POLÍTICA

Geddel está com depressão e tem medicação controlada na cadeia

10 de setembro de 2018, 08:29

O ex-ministro está preso na Papuda, em Brasília

A saúde de Geddel Vieira Lima (MDB) tem deixado a administração da penitenciária da Papuda, em Brasília, preocupada.

Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”, o ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Michel Temer está com depressão. Diante disso, administração penitenciária decidiu controlar os remédios de Geddel, temendo que ele tome uma overdose de medicamentos.

Vale lembrar que o ex-ministro está preso desde julho, em regime diferenciado, isolado numa cela com seis metros quadrados. Ele foi encarcerado após a polícia encontrar malas de dinheiro com R$ 51 milhões em um apartamento em Salvador, em setembro do ano passado. O dinheiro foi atribuído a Geddel.

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Cautela e caldo de galinha não fazem mal à ninguém

30 de agosto de 2018, 17:13

Foto: Reprodução

Por *Gervásio Lima – 

 

A capacidade de imaginação do ser humano é uma das principais características da inteligência da espécie. Chega a ser instigante e intrigante o poder de criação das pessoas, em todas as áreas do conhecimento. Mentes brilhantes contribuíram, têm contribuído e contribuirão para importantes transformações em todo o mundo, tanto do ponto de vista material quanto o imaterial, ajudando ou prejudicando os viventes.

Infelizmente são mais facilmente encontrados os chamados ‘mentes diabólicas’, que usam a inteligência para fazer ou promover o mal, com o propósito único de causar discórdia e a cólera, para como num sentimento de orgasmo sentir excitação do espírito pelas ríspidas e maléficas atitudes; de que os que procuram socializar os conhecimentos com o objetivo de ganhos coletivos. Uma sociedade justa está cada vez mais distante dos que buscam incessantemente o real e o verdadeiro conceito de vida, mesmo tendo provas e a certeza que o mal não vencerá o bem.

A boa e salutar disputa quando o mérito leva o melhor à vitória se confunde com o conflito, onde geralmente está em jogo a discussão, o choque e o enfrentamento nem sempre amigável entre as partes. As competições viraram sinônimo de confusões envolvendo os competidores e seus apoiadores, esses, na política, conhecidos carinhosamente por asseclas ou bajuladores. Geralmente o egoísmo e a vaidade predominam nas defesas das partes, enquanto a opinião e a razão são desprezadas ou ignoradas, muitas vezes sem direito de defesa.

O verdadeiro líder é aquele que respeita as diferenças e seus adversários, promovendo harmonia e buscando o consenso, para assim conquistar a confiança e ter o poder de influenciar o pensamento e o comportamento de outros indivíduos. Liderança não se compra e, para a infelicidade dos que desejam de qualquer maneira alcançar tal posição, também não se consegue com inverdades e perseguições, mesmo contra seus algozes.

O Brasil vive e respira mais um período eleitoral, momento democraticamente criado para a escolha dos seus representantes nos executivos e legislativos estadual e nacional. Foi dada a largada para a corrida mais importante do país; entre os competidores estão os candidatos a deputado, senador, governador e presidente da República. Já na torcida, no ‘corpo técnico’ e nos bastidores estão os eleitores como os principais protagonistas. A partir de agora é preciso muito cuidado na interpretação no que ouvir, ver ou ler, pois os persuasores de plantão estão travestidos de ‘bons samaritanos’ e de má fé podem induzir os incautos.

Aventurar ou atirar no escuro podem não ser a solução de problemas, ao contrário, servirão apenas como contribuições para a ampliação dos mesmos. A emoção, por mais marcante que seja, não pode jamais transpor a razão. Um erro não justifica o outro, por tanto se faz necessário muito cuidado pois cautela e caldo de galinha não fazem mal à ninguém.

 

Gervásio Lima.

Jornalista e historiador.

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Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade

23 de agosto de 2018, 11:43

Por Gervásio Lima  –  

A demora por tomadas de decisões afeta consideravelmente governos que possuem todas as prerrogativas para serem considerados de excelência. Já criar expectativa para outrem é uma falta séria de compromisso com a dignidade e o sentimento alheio. Não se promete o que não pode ser cumprido, isto é fato e, infelizmente, uma prerrogativa usada por poucos.

O Brasil que os brasileiros querem é utópico por conta do comportamento dos próprios brasileiros. Corruptores criticam corruptos e o que deveria ser uma obrigação é caracterizado de virtude, com a moral e a ética não sendo mais valores intrínsecos, passando a serem ‘princípios em extinção’.

Não basta apenas achar que o erro se encontra no outro sem antes se auto avaliar. Ao descobrir e corrigir suas falhas inevitavelmente mudará suas, até então, atitudes equivocadas. Enquanto isso não acontecer não será possível cobrar o que não contribuiu para se tornar realidade. É bom sempre lembrar que o bem é fruto de um conjunto de ações positivas e do envolvimento de todos que almejam o mesmo objetivo.

Nas gestões públicas a palavra ‘errar’ não deve se quer ser pronunciada, até porque, parafraseando o ditado popular, ‘errar é para humanos’. Conforme Paulo Daniel Barreto Lima, especialista em gestão pública, em seu livro “Gestão é a capacidade de fazer o que precisa ser feito” (2006), em uma gestão pública não se pode esquecer a capacidade de se atentar e permanecer no posicionamento da organização planejada, para que assim, a missão possa ser cumprida, que neste caso primordial é o desenvolvimento da cidade em benefício ao povo que nela reside. Lima ainda acredita que uma boa organização na gestão pública está relacionada à uma alta capacidade de gestão, que por sua vez, relaciona-se com a melhor relação entre recurso, ação e resultado”.

