Antônio, João e Pedro agora são Luan, Gustavo e Safadão

23 de janeiro de 2018, 10:27

A descaracterização das festas no período junino que iniciam com as comemorações aos santos Antônio (13), João (24) e Pedro (29), todas ocorridas no mês de junho, foi um dos assuntos mais discutidos dos últimos dias, mais especificamente na região nordeste do país, onde as tradições da fogueira e do forró são mais arraigadas.

O abandono da tradição tem sido tão criticado quanto o uso do termo forró em eventos de músicas pop, axé, arrocha e sertanejo; sem contar os megas cachês pagos a artistas de estados brasileiros onde a cultura nordestina na verdade é mais discriminada do que valorizada. Muitos dos cantores ‘produzidos em laboratórios’ se quer conhecem termos como arrasta-pé, xote, xaxado e baião, típicos e enraizados na cultura nordestina. Uma inversão de valores sem tamanho.

Gosto não se discute, isso é fato, mas contribuir com a extinção de uma tradição centenária, um dos principais patrimônios artísticos do país, que teve e ainda tem nomes que contribuíram e ainda contribuem com a formação cultural e literária do brasileiro através de suas músicas e melodias como Jackson do Pandeiro, Pinduca, Dominguinhos, Sivuca, Oswaldinho do Acordeon, Trio Nordestino, Luiz Gonzaga, Jorge de Altinho, Alcimar Monteiro, Targino Godin, Adelmário Coelho, Edgar Mão Branca, Flávio José e tantos outros, chega a ser um crime.

Todos precisam ocupar seus espaços, mas denominar um evento em pleno dia do São João em uma cidade localizada no semiárido nordestino como ‘Forró do Sertão’, onde as principais atrações são cantores como Anita (música pop), Ivete Sangalo (axé), Léo Santana (pagode) e Gustavo Lima (sertanejo), chega a ser uma piada de mau gosto, para não denominar de outros adjetivos não convencionais e politicamente corretos. Um ‘Forró das Caraíbas’ deixa de ser tão importante quando milhares de reais oriundos do poder público são pagos para que a principal atração do que deveria ser ‘um rala buxo’ é a cantora sertaneja, de origem goiana, Marília Mendonça.

Todos os municípios de todas as regiões do país possuem festas tradicionais, sejam para comemorar suas emancipações administrativas, seus padroeiros ou até mesmo eventos que passaram a se tornar tradicionais por motivos específicos, como a Festa da Uva em Caxias do Sul (RS), a Oktoberfest em Blumenau (SC), Cavalhadas de vários municípios de Goiás e outras. Na Bahia, além do São João, muitas cidades realizam micareta, carnaval e as chamadas ‘festas da cidade’ onde se comemora o aniversário ou a profanidade do dia do padroeiro. Para preservar a história e, principalmente, valorizar as culturas populares, os recursos públicos devem ser destinados a apoiar os eventos que preservem suas tradições, inclusive prestigiando as atrações locais, quando houverem e não para incentivar o fim em detrimento de um incerto começo.

Por Gervásio Lima

Jornalista e historiador

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