ARTIGO: O encontro das águas: ou o Rio Itapicuru e o Rio do Ouro

20 de fevereiro de 2018, 16:55

Há algum tempo, pretendia escrever sobre os dois rios de Jacobina: o Itapicuru e o do Ouro; rios, aliás, que fizeram parte da minha infância e a deixaram mais rica, porém, desde que voltei a morar na cidade, em maio último, esses dois importantes cursos não passavam de pequenos córregos, onde mais corria lama do que exatamente água, o que me deixava triste, pois era como se eles não existissem mais e apenas corressem majestosos nas minhas lembranças. Entretanto, nestes últimos dias, o Rio Itapicuru e o Rio do Ouro se mostraram novamente vigorosos nos seus leitos, como no passado. O brilho e a intensidade das suas correntezas têm sido tanto que vi me encherem os olhos de água também. Estes dois rios são como velhos amigos, que só agora reencontrei.
Na minha vida nômade, pude conhecer os grandes rios Negro e Solimões, bem como o belo Tapajós e o ousado Tocantins, mas a admiração ficou mesmo com os dois primeiros. Aqueles gigantes descem dos Andes e percorrem milhares de quilômetros até se encontrarem em Manaus. É um lindo espetáculo! Enquanto o Negro tem águas negras e douradas, o Solimões as tem marrons e barrentas. Quando se encontram, formam o imenso Amazonas; mas as águas dos dois não se misturam imediatamente; elas relutam e somente vão se entender a alguns quilômetros depois. Intimamente, sempre comparei esses dois grandes rios, e também o encontro das águas, aos singelos rios Itapicuru e do Ouro. Estes dois foram o Negro e o Solimões dos meus verdes anos.
O Rio do Ouro seria o Negro, pois suas águas são parecidas, ou seja, escuras; o Itapicuru seria o Solimôes, de águas aparentemente barrentas. Embora diferentes, tenho igual carinho pelos dois, porque juntos me proporcionaram momentos prazerosos. No Itapicuru, havia a ‘Prainha’ e a ‘Picula’; no Rio do Ouro, era a ‘Macaqueira’, um pequeno lago dourado, incrustado no meio das serras, de águas congelantes.
Naquele tempo, os clubes da cidade já possuíam lindas piscinas, mas acessíveis a poucos. O jeito então era ir em busca dos rios, que representavam verdadeiros oásis para a gente. Assim, os rios Itapicuru e do Ouro, tendo sido os rios que realmente vivi, e também por serem os primeiros que aprendi a amar, vão estar sempre no meu coração, não como rios mortos, mas como gigantes caudalosos, de águas puras e cristalinas, como nos dias da minha infância.

Jacobina, fevereiro de 2018

Marcelo Rodrigues

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