Em uma infeliz, mas real e cotidiana, inversão de valores, a crítica sobrepõe o elogio ao correto, principalmente quando se refere à política e aos políticos, assuntos na moda atualmente. Nunca na história deste país o provérbio, ‘o sujo falando do mal lavado’ esteve tão presente, sendo inclusive a frase mais coerente para o momento. É fácil condenar o outro pelos erros que também se comete.

Hipocrisias e falsos moralismos andam de mãos dadas e, o pior, são seguidos por uma legião que torce pelo quanto pior melhor. A mentira não é mais antagônica da verdade. Já dizia Joseph Goebbels, que foi ministro da Propaganda de Adolf Hitler na Alemanha Nazista, exercendo severo controle sobre as instituições educacionais e os meios de comunicação: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.

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Pesquisa: Lula lidera em SP com 21,8% das intenções de voto

08 de agosto de 2018, 13:18

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera a disputa nacional no Estado de São Paulo com 21,8% das intenções de voto no cenário em que o petista é listado como uma das opções, segundo a mais nova pesquisa realizada no Estado de São Paulo pelo instituto MDA em parceria com a Confederação Nacional do Transporte (CNT). Em segundo lugar, em situação de empate técnico, vem o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, 18,4%.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) aparece em terceiro colocado, também em situação de empate com Bolsonaro, com 14,0%. Logo atrás, vem Marina Silva (Rede), com 6,7% das preferências. Ciro Gomes (PDT) e Álvaro Dias completam os primeiro cinco colocados com 5,0% e 1,4, respectivamente. Manuela D’Ávila, que saiu da disputa, apareceu com 1,3%.

Brancos e nulos somaram 17,0%. Indecisos ficaram em 9,8%.

A pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte), em parceria com a MDA, sobre intenções de voto para presidente da República, governador e senador em São Paulo, está registrada no TSE sob o número SP-04729/2018. Foram realizadas 2.002 entrevistas, distribuídas em 75 municípios de todas as regiões do Estado, entre os dias 2 e 5 de agosto. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, considerando o nível de confiança de 95%. Com informações do Estadão Conteúdo.

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Confira o perfil do eleitor brasileiro para as eleições de 2018

08 de agosto de 2018, 08:52

Este ano, país terá 147.302.354 votantes, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral

O eleitorado brasileiro aumentou 3,14% nos últimos quatro anos, saltando de 142.822.046 votantes, em 2014, para 147.302.354 eleitores, divulgou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os eleitores estão distribuídos pelos 5.550 municípios e em 171 localidades de 110 países.

Há ainda 1.409.774 eleitores que não poderão votar nem se candidatar este ano, por estarem com os direitos políticos suspensos, segundo o tribunal. As informações são da Agência Brasil.

De acordo com o TSE, a maioria do eleitorado brasileiro é formada por mulheres, com 77.337.918 (52,5%), enquanto os homens somam 69.901.035 (47,5%). Em 2014, as mulheres eram 74.459.424 (52,13%) e os homens, 68.247.598 (47,79%).

Houve crescimento expressivo dos eleitores no exterior nos últimos quatro anos, passando de 354.184 para 500.727 eleitores, aumento de 41,37%.

Para o presidente do tribunal, Luiz Fux, esse aumento é resultado de um esforço conjunto entre a Justiça Eleitoral e o Ministério das Relações Exteriores para facilitar o cadastro de eleitores residentes em outros países.

Transexuais e travestis

Pela primeira vez, eleitores transexuais e travestis terão seu nome social impresso no título de eleitor e no caderno de votação das Eleições 2018. Ao todo, 6.280 pessoas fizeram essa escolha ao se registrar ou atualizar seus dados na Justiça Eleitoral.

Faixa etária

De acordo com o levantamento da Justiça Eleitoral, a faixa etária entre 45 e 59 anos concentra mais eleitores, com 35.742.439 brasileiros, o que corresponde a 24,26% do eleitorado. Em seguida, estão os eleitores de 25 a 34 anos, que reúnem 31.149.869 pessoas – 21,15% do total de eleitores.

Voto facultativo

Os jovens de 16 e 17 anos, cujo voto é opcional, representam 0,95% do eleitorado este ano, num total de 1.400.617 pessoas. Segundo o TSE, os dados apontam redução de 14,53% no número de eleitores jovens. Em 2014, foram registrados 1.638.751 eleitores nessa faixa etária.

Biometria

Em 2018, os eleitores que serão identificados por biometria aumentou 239,92% em relação a 2014. Este ano, eles somam 73.688.208 votantes (50,3%) do total. Em 2014, eram 21.677.955 pessoas, o que correspondia a 15,18% do eleitorado.

Fux avaliou o crescimento da identificação digital dos eleitores e a possibilidade de registro com o nome social de travestis e transexuais como avanços das eleições deste ano. Ele passará o comando do TSE no próximo dia 14 para a ministra Rosa Weber.

Grau de instrução

A maior parte do eleitorado tem ensino fundamental incompleto: são 38.063.892 eleitores, o que corresponde a 25,84% do eleitorado. Outros 33.676.853 (22,86%) afirmaram ter concluído o ensino médio. Os eleitores com ensino superior somam 13.576.117 cidadãos (16,88%).

Segundo o TSE, essas estatísticas devem ser vistas com relatividade, pois a informação reflete a escolaridade declarada pelo eleitor no momento do registro eleitoral ou da atualização de seus dados cadastrais.

Colégio eleitoral

O estado de São Paulo continua a ser o maior colégio eleitoral do país, com 33.040.411 votantes. Em seguida, vem Minas Gerais, com 15.700.966, e Rio de Janeiro, com 12.406.394.

Com 941 eleitores, a cidade de Serra da Saudade (MG) é o município com menos eleitores de acordo com TSE. Já São Paulo, com 9.052.724 eleitores, é o que tem mais pessoas aptas a votar.

