Bíblia passou por ‘Photoshop’ no século XVI para agradar rei inglês, segundo pesquisador

31 de julho de 2020, 14:50

(Foto: Pixabay / Emphyrio)

homas Cromwell, autor de versão diferente de uma imagem, foi ministro chefe do rei inglês Henrique VIII, sendo uma figura-chave na Reforma Protestante que ocorreu na Inglaterra do século XVI.

Uma cópia da Grande Bíblia do século XVI dada a Henrique VIII foi manipulada por Thomas Cromwell, afirma o pesquisador israelense Eyal Poleg, da Universidade Queen Mary de Londres.

A cópia pessoal do rei da Grande Bíblia, que tem sido mantida na biblioteca do Colégio de São João na Universidade de Cambridge, Reino Unido, desde o século XVII, foi analisada com a ajuda de um microscópio digital e técnica de raios X por Poleg e pela pesquisadora sênior Paola Ricciardi para concluir que tinham sido feitas certas “manipulações” no livro.

“Foi realizado de forma tão profissional que são necessários um microscópio e uma boa fonte de luz para vê-lo”, explicou Poleg ao jornal Haaretz. “O que aconteceu no século XVI, na corte de Henrique VIII, se assemelha ao Photoshop de hoje.”

As escrituras foram dadas ao governante inglês, mas seu conselheiro real próximo, Thomas Cromwell, rompeu os laços com a Igreja Católica e criou a Igreja da Inglaterra. A primeira tradução da Bíblia hebraica, chamada de Grande Bíblia, foi então publicada em 1539, para ser distribuída às igrejas de todo o país e lida durante os serviços religiosos.

Segundo Poleg, “foi a primeira vez que todas as igrejas do reino foram ordenadas a comprar as Escrituras Sagradas em língua inglesa”.

Manipulação do retrato

Cromwell teve um papel importante durante o processo da Reforma Inglesa, e também foi imortalizado em uma das ilustrações das escrituras impressas. No entanto, o cientista observa que ele pode eventualmente ter ficado cauteloso com sua representação no livro, que é explicado pelo fato de que existem algumas diferenças significativas entre seu retrato na versão da Bíblia distribuída às igrejas e o que foi dado ao rei, impresso em livro de 1539.

Na versão original, o conselheiro político foi retratado como dando cópias do livro sagrado ao povo comum, algo que ele poderia ter temido que não seria aprovado pelo rei, nota Poleg. Assim, na versão das escrituras dadas a Henrique VIII, a que foi mantida na biblioteca da universidade, a imagem foi redesenhada para mostrar Cromwell recebendo a Bíblia do rei.

“Cromwell, com seus sentidos políticos aguçados, mudou a imagem para agradar Henrique VIII”, diz Poleg. “Ele reconheceu o risco que enfrentava e a falta de desejo do rei em apoiar a distribuição das escrituras para o povo comum.”

Outras manipulações alegadamente incluíram as mudanças feitas em uma ilustração de uma mulher, alegadamente para torná-la mais identificável como Jane Seymour, a esposa “amada” de Henrique VIII, que morreu logo após ter dado à luz seu filho, o rei Eduardo VI.

“Com a ajuda de análises avançadas, descobrimos que seu vestido era colorido com listras prateadas, e sua cabeça era decorada com uma folha dourada, o que a tornou uma figura mais distinta na ilustração”, diz o historiador, argumentando que o gesto foi aparentemente feito com o mesmo propósito, para agradar o rei.

Apesar de tudo, Henrique VIII acabou mais tarde retirando seu apoio em distribuir a Grande Bíblia entre o povo comum, e aprovou mesmo leis para impedir as mulheres e as pessoas das classes mais baixas de lê-la. Ele também ficou desapontado com seu principal ministro Cromwell, que foi declarado traidor depois que o rei se casou com Ana de Cléves. Cromwell foi decapitado em 1540, depois de menos de 10 anos no cargo.

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