Coronavírus pode ser a ‘doença X’ prevista por especialistas
24 de fevereiro de 2020, 15:31
A Organização Mundial da Saúde (OMS) havia alertado há anos sobre a possibilidade de uma pandemia causada por uma misteriosa "doença X". Características imprevisíveis do novo coronavírus sugerem que ele pode ser o patógeno previsto (Foto: Reprodução)
A doença causada pelo novo coronavírus, a COVID-19, pode ser a “doença X” prevista por especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) há alguns anos.
A capacidade do novo coronavírus de ser transmitido sem ser detectado, além da sua imprevisibilidade, uma vez que pode se tornar mortal a partir da segunda semana de incubação, sugerem que ele pode ser o patógeno previsto pela OMS.
“Quer seja contido ou não, esse surto está se tornando rapidamente o primeiro desafio pandêmico que realmente se encaixa na categoria da doença X”, disse Marion Koopmans, membro do comitê de emergência da OMS e diretora do Centro Médico Universitário Erasmus.
Em menos de três meses, o vírus infectou mais de 78 mil pessoas e matou mais de 2.300. Novos focos de transmissão na Coreia do Sul, Itália e Irã também contribuem para o alarme.
A doença até agora se espalhou para cerca de 30 países e territórios. Alguns dos infectados pegaram o vírus em sua comunidade local e não têm vínculos conhecidos com a China, de acordo com o Centro Nacional de Prevenção e Controle de Doenças Respiratórias dos EUA (CDC, na sigla em inglês).
O Centro afirma que ainda não foram registrados casos nos quais a propagação do vírus se dá sem que o origem do primeiro contágio seja identificada, mas alerta que “é possível, é até provável, que isso venha a ocorrer eventualmente “, disse Nancy Messonier, diretora do Centro, a repórteres.
Ao contrário da doença SARS, o vírus da COVID-19 se replica em altas concentrações no nariz e na garganta, o que pode ser facilmente confundido com um resfriado comum. Ao contrário da SARS, que foi contida graças aos dispositivos de checagem da temperatura corporal, que indicavam se um indivíduo apresentava febre, a COVID-19 pode ser transmitida por pessoas que não apresentem nenhum sintoma.
Transmissão incógnita
Casos como o da família chinesa da cidade de Anyang estão surpreendendo os especialistas. A família foi toda infectada após uma mulher de 20 anos trazer o vírus de Wuhan em 10 de janeiro e espalhá-lo sem apresentar nenhum sintoma da doença, reportou o Jornal da Associação Americana de Medicina. Cinco parentes desenvolveram febre e sintomas respiratórios.
A COVID-19 é menos mortal do que a SARS, que tinha uma taxa de mortalidade de 9,5%, apesar de aparentemente ser mais contagiosa. Ambos os vírus atacam o sistema respiratório e gastrointestinal, espalhando-se por essas vias.
Cerca de 80% dos pacientes infectados com o coronavírus apresentam sintomas leves da doença e muito provavelmente irão se curar. Além disso, somente 1 em 7 pessoas desenvolve pneumonia. Somente 5% dos pacientes desenvolvem sintomas graves, como falência do sistema respiratório, choque séptico e falência múltipla de órgãos.
“Ao contrário da SARS, a COVID-19 tem um espectro mais amplo de gravidade, que vai entre assintomática a ligeiramente sintomática até doença severa, demandando ventilação mecânica [do paciente]”, declararam especialistas de Cingapura no mesmo jornal.
“A progressão clínica da doença é similar à SARS: pacientes desenvolvem pneumonia entre a primeira e o início da segunda semana da doença”, explicaram.
Doença imprevisível
Os adultos mais velhos, especialmente aqueles com doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, estão entre o grupo de risco de desenvolvimento de sintomas severos da doença.
No entanto, “a experiência de Cingapura mostra que pacientes sem nenhuma condição mórbida significativa também podem desenvolver doença severa”, escreveram os especialistas.
Li Wenliang, o oftalmologista de 34 anos que foi um dos primeiros a alertar para os perigos da Covid-19, faleceu no início de fevereiro, após receber injeção de anticorpos, antivirais, antibióticos, oxigênio e de ser submetido ao uso de pulmão artificial.
O médico, que estava saudável até contrair o vírus, aparentava ter o quadro leve da doença, até que seus pulmões inflamaram, levando-o ao óbito dois dias depois, disse Linfa Wang, diretora do programa de doenças infecciosas da Universidade de Duke, em Cingapura.
Um padrão similar ao da COVID-19 foi observado naquele que sucumbiram à Gripe Espanhola, disse o especialista Gregory A. Poland.
“Sempre que temos uma infecção, ocorre uma batalha [no corpo”, disse Poland, que é professor emérito de farmacologia molecular e terapias experimentais da clínica Mayo, em Rochester, Minnesota, à Bloomberg.
“É uma batalha entre o dano que o vírus causa e o dano que o corpo pode causar enquanto tenta extirpá-lo”, disse.
Boas Festas!