Pessoas com deficiência

Ao todo, 940.613 eleitores declararam ter algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida. O prazo para solicitar transferência para uma seção com acesso facilitado termina em 23 de agosto.

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Collor volta a falar em pré-candidatura e que Lula é alvo de injustiça

12 de julho de 2018, 15:53

Ele avaliou que, mesmo preso, o petista tem o direito de gravar depoimentos para a campanha eleitoral –

Após seu partido afirmar que não lançaria candidatura à Presidência da República, o senador Fernando Collor (PTC-AL) voltou a falar que é pré-candidato ao Planalto. Em entrevista à rádio Guaíba, Collor também defendeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo que não há prova contra o petista e que ele, mesmo preso em Curitiba, tem o direito de gravar depoimentos para a campanha eleitoral.

“Todos sabem que eu não tenho procuração e sequer afinidade ideológica com o ex-presidente Lula em função do que eu vou dize. Mas… eu entendo que vêm sendo cometida enormes injustiças em relação ao ex-presidente Lula”, disse Collor.

Para ele, não há provas que o tríplex do Guarujá, pelo qual Lula foi condenado na Lava Jato, pertence realmente ao ex-presidente. “Ele foi submetido a uma pena de nove anos de detenção sem ter sido concedido a ele o direito à resposta a uma pergunta: onde está o documento que prova que o apartamento do Guarujá é de minha propriedade ou de alguém de minha família?”, declarou o senador. Ele destacou que o aumento da pena de Lula na segunda instância, para 12 anos, foi determinado sem “qualquer fato novo”.

Collor defendeu ainda que Lula possa se manifestar como pré-candidato e, após ser registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como candidato a presidente. “Poderia ser dada a ele a oportunidade de receber um advogado que grave uma declaração sua e que essa declaração possa ser divulgada.”

O senador disse não concordar, no entanto, com a tese do PT que Lula está sendo “perseguido” apenas por ser pré-candidato à Presidência. “Aí já acho que é uma viagem na maionese”, comentou.

Na entrevista, o parlamentar e ex-presidente da República fez fortes críticas à Operação Lava Jato, comparando a prática de firmar acordos de delação premiada com tortura. “É uma operação que ela, em si, tem os seus bons propósitos. Acontece que a execução dessa operação foi dada a pessoas imberbes, de calças curtas, que não têm ainda consciência da realidade que nos cerca, que não têm a experiência necessária para ponderar e avaliar que aquilo que chega para julgamento e, mais do que isso, que estão atraídas pelos holofotes da mídia.”

Falando de sua eleição, em 1989, Collor revelou que torceu para enfrentar o ex-presidente Lula no segundo turno, como ocorreu, e que não queria ir para a disputa contra Leonel Brizola. Pedindo, ao final da entrevista, para que a rádio tocasse a Quinta Sinfonia de Beethoven, o senador disse que sua proposta de governo será baseada no projeto que começou quando chegou ao Palácio do Planalto.

 

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Ibope: Lula segue na liderança, seguido por Bolsonaro, Marina e Ciro

28 de junho de 2018, 10:44

Levantamento ouviu dois mil eleitores, espalhados por 128 municípios, entre 21 e 24 de junho

O Ibope divulgou pesquisa eleitoral, nesta quinta-feira (28), sobre a intenção de voto dos brasileiros para a Presidência da República no primeiro turno. O levantamento ouviu dois mil eleitores, espalhados por 128 municípios, entre 21 e 24 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Foram apresentados dois cenários, com e sem o ex-presidente Lula na disputa. O petista está preso, desde o dia 7 de abril, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), onde cumpre pena de 12 anos e um mês, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, na operação Lava Jato.

Por ter sido condenado em segunda instância, ele foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa e dependerá da Corte Eleitoral para concorrer ao cargo.

Com Lula:

Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 33%

Jair Bolsonaro (PSL): 15%

Marina Silva (Rede): 7%

Ciro Gomes (PDT): 4%

Geraldo Alckmin (PSDB): 4%

Álvaro Dias (Podemos): 2%

Manuela D’Ávila (PC do B): 1%

Fernando Collor de Mello (PTC): 1%

Flávio Rocha (PRB): 1%

Levy Fidelix (PRTB): 1%

João Goulart Filho: 0

Outro com menos de 1%: 2%

Branco/nulo: 22%

Não sabe/não respondeu: 6%

Sem Lula:

Jair Bolsonaro (PSL): 17%

Marina Silva (Rede): 13%

Ciro Gomes (PDT): 8%

Geraldo Alckmin (PSDB): 6%

Álvaro Dias (Podemos): 3%

Fernando Collor de Mello (PTC): 2%

Fernando Haddad (PT): 2%

Flávio Rocha (PRB): 1%

Guilherme Boulos (PSOL): 1%

Henrique Meirelles (MDB): 1%

Levy Fidelix (PRTB): 1%

Manuela D’Ávila (PC do B): 1%

Rodrigo Maia (DEM): 1%

João Goulart Filho: 1%

Outro com menos de 1%: 1%

Branco/nulo: 33%

Não sabe/não respondeu: 8%

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Partidos pedem ao STF liberação de showmícios durante campanhas

28 de junho de 2018, 10:39

Objetivo não é tornar irrestrita a participação de músicos famosos durante os atos, mas sim de permitir que se engajem de forma gratuita

O PT, PSB e PSOL entraram com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que questiona a proibição de showmícios – apresentação de artistas durante os comícios -, em épocas de eleição.

O advogado Daniel Sarmento, que está à frente do processo, diz que o objetivo não é tornar irrestrita a participação de músicos famosos durante os atos, mas sim de não proibir a subida aos palanques daqueles que, de forma espontânea e gratuita, desejam se engajar.

