COSME & DAMIÃO: A FESTA DO CARURU

29 de setembro de 2020, 08:32

Apesar de ter vivido na infância numa cidade de muita religiosidade como Juazeiro do Norte, com suas muitas igrejas, e de ter estudado no seminário dos franciscanos, nunca ouvi falar de nenhuma festa comemorativa em homenagem a dupla de santos São Cosme e São Damião, no Cariri.

No seminário, dentro da hagiografia católica, li de passagem um breve resumo da vida destes santos gêmeos, ambos médicos, oriundos da Ásia Menor, talvez de algum lugar dentro da atual Turquia. Mais tarde, numa coleção de biografias de santos em quadrinhos, aprendi um pouco mais sobre eles. Porém, só depois que vim morar na Bahia foi que entendi tanta devoção por eles. Por aqui comemora-se o Dia de Cosme e Damião nos dia 26 de setembro para os católicos e no dia 27 de para os adeptos do candomblé e umbanda, onde são conhecidos também como os orixás Ibejis, filhos gêmeos de Xangô e Iansã. Os devotos e simpatizantes têm o costume de fazer caruru, uma comida típica da tradição afro-brasileira, chamado também de “caruru dos santos” e “caruru dos sete meninos” porque representa os sete irmãos Cosme, Damião, Dou, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi.

Na Igreja Ortodoxa, os santos são celebrados no dia 1º de novembro, sendo que os ortodoxos gregos comemoram em 1º de julho. Esses santos morreram por volta do ano 300 d.C. degolados, vítimas de uma perseguição do imperador romano Deocleciano.

São Cosme e São Damião também são considerados protetores dos gêmeos e das crianças. Por isso, as pessoas criaram o costume de distribuir docinhos para homenagear os santos ou cumprir promessas feitas a eles.Por outro lado, o termo “Cosme e Damião” teve forte conotação no meu de estudante em Recife, quando frequentava reuniões políticas e éramos perseguidos dentro da noite pela polícia do exército que fazia varredura na área evacuada e depois deixava por conta da polícia estadual, uma dupla de soldados denominada “Cosme e Damião”, escolhidos entre os policiais mais altos, fortes e truculentos. Estes adoravam “descer o pau” em estudantes. Nunca apanhei, mas corri muito para não ser pego. Talvez este tenha sido meu prévio treinamento para tarde me tornar um atleta de corridas da aeronáutica.

A designação desse policiamento como “Cosme e Damião” surgiu na década de cinquenta no Rio de Janeiro e é mantida por tradição até os dias atuais. Em alguns Estados da Federação foram atribuidas outras denominações:

Na BMRS (Batalhão Militar do Rio Grande do Sul) se chamava “Pedro e Paulo”. Na Polícia Feminina da antiga Guarda Civil de São Paulo, a dupla feminina era conhecida por “Marta e Maria”. Na PMBA (Polícia Militar da Bahia) a dupla composta por um policial masculino e um feminino é chamada de Romeu e Julieta.

Hoje, pela força do movimento LGBTI, intersesexuais, transexuais, bissexuais, gays e lésbicas, que forem policiais, podem patrulhar em dupla com as denominações, além das citadas acima, “Romeu-Romeu”, “Julieta-Julieta”, ou serem indistitamente cognominadas com a antonomásia COSME E DAMIÃO.

Bora comer caruru com xinxim de galinha? Será o prato tradicional de hoje.

Por Montiez Rodrigues