela dificuldade do acesso ao livro, e consequentemente à leitura, o conhecimento era limitado, quiçá impossível, para grande parte da população, fato que pode explicar as submissões. No Brasil escravista,  por exemplo, logo ali no século XIX (o século atual é XXI), os malês, negros mulçumanos, eram muitas vezes mais instruídos que seus senhores, e, apesar da condição de escravos, não eram submissos, mas muito altivos, graças ao conhecimento adquirido por meio da leitura.

Recorrendo a mais um ditado popular, ‘o mal do sabido é pensar que todo mundo é besta’. É bom sempre lembrar que, assim como o poder, o status é passageiro. O hoje, amanhã já é passado.

Se o boi tivesse noção do seu tamanho e de sua força, com certeza não seria guiado por um carroceiro.

*Jornalista e historiador

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