“O argumento válido contra os showmícios é que, permitindo o pagamento de artistas pelos políticos, se aumente a influência do dinheiro nas eleições. Pode haver justificativa para proibir os shows pagos, mas nenhuma para proibir apresentações gratuitas”, defendeu ele.

Sarmente ainda pediu ao ministro Luiz Fux, relator da causa, que julgue monocraticamente o caso, que conta também com o apoio do movimento 342artes, articulado pela produtora Paula Lavigne, conforme revelou o colunista Ancelmo Gois.

O líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Chico Alencar, defende a alteração. “Não achamos que artista elege alguém, mas dá credibilidade. Não estamos pensando em nós, mas no resgate da política e no encanto por ela. É preciso reaprender a fazer política com arte, mas não a arte de roubar e mentir”, avalia.

A proibição de apresentações artísticas em atos de campanha passou a valer em 2006, em lei sancionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme lembra O Globo. O texto diz que é proibida “a realização de showmício de evento assemelhado para a promoção de candidatos, bem como a apresentação, remunerada ou não, de artistas com finalidade de animar comício e reunião eleitoral”.

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Waldir Pires: uma grandeza que deixa saudade

23 de junho de 2018, 11:37

Por Giorlando Lima – 

Sobre Waldir Pires, um homem da maior grandeza que eu conheci pessoalmente quando eu ainda morava em Jacobina, minha cidade natal, no longínquo ano de 1982, eu poderia republicar meu texto postado no Blog Notas da Bahia, em 31 de maio de 2010 – quando ele havia sido preterido pelo PT que hoje lhe presta homenagem, em favor de Walter Pinheiro, na campanha ao Senado. Mas, hoje Waldir nos deixou e eu, como milhares de outros baianos e brasileiros, desejo registrar meu lamento e reafirmar a minha admiração. Este ano morreram dois importantes políticos de Vitória da Conquista, Sebastião Castro e Coriolano Sales, e muitos amigos me disseram que eu tinha a obrigação de escrever sobre os dois. Não o fiz. Talvez ainda escreva. Mas, para não aumentar a minha dívida com meus poucos leitores, ponho neste pequeno texto algumas coisas a mais que eu não disse no artigo de 2010.

Em 1982, a ditadura militar autorizou as primeiras eleições diretas para governador nos estados. Ciente de que os quatro partidos de oposição (PMDB, PDT, PTB, PT) poderiam ganhar na maioria dos estados (o PMDB venceu em nove e o PDT em um), foi instituído um casuísmo para assegurar ao PDS a maioria dos votos, o denominado voto vinculado, logo apelidado pela população de “voto camarão”, porque o eleitor era obrigado a votar em todos os candidatos do mesmo partido, a partir do governador, que ficava no topo da lista, na cabeça, até o vereador. Waldir concorria ao Senado, junto com Luís Viana Filho (PDS) e Sérgio Guimarães (PT) e Viana venceu, com 60,9% dos votos. Waldir teve 38,16% (991.988 votos) e Sérgio 0,94%.

O candidato a governador da Bahia pelo PMDB foi Roberto Santos. Fui ao comício do partido em Jacobina. O que eu sabia de Waldir Pires era de uma parca leitura. Lembro que ele fez um discurso memorável, como lhe era característico. Vi-o, de longe, levantar a mão direita no ar, com os dedos abertos e falar sobre a importância da união em defesa da democracia, na luta por um país livre e igual. Eu disse a mim mesmo, ali, que se um dia eu me tornasse orador, queria falar como Waldir, mas sabia que não  conseguiria hipnotizar a plateia como ele fez comigo e com as milhares de pessoas que se juntavam em frente ao palanque montado na Praça Castro Alves, em um espaço recuado à esquerda e na frente da Igreja Matriz de Santo Antônio.

Viria reencontrar com Waldir Pires em Jequié, em ato da campanha de Tancredo Neves, que aconteceu pelo país, como se fosse uma eleição direta. Ele representava a si, a Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, que não foram, e a uma multidão na Praça Ruy Barbosa. Fui à Cidade Sol como repórter do jornal A Tarde, a partir da sucursal de Vitória da Conquista, e gravei o discurso de Waldir. Uma maravilhosa pérola que tenho até hoje em uma fita da minha coleção de K7. Era novembro de 1984.

Eu sou este rosto, o segundo da esquerda para a direita, na fila de jornalistas, em 1985. À nossa frente, Pedral, Waldir e Hélio Ribeiro (coçando os olhos)

No ano seguinte, já preparando a sua candidatura a governador, Waldir Pires esteve em Vitória da Conquista como ministro da Previdência. Estava em uma nova frente de batalha: reduzir o déficit da previdência, para o que fez todos os esforços, deixando claro que a fonte do problema não eram os trabalhadores, mas a sonegação. Isso foi há 33 anos. Se tivessem dado as condições que ele requereu para resolver o problema, não estaria o país hoje ainda sob essa nuvem assombrosa, que ameaça aposentadorias, esgarça popularidade de governos e não é uma coisa clara para ninguém. Quando veio a Conquista como ministro do governo Sarney (foi escolhido para o cargo por Tancredo Neves, logo depois da eleição pelo colégio eleitoral), Waldir recebeu a imprensa no gabinete do prefeito. Eu estava lá, mas a foto (acima) só mostra parte do meu rosto, a demonstrar meu olhar atento.

Waldir Pires e Pedral, em outubro de 1986. Expressões que demonstram o nível de amizade dos dois. (Foto: Acervo do BLOG)

Dois anos depois Waldir Pires era candidato a governador da Bahia, contra Josaphat Marinho. Teve sua campanha lançada em Conquista e tinha em José Pedral, prefeito do município, seu principal articulador, vindo a se tornar o coordenador-geral. Quando Waldir falou na Praça Barão do Rio Branco, até o bêbado (havia sempre um – pelo menos – nos comícios) se calou para ouvir. Naquela eleição, acompanhado Pedral, tive outras chances de ouvir o candidato que viria a vencer com uma das vitórias mais marcantes da política baiana. Em cada cidade, a mesma magia. E a campanha se agigantava com uma espontaneidade incrível. As pessoas diziam, depois das festas promovidas pelos adversários liderados pelo então ministro Antônio Carlos Magalhães, “já comi, já bebi, agora vou votar em Waldir”. E ele obteve 2.675.108 votos, quase um milhão e meio à frente de Josaphat Marinho.

Voltei a ver Waldir Pires já em seu gabinete de governador, no Centro Administrativo da Bahia. Lembro bem do momento, embora não recorde o que eu fazia lá. Esperavam na sua antessala um trio de deputados estaduais, incluindo o presidente da Assembleia Legislativa, Coriolano Sales. A certa altura, a porta do gabinete se abre e de lá vem sorridente Waldir. Cumprimenta cada um dos parlamentares, indica-lhes a porta de entrada e os acompanha, mas não sem antes, de forma cortês, didática, mas firme, dar uma lição aos ajudantes de gabinete. Diz-lhes, mais ou menos isso: “Meus filhos, em nosso estado republicano três poderes se harmonizam e se igualam na responsabilidade de manter a democracia. Estes senhores são deputados, foram eleitos como eu fui, representam o povo, representam a nós todos, são dirigentes da Assembleia Legislativa, sendo um deles seu presidente, assim, digo que eles não podem, em qualquer circunstância, ser deixados a esperar aqui fora”.

Daí em diante, só o vi mais uma vez no aeroporto de Salvador e todas as outras na TV, quando mostravam, ou sabia dele em matéria de jornais. A internet era incipiente. No ano de 2002, sentei-me ao lado dele, na casa do atual presidente estadual do PT, Everaldo Anunciação, em Itabuna, enquanto esperávamos a hora de seguir para um encontro com Lula, então presidenciável, em uma casa que o então prefeito Geraldo Simões tinha na praia de Luzimares, a 25 quilômetros do centro de Ilhéus. Aproveitei a meia hora de espera para perguntar sobre política e, em especial, para saber o que ele ainda pensava de José Pedral, com quem estava rompido havia cerca de dez anos.

O afastamento se deu ainda quando Waldir era governador, antes de sua saída para compor a chapa de Ulysses Guimarães à presidência. Pedral tinha sido um dos maiores responsáveis pelo sucesso da campanha de Waldir e contava que teria dele o apoio para ser candidato. Chegou a pontuar com 7% nas pesquisas. Mas, Waldir preferia Sérgio Gaudenzi, que foi seu secretário-geral na Previdência e era secretário da Fazenda na administração estadual. Mas, deu Nilo Coelho, que assumiu governo com a saída do titular, em maio de 1989. De Coriolano, decepcionado, Waldir teria dito: “Este rapaz é uma fraude”. Perguntado por mim sobre os dois, Waldir, devagar e respeitosamente, mas sem querer dar conversa, disse que os dois o decepcionaram. Não disse mais nada sobre Cori, mas sobre Pedral disse que jamais esperava que um de seus mais antigos aliados (desde 1958) tivesse mudado para o lado que sempre combateu, se aliando a ACM, em 1992, para vencer a quarta eleição que disputou.

A conversa não durou o tempo que eu queria. Logo seguíamos rumo a Luzimares, para conversar e jantar com Lula, no carro do publicitário Sérgio Guerra: Waldir no banco da frente; Jaques Wagner, eu e Eduardo Deda, que era prefeito de Aracaju e depois foi governador de Sergipe no banco de trás. Tocava Cássia Eller, e sua voz maravilhosa foi o assunto de boa parte da viagem, alternando-se com as chances de Lula se eleger.

Desde então, não mais encontrei com Waldir Pires em pessoa, só o acompanhava pela imprensa. Quis que ele fosse candidato ao Senado, em 2010. Imaginei que o PT poderia levar em conta aspectos históricos, morais e afetivos para lançá-lo e lhe dar a oportunidade de obter o mandato que não conseguiu em 1982 e que lhe foi roubado na eleição de 1994, quando Waldeck Ornelas virou senador, mas o partido preferiu Walter Pinheiro. Hoje, quando Waldir não mais está aqui para qualquer disputa, tendo exercido o seu último mandato na Câmara de Vereadores de Salvador, eu imagino que ele não precisava ser senador para confirmar sua grandeza, mas tenho certeza de que a Bahia e o Brasil teriam sido um pouco maiores de ele tivesse chegado lá.

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Para não dizer que não falei de ditadura

06 de junho de 2018, 23:39

Por Giorlando Lima – 

Quando o golpe civil-militar de 1964 aconteceu eu contava com tenros dois anos de idade na distante Jacobina onde nasci. Só soube bem depois que à medida em que eu crescia recrudescia a violência do que se revelou ser uma ditadura cruel. No dia 28 de março de 1968, quando se deu a morte do estudante secundarista Edson Luís, no restaurante estudantil Calabouço, no Rio de Janeiro, às vésperas dos quatro anos da implantação do governo militar, eu nem tinha começado a estudar ainda, o que começaria a fazer no ano seguinte, na Escola da Professora Pinininha.

Brasil, São Paulo, SP. Repressão militar contra estudantes. – Crédito:ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Codigo imagem:6025

O Exército dizia para onde as pessoas podiam ir

No ano anterior, estávamos em Salvador, onde meu pai, pedreiro, realizava reformas na casa para onde se mudaria o gerente da agência do Banco de Brasil de Jacobina, que estava sendo transferido para a capital. Em Salvador, eu me lembro de ver grupos de soldados do Exército e da Aeronáutica passando na rua a pé ou em jipes. A casa ficava na Rua Afonso Celso, na Barra, e, se não me engano, já havia ali perto o Clube Naval. Mas, ver homens fardados para cima e para baixo não significava nada para mim e meus cinco irmãos, com idades entre um e sete anos.

Passávamos o dia “aprendendo” o ofício de pedreiro, nos sujando de areia e cimento, sonhando com picolé Capelinha ou Kibon, que vendedores passavam na rua anunciando, e, às vezes, a gente podia ir ver o mar de perto. À noite, tentando adivinhar o que passava na TV da casa do vizinho. A janela do vizinho ficava aberta porque era pleno verão e nós aproveitávamos para “brincar de ver televisão”, sem poder ver ou ouvir direito: “Acho que é Roberto Carlos cantando”, dizia algum adulto que também não perdia a sessão. Mais do que isso não lembro nem sabia, quanto mais de ditadura ou conflitos entre os militares e quem discordava do regime que eles impuseram.

NÃO PODE FALAR

Em Jacobina, já maiorzinho, com uns nove anos, voltando da escola para casa parei na porta de um bar que existia na esquina da Rua Manoel Novaes com a Afonso Costa, onde hoje é a loja Mundo Encantado. Ali, alguns adultos falavam bem baixinho sobre não poder falar. Eu, ainda inocente, quis saber do que não se podia falar. “De nada; só que as coisas estão bem”. Eu insisti para saber o porquê de não poder falar. “Porque não pode. E não pergunte muito, você é criança, mas seus pais sabem que não pode”. Minha curiosidade acabou ali, pelo que não me lembro.

Tempos depois, vi a cena que começaria a responder às minhas perguntas. Era um domingo, dia em que a minha família acompanhava a minha mãe ao Rio do Ouro, para a lavagem das roupas da casa. Perto de onde ficavam muitas mulheres esfregando, torcendo, batendo, botando para quarar, enxaguando e colocando para secar peças coloridas e bem simples de roupas, lençóis e outros panos, morava a família de Marrudo, um libanês de quem até hoje não sei o nome. Ele era dono de um bar em frente ao Cine Payayá, na Rua Senador Pedro Lago. Lembro que um dos filhos dele se chamava Samir.

De repente, todo mundo estava olhando para a ponte de madeira que dava acesso à casa de Marrudo, que ficava dentro de um pomar, entre muitos pés de manga, especialmente. Lá estavam vários soldados, armados de metralhadoras e fuzis, apontando para o carro do dono da casa, que ameaçava avançar sobre os homens de verde. Mulher e filhos pediam desesperados que Marrudo obedecesse às ordens do oficial que comandava a tropa e descesse do carro. Perto de nós, no rio, dava para ver que gente chorava, alguns tremiam, meus pais nos chamavam para perto e pediam para que nada disséssemos. Daquele dia em diante comecei a entender porque os homens no bar me disseram para ficar calado. Até hoje não sei por qual razão o Exército foi à casa de Marrudo e o que aconteceu depois. Não lembro se ele foi preso, mas sei que sobreviveu.

Anos mais tarde, estive no bar de Marrudo com Cícero Mattos e pedimos uma dose de raiz (cachaça com raiz). O dinheiro só dava para uma, mas Marrudo deu as costas, entrou para a cozinha e nós viramos umas duas doses sem ele saber. No início dos anos 1980, Samir, um dos filhos de Marrudo assumiu o bar depois da morte do pai.

CLUBE DOS ONZE

Aos poucos, ainda ali entre os 10 e os 12 anos, fui absorvendo mais informações. Percebi que meu pai não estava do lado dos ditadores. Um dia eu o ouvi falar o nome de Brizola. Outra vez teria falado do Clube dos Onze. Uma das pessoas que mais ajudaram meu pai na profissão, um mestre de obras de nome David, tinha uma tendência esquerdista. Uni as informações que tinha e aprendi que meu pai também tinha, no que era possível a um pedreiro originário de um quilombo, ainda aprendendo a ler pelo Mobral no curso Madureza Ginasial. Fiquei sabendo que o Clube dos Onze se reunia na Sociedade União dos Artistas Jacobinenses (que foi a minha segunda escola, em 1970; palco de peças de teatro que fiz com Paulo Vieira, no final dos anos 1970; que depois viraria o bar de Nego das Neves e hoje é a CDL, em frente à Igreja da Conceição).

Os meus círculos de convivência eram limitados. Família e escola. Estudei em três escolas em Jacobina, duas já mencionadas e as Escolas Reunidas Luís Anselmo da Fonseca, onde fiz o quarto e o quinto anos, antes de entrar para o colégio (para uma incrível quinta série, de novo). Lá não se ouvia sobre ditadura, militares, guerrilha ou da reação de artistas, intelectuais e estudantes. Sei que cantar o hino nacional no intervalo e desfilar no Sete de Setembro, por exemplo, eram ações derivadas do regime, mas eu até gostava. O Hino da Independência ainda é o meu preferido.

Fui saber mais já em 1979. Meu amigo Cícero Mattos me contou. Ele estudava na Escola de Belas Artes da UFBA e fazia parte do Baldeação, um grupo de artistas grafiteiros que decidiu pintar alguns murais de protesto contra o preço e a qualidade do transporte coletivo de Salvador. Numa daquelas noites em que desenhavam um ônibus cheio num muro perto do Shopping Orixás Center, nas imediações da Rua Clóvis Spínola e Direita da Piedade, eles pararam porque não daria tempo de terminar. Deixaram o desenho incompleto e quando voltaram no dia seguinte para concluir foram presos. Outro grupo passou no local e pichou por cima do esqueleto do ônibus de Cícero e amigos a frase “terrorista é o governo”.

RECONSTRUÇÃO DA UNE

Foi com C. Mattos e o diretor teatral Paulo Vieira que retornei a Salvador, em 1979. Fomos para o 31º Congresso da União Nacional dos Estudantes, o “Congresso da Reconstrução”, que recebeu o nome de Honestino Guimarães, que tinha sido o último presidente eleito da UNE, em 1971. Honestino foi preso pelo Centro de Informações da Marinha (CENIMAR) quando era estudante e seu corpo nunca mais foi localizado. O governo apresentou sua certidão de óbito em 1996, mas sem causa mortis.

Na estrada, o ônibus em que viajávamos foi parado e policiais federais entraram e começaram a revistar as pessoas e suas bagagens. Na minha vez, o agente, com uma metralhadora atravessada no peito me pergunta o que vou fazer em Salvador e eu respondi que ia rever parentes. Afirmei que estava com amigos, sentados mais à frente. Ele mandou eu descer a mala do bagageiro. Era uma malinha preta de plástico mole e, antes de abrir, o policial quis saber o que eu levava. Ao ouvir que eram apenas roupa, escova, pasta de dentes, pente e uma Bíblia ele indagou se eu era crente – e eu era – e na sequência mandou eu fechar a mala e me dispensou da revista.

Eram os dias 29 e 30 de maio de 1979 e só em dezembro daquele ano eu ficaria de maior. Eu já sabia muito da ditadura, já trabalhava em um jornal de Jacobina (A Palavra) e lia muito. Temia que algo acontecesse durante os dois dias do congresso, ao mesmo tempo esperava um evento, um fato que pudesse virar história, como a de Cícero. O medo e a excitação se misturavam.

Como escreveu a jornalista Thais Sauaya Pereira (1959-2009) no site da Fundação Casper Líbero, em 2008: “Na ansiedade esfuziante, não diferíamos muito dos ônibus de excursão do ginásio, nem daqueles das torcidas de futebol. No entanto, tínhamos consciência de que aquele era um momento histórico: discutíamos com paixão o socialismo, a guerrilha, a ditadura, os rachas nas organizações clandestinas, os professores, as relações afetivas, o aborto, a falta de grana, o amor livre, morar sem os pais, as drogas, o cinema, Marx, Lênin, Engels, Trotsky, Stálin, Brecht, Chaplin, Glauber, Vittorio de Sica… enfim, o mundo”.

Eu era um nesta multidão (Congresso de Reconstrução da UNE 1979. Foto: Gildo Lima CPDOC/JB)

O congresso aconteceu no novíssimo Centro de Convenções, “gentilmente cedido” pelo governador biônico de Salvador, Antônio Carlos Magalhães. Os shows musicais e outras manifestações culturais ocorriam no Teatro Vila Velha. De vez em quando, uma correria, alguém gritava que a polícia chegara, íamos todos para o Passeio Público, ficávamos no meio da Avenida Sete de Setembro, todos prontos para o pior. Não havia selfies, mas os flashes espocavam e a história se fazia na minha frente, aos meus olhos de adolescente em transição da alienação para uma melhor compreensão do mundo em que eu vivia sem saber como era.

Felizmente, embora soldados, metralhadoras e viaturas nos olhassem com desdém e uma aparente vontade de descer a porrada, nada ocorreu de mais sério. Ou, felizmente, ocorreu: ouvir Diana Pequeno, Carlinhos Lira e Gonzaguinha cantar e falar dos seus sentimentos em relação àquele momento; ouvir Javier Alfaya, Ruy Cezar e um monte de gente inteligente, corajosa e engajada falar de nossas esperanças, de nossos riscos e da necessidade de não parar de lutar para salvar o Brasil da censura, da falta de liberdade e da violência. Daí em diante a consciência do que acontecia foi me ocorrendo. Acessei relatos sobre os desaparecidos; li os documentos que falavam da crueldade do regime; soube da juventude perseguida e morta.

Manuel Fiel Filho, operário morto pela ditadura em 1976

O silêncio diminuía nas casas e as lutas não cessavam nas ruas. Foi quando o general Ernesto Geisel foi entronado na presidência da República. Eu tinha sido batizado na Igreja Batista em 1973. E em 1979 eu começava a frequentar a Igreja Presbiteriana. Não nego que não foi complicado para mim acreditar que o general protestante não concordava com as atrocidades que se registravam. Ele demitiu o general Ednardo D’Ávila depois da morte do metalúrgico Manoel Fiel Filho, ele enfrentou Sílvio Frota, ele iniciou a abertura política, acenou pela volta dos políticos exilados. Passei a duvidar quando já era um adulto e agora não tenho nenhuma dúvida que Geisel não se diferenciou dos demais generais que supliciaram o Brasil por 21 anos.

ENFIM, AO ASSUNTO

Isso tudo que escrevi acima me veio sem eu perceber. Eu queria escrever sobre as pessoas de Vitória da Conquista que sofreram diretamente a opressão do regime militar, quem foi preso, quem morreu, quem ainda luta para que aquele período não volte. Recebi de um amigo no início desta semana a fotografia de um documento dos órgãos de repressão do regime militar sobre Élquisson Soares. Ele foi vereador, deputado estadual e federal e nesta condição foi um dos mais aguerridos e combativos parlamentares contra a ditadura. O registro histórico, que deverá estar em livro que o escritor Durval Menezes escreve sobre Élquisson, me instigou a realizar uma pesquisa para saber quem mais, além dele, foi vítima pessoal e direta da ditadura.

No artigo “O cerco dos fuzis na terra do frio”, publicado no Blog do Anderson, em 11 de agosto de 2014, o jornalista Jeremias Macário, lista, em ordem alfabética, os nomes das pessoas que foram detidas e presas em 1964, quando o Exército baixou em Vitória da Conquista para depor, com apoio da Câmara de Vereadores, o prefeito José Pedral Sampaio e “livrar a cidade dos comunistas”.

Foram presos, alguns com diferença de dias:  Alcides Araújo Barbosa (presidente do Sindicato dos Comerciários); Alender Santos; Altino Pereira (presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil); Anfilófio Pedral Sampaio (funcionário público e suplente de vereador, irmão de José Pedral); Aníbal Lopes Viana (jornalista e suplente de vereador); Atenor Rodrigues Lima, o “Badu” (comerciário); Camilo de Jesus Lima (escritor, jornalista e oficial do Registro de Imóveis que foi preso em Macarani e transportado para Conquista); Cláudio Fonseca (estudante, menor de quatorze anos e meio de idade); Edvaldo Silva (presidente da Associação dos Panificadores); Everardo Públio de Castro (professor e vereador); Érico Gonçalves Aguiar (agricultor); Flávio Viana de Jesus (marceneiro e diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, que não suportou as pressões e se entregou); Franklin Ferraz Neto (juiz trabalhista); Galdino Lourenço (motorista); Gilson Moura e Silva (radialista e membro do sindicato da categoria); Hemetério Alves Pereira (dono de livraria); Hugo de Castro Lima (médico); Ivo Vilaça Freire de Aguiar (funcionário público); Jackson Fonseca (rádiotécnico); João Idelfonso Filho (publicitário); José Fernandes Pedral Sampaio (engenheiro civil e prefeito); José Luiz Santa Isabel (bancário); Juracy Lourenço Neto (comerciário); Luis Carlos (bancário); Lúcio Flávio Viana Lima (bancário); Nudd David de Castro (filho do vereador Everardo Públio); Paulo Demócrito Caíres (estudante e presidente do Grêmio); Péricles Gusmão Regis (representante comercial e vereador), Raimundo Pinto (comerciante); Raul Carlos Andrade Ferraz (advogado e suplente de vereador); Reginaldo Carvalho Santos (bancário e diretor do jornal “O Combate”); Vicente Quadros Silva Filho (rádiotécnico).

Péricles Gusmão, morto na prisão em 1964

Destes 31 nomes, Péricles Gusmão morreu na cela, segundo a versão oficial suicidou-se por enforcamento, e o professor Everardo Públio foi o único condenado, tendo ficado preso por 15 meses.

Outras pessoas de Vitória da Conquista foram presas depois, em suas atividades fora do município, uma jovem conquistense foi assassinada. A estudante universitária Dinaelza Coqueiro, que decidiu enfrentar o regime como guerrilheira, foi morta no Araguaia e seu corpo enterrado na Serra das Andorinhas (PA). Ruy Medeiros, advogado e professor universitário muito respeitado em Vitória da Conquista, também foi preso. Duas vezes. Na primeira, em Salvador, ficou detido no DOPS por mais de oito horas. Na segunda, já formado em Direito, em 1973, exercendo cargo na administração de Jadiel Matos. Era maio e Ruy, depois de espancado, ficou dois dias preso em Conquista e depois transferido para Salvador, onde permaneceu na cadeia até agosto daquele ano.

O SUBVERSIVO VIGIADO

Élquisson Soares em 1972

Já Élquisson Soares foi preso em 1969, no Rio de Janeiro, onde estudava Direito na Faculdade Cândido Mendes, da qual foi presidente do diretório acadêmico.  O documento, cuja reprodução o BLOG publica, refere-se às atividades de Élquisson como estudante e advogado desde o início dos anos 1960, quando ele foi presidente da União Bahiana de Estudantes na Guanabara (extinta em 1964) e do Centro Cultural Joaquim Nabuco. Para o regime, Élquisson Soares era subversivo e revanchista (referindo-se à reação ao golpe militar). O documento em que o ex-deputado é classificado como perigoso para o regime foi enviado ao prefeito da época, Nilton Gonçalves, em 1972. Abaixo a transcrição do mesmo.

Reprodução da cópia autêntica do documento da ditadura sobre Élquisson

CONFIDENCIAL BRA-DF/C-RS. Nº 2.948/72

Referência: RESERVADO – SECRETO: Nº 1.573/72

Instrução Nº 197/72

O bacharel Élquisson Dias Soares, vulgo ‘Juquinha’, advogado (Vitória da Conquista – Bahia), é fichado nos Órgãos de Segurança Nacional – Departamento de Polícia Federal, S.N.I. (Serviço Nacional de Informações), etc., como elemento subversivo, comunista, revanchista, descontente, contestador do atual regime, motivos pelos quais já esteve preso no Rio de Janeiro, Guanabara e vive sob vigilância.

COLABORAÇÃO: – Portanto, tratando-se de elemento nocivo, prejudicial, nocivo à tranquilidade pública e à paz social – quaisquer atividades ou atividades subversivas e  revanchistas do mesmo, contestando o regime e atacando autoridades constituídas, funcionários e serviços públicos, deverão ser comunicadas à Polícia Federal, S.N.I e demais Órgãos da Segurança Nacional – com o necessário cuidado, secretamente , como dever cívico-patriótico do cidadão e das autoridades.

SILÊNCIO E AÇÃO: – Convém evitar toda e qualquer publicação sobre este assunto – confidencial, reservado-secreto – guardando sigilo, afim de não prejudicar a eficiência do trabalho de investigação que o caso exige.

CÓDIGO: 91-548/273-60. BRA-DF/C.RS

https://blogdegiorlandolima.com/2018/06/05/para-nao-dizer-que-nao-falei-de-ditadura/

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